Estimulada pela divulgação de pesquisas sobre os benefícios da bebida e a crescente procura por parte dos consumidores, a família Paludo de Marques de Souza apostou no beneficiamento das mais de 40 toneladas de uvas colhidas em Linha Bastos.
Conforme Basílio, 68, responsável pelo pomar, as primeiras mudas foram cultivadas em 2003, quando as frutas eram vendidas in natura. Em outubro de 2008, quando o filho Leandro sofreu um acidente e teve uma perna amputada, surgiu a ideia de beneficiar a matéria-prima.
A produção de vinho, antes destinada para o consumo da família, aumentou. Passou de 200 litros para cinco mil litros. Em 2010, a família iniciou a produção de suco integral, sem adição de açúcar, conservante ou corante.
Hoje é o carro-chefe de vendas. Além de destinar para mercados regionais e parte do estado, o suco abastece os refeitórios da Marinha do Brasil. “Evidencia nossa qualidade”, afirma Basílio.
Enquanto colhe os cachos, Basílio destaca o rigoroso controle em todas as etapas. “Garante o equilíbrio necessário entre açúcar e acidez”, diz. Preferência no paladar dos brasileiros, o suco de uva 100% ganha cada vez mais espaço na mesa dos consumidores pelas características únicas, que vão além da cor, aroma e sabor. Segundo Leandro, a bebida é muito nutritiva e promove benefícios à saúde.
Estudos sobre a prevenção de doenças cardiovasculares e do envelhecimento precoce, atestam que o consumo do suco integral diminui o risco de enfermidades neurológicas e cancerígenas. Melhora da cognição, auxílio na redução de peso e aumento no desempenho de esportistas são algumas vantagens já comprovadas por pesquisadores de todo o mundo. “Ele pode ser consumido sem restrições, por todas as faixas etárias”, afirma.
Para incrementar as vendas, tanto das famílias como de outras que mantém agroindústrias na região, abriram uma loja de vinhos, sucos e produtos coloniais no centro de Lajeado. Outro projeto é iniciar a fabricação própria de espumantes, processo que hoje é terceirizado.
Sucessão encaminhada
Ao lado de Basílio, o neto Mateus, 16, escuta atento os ensinamentos do avó. Estudante do curso técnico Tecnologia em Viticultura e Enologia, mesma formação do pai Marciano, ele pretende dar continuidade aos negócios. “É preciso buscar conhecimento para conseguir atender às exigências do mercado e dos clientes. Assim é possível melhorar a qualidade e apostar em novos produtos. A diversidade garante mais estabilidade financeira”, afirma.
No período de férias e aos fins de semana, Mateus auxilia na colheita, poda e tratos culturais do pomar. A paixão herdada dos pais e antepassados pela vitivinicultura fez Mateus permanecer na lavoura. “É um mercado promissor”, aponta.
Pesquisa teve papel decisivo
O consumo de suco de uva no país ainda é baixo. Cerca de 0,7 litro por pessoa ao ano. O de vinho é alcança cerca de odis litros per capita no mesmo período. Para comparar: o refrigerante tem uma média de consumo de 30 litros per capita, uma lavada. Por essa razão, a indústria está convencida de que a melhor forma de estimular o consumo é investir em pesquisa e na divulgação dos benefícios dos derivados da uva.
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De acordo com o presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e também presidente da Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul (Fecovinho/RS), Oscar Ló, as pesquisas científicas apontam o suco de uva como um alimento de grandes propriedades nutritivas e com a possibilidade de agregar valor ao produto. “Precisamos intensificar a divulgação dos benefícios. Além de saudável, valoriza a fruta e ajuda a manter as famílias no campo”, destaca.
Ló reforça a importância de a entidade apoiar pesquisas que atestem os benefícios da uva e derivados à saúde. Cita que o Ibravin tem como um dos pilares o estímulo científico. “Há alguns anos a ciência vem comprovando que a uva é a superfruta da saúde. O consumidor não busca apenas um produto de qualidade. Ele procura uma bebida que agregue na sua saúde e que também contribua com aspectos sociais”, observa.
Responsável por 90% do abastecimento nacional da bebida, o RS colocou no mercado cem milhões de litros em 2017, com um faturamento projetado pelo Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) em R$ 800 milhões. O preço da garrafa de um 1,5 litro varia entre R$ 11 e R$ 14.
A estimativa para a safra deste ano é de 600 milhões de quilos de uva, com destinação de 50% do total para a elaboração de suco.
Saúde no copo
A ciência comprova por meio de estudos que o vinho e o suco são grandes aliados da saúde. A biomédica Caroline Dani, em pesquisa inédita, atestou que o consumo de suco de uva 100% durante a gestação melhora o desenvolvimento cognitivo da criança. Aumenta a capacidade de aprendizagem, pensamento, linguagem, percepção, memória e raciocínio dos filhotes.
Caroline demonstrou que o consumo da bebida durante a gravidez ajuda a proteger a criança do surgimento de células cancerígenas e alterações celulares que podem levar ao aparecimento do câncer na fase adulta das mulheres. “A descoberta reforça o potencial do suco de uva como nicho fortificado de mercado que vem ganhando projeção por seus benefícios à saúde”, destaca.
Além disso, o consumo da bebida ajuda a prevenir doenças cardiovasculares, o mal de Alzheimer. Também combate o envelhecimento precoce, auxilia na perda de peso, redução do colesterol ruim e pressão arterial, além de ser uma fonte de vitaminas e minerais.