“Não tínhamos direitos humanos”

Opinião

Rodrigo Martini

Rodrigo Martini

Jornalista

Coluna aborda os bastidores da política regional e discussão de temas polêmicos

“Não tínhamos direitos humanos”

Na semana passada, realizei uma das mais singulares entrevistas desde o meu início nesta intrigante profissão de jornalista. Foram duas horas na companhia de Marianne Schulze-Sutthoff, ou irmã Praxedes. Com 15 anos, ela viu iniciar a II Guerra Mundial, na Alemanha. É uma das testemunhas do horror. E nesses 120 minutos de conversa, uma sombria queixa: “Não tínhamos direitos humanos.”
“Frau” Marianne acompanhou a ascensão do nacional-socialismo, mais comumente chamado de nazismo. Era um partido político de extrema direita na Alemanha, ativo entre 1920 e 1945. Acompanhou, também, a astúcia de Adolf Hitler ao aproveitar-se do frágil momento dos alemães naquele período pós primeira guerra e tomar o poder com discursos nacionalistas.
Marianne lembra tudo que lhe foi retirado durante os anos de 1939 e 1945. A liberdade de expressão. A religião. A autonomia. A cultura. Os amigos. A coragem de protestar. Os direitos humanos. “A vida não tinha qualquer valor”, pontua ela. “pois não tínhamos direitos humanos”, reforça a lúcida professora, hoje com quase 95 anos de vida.
Eles não tinham direitos humanos. Isso é interessante. Entre as principais queixas de quem sobreviveu ao momento mais desumano da nossa sociedade contemporânea, faz questão de repetir e repetir: “Não tínhamos direitos humanos.”
Talvez por estarmos vivendo um período de grandes questionamentos acerca dos direitos humanos tal frase tenha ainda mais impacto. Talvez, não. Tem! Afinal, os relatos iam muito além dessa lamentação. Ela trazia detalhes mórbidos com muito mais dor, dissabor e compaixão. Marianne, afinal, trabalhou na Cruz Vermelha durante os combates. Ela viu as piores cenas que o ser humano é capaz de montar.
Entre as mais diversas percepções durante o agradável bate-papo, pareceu-me claro que Marianne tem mais propriedade para falar de direitos humanos do que determinados atores do cenário político atual. Pareceu-me claro que os debates acerca desse patrimônio mundial chamado “direitos humanos” estão um tanto quanto fora de órbita.
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Talvez estejamos diante de uma mera falha na interpretação dos termos por parte de uma determinada parcela da sociedade, que aplaude frases da natureza de “direitos humanos: esterco da vagabundagem”. Eu custo a acreditar que essas mesmas pessoas não seriam solidárias à Marianne e sua queixa pela ausência de tais direitos. Algo está distorcido.
Os direitos humanos são amplos. Civis e políticos. Como alguém pode considerar um “esterco da vagabundagem”? É direito à vida, à propriedade, liberdade de pensamento e expressão, crença e igualdade formal. São os direitos econômicos, sociais e culturais, de acesso ao trabalho, à educação, saúde, previdência social. À moradia e à distribuição de renda, da mesma forma. Há também os direitos coletivos. E são tantos. Tão necessários. Do consumidor, por exemplo. Direitos ambientais…
Os direitos humanos, iniciados com os religiosos na Idade Média, aprofundados com a Revolução Francesa, e declarados universais pela Organização das Nações Unidas em 1948, ainda diante – e em razão – das sequelas da sangrenta guerra enfrentada por Marianne e tantos milhões de soldados e civis, não são o “esterco da vagabundagem.”
Algo está, propositalmente ou não, deturpado. Muitos estão confundindo “impunidade” com “direitos humanos.”


Moro desvenda mais uma!

O midiático juiz federal Sérgio Moro desvendou mais uma. Ao falar sobre o auxílio-moradia dele – mesmo sendo proprietário de imóvel na cidade onde atua –, enfim desnudou a imoralidade desse penduricalho. Segundo Moro, a “ajuda” de quase R$ 5 mil é aceitável pois eles, os magistrados, estariam prejudicados pela defasagem do salário. Ou seja: ele admite que a destinação de verbas públicas tem lei e aplicação distintas. E admite ser um dos beneficiados!


Sartori e as lombadas

Li em algum espaço. Mas duvido. O governador José Ivo Sartori estaria agendando uma visita a Estrela para inaugurar a provável instalação de lombadas eletrônicas na rodovia Rota do Sol. Com todo respeito ao nobre chefe do Executivo estadual e toda a equipe de assessoria, mas inaugurar instalação de um redutor de velocidade em um ponto com tantos outros problemas de insegurança é no mínimo ingenuidade.


Governo quer liberar comércio aos domingos e feriados

A administração de Lajeado encaminha nos próximos dias ao Legislativo um projeto de lei para autorizar de forma irrestrita a abertura do comércio aos domingos e feriados. A proposta está pronta desde o ano passado, e repousa, neste momento, na mesa do secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agricultura (Sedetag), Douglas Sandri.
Sobre os termos, o agente público é enfático: “Libera tudo. Mas, respeitando as leis trabalhistas, óbvio.” A lei federal dá essa autonomia ao município, e hoje já existe um decreto em Lajeado permitindo liberdade para determinados tipos de comércios. Ainda de acordo com Sandri, horas extras, descanso semanal e outros benefícios estão assegurados. “E ninguém é obrigado a abrir.”


Tiro curto

– O Codevat vai cobrar dos candidatos ao governo. Segundo a presidente, Cíntia Agostini, o conselho já inicia os trabalhos para formalizar um documento regional de reivindicações e demandas;
– Ainda sobre o Codevat, Cíntia Agostini não deve enfrentar muita resistência para ser novamente aclamada presidente, nas eleições de março;
– Na câmara de Lajeado, uma reunião interna entre os vereadores terminou em discussão forte e culminou, até, com pedido de licença. Entre os assuntos, a votação das chapas para a mesa diretora. Segundo informações, pode ter havido falta de decoro parlamentar. Vamos aguardar!
– Funcionários do Correios relatam dificuldades para entrega de cartas no Loteamento Popular 5. Tudo em função do grande número de cachorros nas ruas;
– Ontem, por unanimidade, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu manter a validade da lei que obriga as operadoras de plano de saúde a ressarcir o SUS quando o segurado é atendido em hospitais públicos;
– Em Brasília circulam: o responsável pelo Setor de Projetos Especiais de Lajeado, Isidoro Fornari, e os secretários de Saúde e da Fazenda de Estrela, Elmar Schneider e Henrique Lagemann;
– Está marcada para o próximo dia 22 a audiência pública para apresentação do novo Plano Diretor de Lajeado. O evento ocorre às 19h, no Salão de Eventos da prefeitura.

Boa quinta-feira a todos!

“O homem que não conhece a dor, não conhece a ternura da humanidade.”
Jean-Jacques Rousseau

 
 
 

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