Passados 130 anos do começo da tradição do kerb em Marques de Souza, a festa que celebra o aniversário da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil (IECLB) foi sendo adaptada à atualidade. Se antigamente a comunidade recebia familiares distantes com três dias de celebração, agora o evento ocorre em um único dia. Mesmo reduzido, ainda é uma marco de união comunitária no município.
Natural de Linha Bastos, a aposentada Iliane Stumm, 66, conhece de perto essa tradição. Houve épocas em que havia baile no domingo e na segunda-feira; depois, no sábado e no domingo. Cerca de 30 anos atrás, recorda, os bailes ocorriam no domingo e na segunda à noite e as casas recebiam visitas de domingo a terça-feira. Há 14 anos, foi definido que a atração ocorreria apenas no sábado.
Até alguns anos, a banda que animava o baile esperava o público na porta da igreja para, ao término do culto, conduzir as pessoas ao salão. “A primeira coisa que os imigrantes alemães fizeram foi a escola e o coral, e depois a comunidade. Construíram a igreja e, quando ficou pronta, fizeram a festa. A partir daquele momento, surgiu o Kerb”.
As gildas
Iliane é uma das voluntárias que confecciona gildas. São bonecas feitas a partir de garrafas PET, muitas com cabeças recortadas de imagens de revistas. Escondem por baixo do vestido artesanal um número. As pessoas escolhem uma gilda e pagam a quantidade de cervejas indicada na boneca. Segundo Iliane, em uma época em que o salão não tinha acabamentos, as gildas eram penduradas nas vigas de madeira. Hoje são distribuídas em uma árvores feita com galhos secos.
A aposentada também coordenada o grupo de danças folclóricas. São 60 pessoas, mas apenas dez jovens se apresentam no dia e puxam a polonese. Uma das dificuldades, conta, tem sido reunir a gurizada em época de férias, quando muitos estão na praia. “Os jovens crescem e vão embora, vão estudar. No meu olhar, o canto coral, a música e a dança precisam começar nas escolas.”
Além da apresentação, eles também faz um pequeno desfile antes do jantar, anunciando o evento pelas ruas da cidade em um carro decorado. “Na caminhonete sempre vão os mais jovens, e eles adoram isso”, comenta. Esse ano, o desfile inicia às 18h.
O jantar-baile de kerb ocorre amanhã, 3, no salão da União Centenária. Uma novidade deste ano é o sistema de climatização. A animação fica por conta da banda Contato Show. Os ingressos estão à venda na Fruteira Mertz e na Farmácia Farmaclínica. Antecipados com jantar custam R$ 27 e sem jantar, R$ 10. Na hora, serão vendidos a R$ 30.
Vida em comunidade
Por muito tempo, a aposentada Terezinha Hagemann, 70, organizva o kerb em sua casa na segunda-feira. Recebia parentes de Santa Cruz do Sul, Estrela, Vera Cruz, e também do Paraná. “Tinha comes e bebes o dia inteiro”. Conta que antigamente se fazia muita comida de panela, com animais abatidos no interior e as mulheres se uniam para intensificar a produção de cucas.
A celebração era regada a chope e cerveja. Terezinha estima já ter reunido, em uma única ocasião, cem participantes em casa, localizada no centro. Além do tradicional chucrute, os anfitriões preparavam conservas de ovos, pepinos, rabanete e tudo que fosse possível preparar com antecedência. “Antigamente só se oferecia o que se fazia em casa”, comenta. A tradição foi interrompida há poucos anos, devido à morte de um familiar.
Segundo o pastor Paulo Augusto Daenecke Filho, a tradição germânica tem o objetivo principal de reunir famílias. Como antigamente as viagens de ônibus ou, em tempos remotos, a cavalo eram demoradas, não ocorriam com tanta frequência, por isso, os parentes aproveitavam para prolongar a visita.
A IECLB foi a primeira da cidade, inaugurada em 24 de fevereiro de 1889. Porém o jantar de kerb é realizado sempre dez dias antes do Carnaval, para coincidir com o período de Quaresma. “O resgate da vida em comunidade é importante. Que cada um possa dizer: que bom que sou dessa comunidade, dessa igreja e que participo dela com amor.”
Gesiele Lordes: gesiele@jornalahora.inf.br