Brasa garantida para o churrasco

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Brasa garantida para o churrasco

Os vales do Taquari e Caí concentram mais de 1,5 mil produtores de carvão vegetal. Juntos têm 3,1 mil fornos. A produção anual passa de 42,1 mil toneladas. Desafio é adequar as estruturas às exigências ambientais e melhorar o preço para garantir a sucessão da atividade na agricultura familiar

Brasa garantida para o churrasco

É provável que o carvão vegetal usado na sua churrasqueira venha de propriedades como a de Ademar Brinckmann, de Poço das Antas. Por mês, ele vende mais de 8,5 mil quilos de carvão para restaurantes, churrascarias e mercados da região e Porto Alegre.

De acordo com dados da Emater baseados em 2014, em Poço das Antas, existem 173 produtores, 253 fornos e uma produção anual acima de 3,5 mil toneladas.

No interior, as encostas dos morros estão repletas de acácia-negra, lenha da qual é produzida a maior parte do carvão. Na propriedade de Brinckmann, o trabalho das máquinas é intenso. Enquanto uns funcionários embalam, outros descarregam o caminhão.

Ele cuida dos sete fornos e negocia o produto de outras famílias para atender a demanda da empresa. Entre as dificuldades, destaca o alto custo do papel, dos impostos e do diesel. “Há alguns anos, para percorrer 650 quilômetros, gastava em média R$ 290. Hoje esse valor triplicou, sem falar das exigências ambientais que castigam os pequenos produtores”, reclama.

Aponta para a necessidade de uma legislação mais justa para normatizar o setor . “Entendemos a necessidade de se proteger o meio ambiente, mas não podemos simplesmente criar normas sem conhecer a realidade”, sustenta.

Brinckmann vai aderir à sugestão da prefeitura e instalar filtros nos fornos. “É uma tentativa boa para diminuir a poluição. A fumaça não faz mal a ninguém. O problema é o cheiro e o incômodo que gera”, diz.

O preço está aquém do esperado. O quilo é vendido a R$ 1,50, já embalado, pronto para revenda. Com a concorrência e a falta de mão de obra, Brinckmann não projeta novos investimentos. “Precisamos reduzir custos e aumentar a produtividade”, diz.

Alternativa para diversificar

Na propriedade do vizinho Fábio Batzlaff Hardt, são mais de 12 hectares de área reflorestada. A lenha abastece dois fornos. Por mês, são vendidos até dois mil quilos para uma empresa de Brochier. Lá o produto é embalado e segue para os mercados e churrasqueiras do país e até para o exterior. Aliás, os mais de 1,5 mil produtores dos vales do Taquari e Caí ajudam a assar mais de 500 mil churrascos por ano.

Hardt se criou ao lado dos fornos de carvão. Aos 15 anos, iniciou a produção por conta própria. “Cada metro cúbico de lenha rende até 145 quilos”, conta. No entanto, o negócio já foi mais lucrativo. Por quilo, recebe em média R$ 0,75. O valor está estabilizado faz pelo menos três anos. “Para ser rentável, deveríamos ganhar R$ 0,95”, calcula.

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Segundo ele, o processo de recolher, encher o forno e queimar dura até quatro dias. Cada estrutura tem capacidade de alojar 7 metros cúbicos, cuja produtividade passa de mil quilos. “O ideal seria empacotar e fazer a venda direta. No entanto, é um processo caro e tem muita concorrência. Com pouca produção, nem vale a pena iniciar”, comenta.

A falta de mão de obra para ajudar na retirada da lenha o fez desistir de ampliar a área cultivada. Para se manter na lavoura, investe na produção de leite, 60 litros por dia, e faz fretes com um caminhão.

Hardt produz em média dois mil quilos por mês. Atividade ajuda a diversificar a renda familiar

Hardt produz em média dois mil quilos por mês. Atividade ajuda a diversificar a renda familiar

Economia crescente

Segundo o assistente técnico regional na área de Carvão Vegetal da Emater/RS-Ascar, engenheiro agrônomo Fábio Encarnação, nos vales do Taquari e Caí, a atividade abrange cerca de 1,5 mil agricultores. São 3,1 mil fornos em atividade. O preço ao produtor está na média de R$ 0,70 o quilo para carvão de acácia e R$ 0,55 para carvão de eucalipto.

A produção chega a 42,1 mil toneladas. Para este ano, a Emater projeta realizar um diagnóstico completo do setor. De acordo com Encarnação, produzir carvão sempre foi visto com uma atividade poluidora, que utiliza mata nativa e explora o produtor.

No entanto, destaca que a realidade é diferente. “Aprimoramos a parte legal nos últimos anos, com o objetivo de levar ao mercado um produto de mais qualidade e reduzir o impacto ambiental causado pela fumaça lançada na atmosfera”, explica.

Cita as resoluções do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seapi) – 315/2016 e 365/2017, que atualizam e orientam a forma de produzir carvão.

Também destaca o trabalho de orientação desenvolvido pela Emater com os produtores. São abordados aspectos como tipo de madeira a ser utilizada, umidade ideal, tempo de queima ou carbonização, instalação de chaminé para saída da fumaça, entre outros. “Ao colocar o cano, se aumenta em 30% a produção e diminui em até 60% a quantidade de fumaça”, aponta.

Conforme Hergemöller, as chaminés reduzem em 60% a emissão de fumaça e aumentam em 30% a produção

Conforme Hergemöller, as chaminés reduzem em 60% a emissão de fumaça e aumentam em 30% a produção

Maior produtividade

Outra mudança percebida é o aumento da produtividade. Em um corte de madeira, cuja idade varia entre 10 e 15 anos, a produção por metro cúbico saltou de 90 para 140 quilos.

Cita a importância da pesquisa científica para aprimorar a cadeia produtiva carvoeira.

Conforme Encarnação, os agricultores estão dispostos a aprimorar o trabalho, levar ao mercado um produto bom e causar o mínimo de incômodo ao ambiente e aos vizinhos.

Para ele, a sociedade está mudando seus conceitos quanto à atividade. Isso graças à divulgação de todo processo, desde o plantio da árvore, a carbonização até a chegada do produto ao mercado. “Ajuda a manter o negócio e a fazermos o nosso famoso churrasco”, comenta.

De acordo com o engenheiro agrônomo Vilson Hergemöller, uma das dificuldades para expandir a área cultivada com acácia-negra ou eucalipto é a falta de mão de obra e de máquinas para auxiliar do plantio até a colheita. “Nossas terras são íngremes e o valor da madeira está baixo. Por isso, poucos se interessam em replantar ou ampliar a área”, comenta.

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