O perigo da era pós-verdade

Opinião

Adair Weiss

Adair Weiss

Diretor Executivo do Grupo A Hora

Coluna com visão empreendedora, de posicionamento e questionadora sobre as esferas públicas e privadas.

O perigo da era pós-verdade

As notícias falsas invadiram nossas vidas e ameaçam o jornalismo, a democracia e o futuro da sociedade organizada.
Não é de agora que as mentiras são temidas pelo seu poder de persuasão e influência. Entretanto, nunca na história humana, as falsas verdades foram tão apregoadas, multiplicadas e tiveram tanto eco.
No mundo tecnológico atual, qualquer “idiota” pode postar uma falsidade na internet, viralizar e tornar-se “herói”, da noite pro dia, diante do bando crescente de alienados e multiplicadores de curtidas sem ler e sem capacidade de interpretar.
O escritor Umberto Ecco sabia bem o que dizia ao afirmar que a internet dá voz a um “bando de imbecis”.
Uma mentira repetida várias vezes pode se tornar uma “verdade”. Exemplos do passado não faltam, ainda mais quando adentramos na história política brasileira ou mesmo mundial. O agravo é a era tecnológica, que potencializa essa possibilidade.
O “veneno” espalhado nas redes sociais, o acesso sem limites e a falta de percepção crítica do indivíduo colocam em risco não apenas o jornalismo, mas também a democracia e, por consequência, o nosso futuro como sociedade organizada.
O duopólio Google e Facebook ameaça a sustentabilidade dos players jornalísticos mundo afora. Grandes conglomerados de mídia estão à mercê destes dois grupos dominadores para alcançar audiência no digital.
Não é muito diferente nos veículos menores, os quais têm seu maior acesso por meio das redes sociais e de buscas no Google. Isso coloca em xeque a saúde financeira dos veículos de comunicação.
Sem imprensa não haverá democracia. Em entrevista no caderno alusivo aos 15 Anos do A Hora, publicado em julho/17, o premiado jornalista, Carlos Wagner, reforçou sua convicção pelo jornalismo de qualidade e, especialmente, dos veículos regionais.

Nossa capacidade de interpretação não pode ser a de uma criança. Precisamos dar o exemplo. Estimular nos mais jovens o exercício da dúvida e do questionamento. E quando isso já não faz parte do nosso discernimento, então, é hora de repensar alguns comportamentos...

Nossa capacidade de interpretação não pode ser a de uma criança. Precisamos dar o exemplo. Estimular nos mais jovens o exercício da dúvida e do questionamento. E quando isso já não faz parte do nosso discernimento, então, é hora de repensar alguns comportamentos…


O escritor e jornalista Eduardo Lins corroborou. “Nenhuma democracia se faz sem imprensa local ou regional. Jornais e veículos independentes são essenciais”.
Alberto Dines dizia que “o segredo da democracia norte-americana é que toda cidadezinha tinha um bar, um xerife e um jornal. E que por isso a democracia se fortaleceu ao longo dos séculos”. Na nossa região poderíamos incluir uma igreja, pelo espírito de cooperação que se estabeleceu no entorno das comunidades religiosas.
A eleição de Donald Trump é em grande parte fruto das mentiras da internet. Hoje, a maioria dos americanos não acredita em uma palavra que diz o presidente norte-americano, em virtude de seu comportamento bizarro e antidemocrático, com forte ataque aos órgãos de imprensa.
Pois, com a proliferação das fake news, o jornalismo de qualidade se ergue fundamental para não esvaziar o senso crítico na sociedade, e para essa não ser refém da tirania dos pseudo salvadores.
[bloco 1]
Sem uma imprensa livre e forte, ficaremos entregues às paixões e extremismos propagados por quem não tem responsabilidade democrática. Sem falar da anarquia virtual a que somos expostos nos últimos tempos.
Em uma sociedade sem democracia não floresce a criatividade coletiva, nem a liberdade de expressão e muito menos a evolução do conhecimento compartilhado.
Muitos vociferam contra a mídia. Outros a ignoram e atribuem tudo que precisam saber às buscas na internet. Esquecem de observar a silenciosa e sorrateira alienação provocada pelo efeito manada das redes sociais e pelos gigantes detentores de dados. Esses sim manipulam e controlam, faz tempo, a vida do indivíduo e de sua família.
Em uma sociedade crítica, esclarecida e fundamentada por princípios éticos não prospera a pós-verdade. Mas, quando incapazes de fazer sinapses, perdemos o discernimento sobre como e do por que das coisas. Então estamos à beira de um colapso.
Ainda que meia dúzia ganha muito dinheiro em detrimento à falta da percepção de milhões, não devemos esmorecer. Pois, se jogarmos a toalha e acharmos que é assim mesmo, então estaremos entregues à própria sorte.
Ler para uma criança, praticar o exercício saudável de conteúdos relevantes e necessários é o mínimo que devemos fazer. Do contrário, corremos o risco de sofrer um apagão de desenvolvimento cognitivo da sociedade.
Quem lê, sabe.


A morte vale R$ 600 mil?

O imbróglio judicial que se estabelece em torno da vítima de descarga elétrica coloca em litígio o município de Lajeado e uma família que perdeu um pai, o qual deixou viúva e um filho de 8 anos. O município alega exagerado o valor do pedido de indenização. Para a família, perder uma pessoa nessas circunstâncias não tem reparos.
Um terceiro envolvido é o Sesc, promotor do evento, quem apenas utilizou a estrutura que deveria estar em condições adequadas de uso. Deve ser isentado da responsabilização, ao que tudo indica. A disputa judicial está em fase inicial.


Coragem para dizer não

Entre as andanças pelo Vale, encontro de tudo. Esta semana me chamou atenção como o prefeito de Marques de Souza, Edmilson Döor, gere a cidade. Com um secretário e apenas 26 cargos de confiança, ele conseguiu mudar o panorama de pedinte para realizador. Com quase dois milhões de reais em caixa, preparou o município para um novo ciclo de obras e investimentos. Mas nada de assistencialismo.
Prático e sem rodeios, o prefeito faz o simples e necessário: gastar menos do que arrecada. E com um detalhe: não leva ninguém para “compadre”. Nem o próprio partido. Sensato.

Bom fim de semana a todos!

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