Interno do Colégio Militar de Porto Alegre durante a infância, Omar Torriani via no cinema uma forma de diminuir a saudade de casa. Aos 11 anos, o guri de Cruz Alta fugia da escola para se aventurar em sessões matinê de cinemas da capital, como o Avenida, Baltimore 1 e 2, Bristol e aqueles do shopping João Pessoa. Hoje, aos 58 anos, o morador de Estrela é um dos idealizadores do Clube do Cinema do Vale do Taquari.
Trata-se de um grupo de cinéfilos que, desde setembro do ano passado, se movimentam para promover sessões de filmes não contemplados pela grade comercial. Por enquanto, cinco pessoas formam o clube de forma mais ativa. No Facebook, a página @clubedecinemavt serve como meio de comunicação entre os interessados na sétima arte.
A rede Arcoplex, responsável pelo cinema no Shopping Lajeado, chegou a ceder uma sala para que o grupo passasse produções menos conhecidas pelo grande público. Porém, explica Torriani, as distribuidoras não cooperaram. “Eles não têm o menor interesse, porque é apenas uma exibição por semana”. Antes da negativa das empresas, o grupo se programava para exibir Com Amor, Van Gogh, em dezembro.
Passado o período de férias, o grupo deve voltar a contatar a Arcoplex, solicitando que representantes da própria rede contatem as distribuidoras. Segundo Torriani, a sessão extra teria cobrança de ingresso e seria exibida na segunda ou na terça-feira, gerando movimento em dias tradicionalmente tranquilos no cinema local.
Torriani teve a inspiração enquanto visitava o filho em Florianópolis (SC). Lá o cinema Paradigma Cineart tem uma programação alternativa.
Consultor de marketing, Torriani diz que alguns de seus clientes estão interessados em patrocinar materiais com a programação, no caso de realização das exibições.
Envolvimento da comunidade
Não está descartada a possibilidade de as sessões serem seguidas de pequenos debates sobre a obra, mas Torriani afirma que o objetivo não é mostrar filmes sobre os quais “ninguém entende o que o autor quer dizer”. A ideia é sair da lógica bem versus mal. “A gurizada não conhece filmes antológicos como E o Vento Levou. Vejo jovens que não conhecem o trabalho do Chaplin. Temos filmes antigos muito bons.”
A fotógrafa Carolina Leipnitz, 35, de Lajeado, também integra o clube. Ela já participou de um movimento parecido na região e diz que o maior obstáculo é engajar a população local. “Não é um movimento que se faz sozinho, e nós, os organizadores, não fazemos para nós mesmos, é para a comunidade.”
Outra parceria, com o Sesc Lajeado, é a grande aposta do grupo. Uma vez por semana, o auditório da entidade deve se transformar em um pequeno cinema. A ideia é aproveitar filmes do acervo próprio já existente. Como os direitos autorais já foram pagos pelo Sesc, não haverá cobrança de ingressos.
Gesiele Lordes: gesiele@jornalahora.inf.br