Reconhecido em todo mundo por fazer uma agricultura de alta produtividade baseada em tecnologia, o país tornou-se um dos líderes mundiais na produção e exportação de alimentos. “Nas últimas duas décadas, aumentamos a produção de grãos em cerca de 230% com apenas 50% na expansão da área plantada”, destaca Édson Bolfe, doutor e pesquisador da Embrapa.
A agricultura digital é uma das saídas para atender as novas tendências?
Édson Bolfe – Convivemos com novos padrões de consumo e um mercado cada vez mais exigente quanto à sustentabilidade. A agricultura digital é uma das alternativas para resolver a equação. Mais do que um arcabouço tecnológico, trata-se de um conceito interdisciplinar e transversal, não limitado a culturas agrícolas, regiões ou classe de produtores. Em um mundo cada vez mais dinâmico, a agricultura digital tem a possibilidade de se utilizar dos avanços em tecnologias da informação e comunicação (TICs), internet das coisas agrícolas (IoTA), agricultura de precisão, automação, robótica e técnicas de bigdata. Também permite novos enfoques no planejamento da produção, manejo, colheita, comercialização e transporte de grãos, frutas, hortaliças, carnes, leite, ovos e fibras.
Quais serão os desafios da agricultura no futuro?
Bolfe – A modernização da agricultura aumenta substancialmente sua eficiência produtiva. Em análise feita pela Embrapa, a tecnologia foi identificada como o fator mais importante no aumento da produção nas últimas quatro décadas no Brasil. Contribuiu com aproximadamente 60% do valor bruto da produção agropecuária, e o somatório dos demais fatores (terra, mão de obra e recursos financeiros) respondeu por 40%. Porém o aumento do consumo de alimentos, fibras e energia, diante do crescimento da população, da expectativa de vida, e da renda tem impulsionado os mercados consumidores gerando um grande desafio, que é produzir mais alimentos de qualidade e com menor uso de recursos naturais. Para isso, os produtores e profissionais do campo necessitam de constantes atualizações e intensificar o trabalho interdisciplinar a fim de gerar novas soluções no dia a dia.
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De que forma é possível transformar um agricultor em um gestor na sua propriedade?
Bolfe – No dia a dia do agricultor, há diferentes níveis de soluções tecnológicas, algumas mais simples, porém, com grande impacto na produção. Como saber reconhecer necessidades e realizar atividades do plantio, tratos culturais, tempo ideal da colheita e a forma de comercializar. Ou seja, essas práticas influenciam na gestão e no trabalho nas propriedades. Muitas decisões sobre adoção de tecnologias implicam em escolhas que devem ser avaliadas por ele como gerente do negócio, levando em consideração aspectos econômicos. Diante desse contexto, o agricultor-gestor necessita responder a várias questões para garantir uma produção adequada. Uma das principais tarefas é a observação quanto às práticas agrícolas adotadas e seu processo de decisão. Saber combinar as atividades de acordo com a disponibilidade de terra, mão de obra, terra, capital, tecnologia, maquinários e as condições ambientais é essencial. O agricultor necessita conhecer detalhadamente os recursos naturais disponíveis para sua produção.
Considerações finais
Bolfe – Felizmente, o Brasil, além de possuir solo e clima propícios para a agricultura, também é fértil na produção de tecnologias agrícolas inovadoras e conta com a competência dos seus agricultores. Essas condições têm levado o país a estabelecer novos sistemas de produção intensificados e sustentáveis. A ampliação da pesquisa agrícola associada ao empreendedorismo dos agricultores é um caminho fundamental para tornar a agricultura fator ainda mais determinante para o desenvolvimento do país.