Estátua da Liberdade e Times Square, nos EUA; Coliseu e Vaticano, na Itália; templo Sagrada Família e Camp Nou, na Espanha; Partenon e Estádio Olímpico de Atenas, na Grécia; mesquitas de Istambul, na Turquia; Sydney Opera House, na Austrália; Museu da Bomba Atômica de Nagasaki, no Japão; e Singapore Flyer, a maior roda gigante do mundo, na Ásia. Esses são apenas alguns dos pontos turísticos que o casal de dançarinos Chirlei Losekann, 31, e Wagner Luceno, 46, já conheceu desde 2013, quando começou a dar aulas em cruzeiros.
De lá para cá, os moradores de Lajeado visitaram mais de 60 países nos cinco continentes. Foram quatro períodos de oito meses em alto-mar. Os luxuosos navios chegam a ter 18 andares, com cinco mil passageiros e 1,3 mil tripulantes. Entre tanta gente, de todas as partes do mundo, os dançarinos aprenderam com fluência o italiano e o espanhol, aperfeiçoaram o inglês, já conseguem se virar em alemão e até arranham o mandarim.
Apesar de toda a experiência de vida e as centenas de fotografias ao redor do mundo, a rotina de um tripulante não tem nada a ver com férias. “Às vezes, ficávamos acordados até as 2h e no outro dia começava tudo de novo às 8h. Se engana quem acha que a vida de tripulante é igual a de passageiro. Nunca vai ser”, afirma Luceno.
Quando a maior parte do público é de suecos, alemães e austríacos, as aulas são mais tranquilas. “Eles preferem beber, jogar cartas e ir no cassino”, observa Chirlei. Quando predominam latinos, sabem que o cruzeiro será de muita dança. Em uma aula com alunos chineses, o casal decidiu ensinar maçanico e pezinho. O vídeo foi enviado do MTG e fez sucesso na internet.
Resgate em alto-mar
O diário de bordo dos moradores do bairro Conventos é recheado. Logo na primeira viagem, uma volta ao mundo que partiu da costa brasileira, o navio quase virou em um desvio. O radar não identificou um barco artesanal de madeira em pleno Mediterrâneo, entre a Turquia e a Croácia. Chirlei lembra que estavam no elevador quando sentiram o corpo deslizar em direção à saída.
“Ficamos muito perto da água. Chegamos no limite de encostar a parte aberta na água”. Era noite de festa de gala e os funcionários tiveram que voltar ao salão para acalmar os passageiros, que se agitavam em busca de coletes salva-vidas.
No ano seguinte, o navio saía da Europa em direção ao Caribe quando foi alertado pela Guarda Costeira sobre um veleiro que precisava de resgate. A embarcação levava oito espanhóis, participantes de uma regata. No percurso, algo quebrou o leme e causou uma rachadura no casco. O navio voltou um dia e uma noite de viagem e, quando chegou, os competidores estavam à deriva havia quatro dias.
Os passageiros vibravam a cada espanhol que conseguia saltar do bote ao navio. Todos foram salvos. “A gente se emociona quando lembra do desespero das pessoas para chegar no navio”, comenta Luceno.
Piratas e furacão
Também em 2014 aconteceu o episódio em que Chirlei admite ter sentido medo. O cruzeiro estava saindo dos Emirados Árabes quando, na altura do Golfo de Áden, o comandante alertou sobre a possibilidade de ataques piratas da Somália. Passageiros e tripulação foram proibidos de ocupar as áreas abertas, onde ficaram apenas os seguranças. À noite, as luzes seriam apagadas e durante o dia o navio passaria dos habituais 50 km/h para a velocidade máxima: 90 km/h.
Como o uso de armas é proibido, os fortes jatos d’água eram a única forma de combater um ataque, o que não aconteceu. “Nós conseguimos ir em uma área de onde enxergamos três lanchas sondando”, lembra ele.
Em geral, o período contínuo de navegação é de dois ou três dias no mar e cinco em oceanos. Mas em 2015, quando iam do Havaí para o Japão, o navio teve que ficar uma semana em alto-mar.
No terceiro dia, o comandante usou o sistema de alto-falante para avisar que estavam na rota de colisão do furacão Dolphin. Mesmo desviando do tufão, a embarcação pegou dois dias de águas agitadas, com ondas gigantes. Ninguém saía das cabines e as refeições eram levadas até os passageiros, pois era difícil manter o equilíbrio na embarcação.
Casamento no Havaí
Luceno e Chirlei embarcaram na primeira viagem como amigos e saíram como namorados. Diante das constantes brincadeiras dos outros tripulantes sobre casamento, ele respondeu aos colegas que casaria quando fosse ao Havaí. Não imaginava é que esse seria um dos destinos do cruzeiro do ano seguinte. Ele cumpriu a palavra.
Com a desculpa de uma festa temática no navio, convenceu Chirlei a comprar um vestido branco. Auxiliado por outros marujos, encontrou um padre e organizou uma cerimônia na praia, durante o pôr- do-sol.
O religioso fez a cerimônia em inglês e o chefe da equipe leu o mesmo texto em português. Diante de tripulantes e turistas que paravam para espiar, os namorados trocaram alianças (compradas no México). “Não tem validade legal, mas, para nós, foi o nosso casamento”, comenta Chirlei.
No fim do ano, o casal deve fazer mais uma edição do curso de formação para trabalhar na área. Também contam as aventuras em palestras. “Essa troca de experiência não tem dinheiro que pague”, resume Luceno.
Gesiele Lordes: gesiele@jornalahora.inf.br