Após 15 anos de crescimento e harmonia, Cooperativa Languiru revive clima hostil na alta cúpula
A maior cooperativa regional decidiu, na terça-feira, destituir seu Conselho Fiscal. A Languiru de Teutônia substituiu os três membros por decisão dos quase 300 associados presentes na assembleia extraordinária.
O placar pela destituição foi de 189 votos favoráveis contra 110 contrários à saída dos conselheiros.
Antes da votação, o vice-presidente, Renato Kreimeier, se solidarizou com os fiscais e prometeu renunciar ao cargo, caso fossem destituídos. Foi uma última tentativa para manter os conselheiros. Eles estavam em conflito com o Conselho de Administração, liderado pelo presidente Dirceu Bayer.
O movimento da troca é reflexo das dúvidas e suspeitas lançadas sobre a administração da Languiru. Em 2017, o Conselho Fiscal propôs uma auditoria paralela para apurar condutas e negociações da atual diretoria. Uma delas diz respeito aos subsídios do presidente e vice. Outras envolvem negócios da cooperativa com fornecedores.
Na época, o Conselho de Administração e o presidente se opuseram ao pedido, com o argumento de já haver uma auditoria independente com reconhecida credibilidade. Admitiram falhas, mas entenderam que uma segunda auditoria tumultuaria a operação interna, provocaria um clima ainda mais desconfortável e sem precedentes.
O Conselho Fiscal não se convenceu. Decidiu ingressar na Justiça. Perdeu em primeira instância e recorreu na sequência, cujo resultado ainda aguarda.
O ambiente parecia sob controle até poucas semanas, quando o assunto parou na Câmara de Vereadores de Teutônia. Incomodado com a repercussão na imprensa, o Conselho de Administração cobrou providências em relação à postura dos fiscais. Exigiu que a “roupa suja fosse lavada em casa”.
O vice Kreimeier não escondeu seu apoio aos fiscais, inclusive, participou de algumas articulações. O posicionamento ampliou a cisão na alta cúpula. Conselheiros e o próprio presidente passaram a acusá-lo de conspiração.
As diferenças se acentuaram. Em pelo menos dois encontros recentes com associados, vice e presidente protagonizaram rusgas por meio de recados indiretos um contra o outro, nos seus discursos.
O clima insustentável se ampliou com a destituição dos fiscais. Agora, Bayer e Kreimeier convivem em salas – lado a lado –, mas não se suportam. Ainda que tentem transparecer certa dose de diplomacia, estão divididos. A sinergia está quebrada.
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O desafio é administrar o conflito e saber até onde é possível. Ainda que o vice tenha perdido poder, ele segue na articulação paralela “em nome dos interesses dos associados”, como ele mesmo diz. À coluna, respondeu que não articula nada. “Diferente de quem manipula e confunde os associados, eu não fiz eleição para destituir conselho, não sou a favor do show de ditadura nem da falta de transparência”. Admitiu estar pensando em sair da vice-presidência, mas não antes dos avais estarem em dia. “Sou avalista de R$ 300 milhões e tenho responsabilidade com isso. Isso resolvido, posso tomar posições diferentes”, concluiu.
Bayer não está menos incomodado. Seu desconforto se soma aos enormes desafios da gestão e do mercado. Em entrevista ao jornal A Hora, nesta semana, e à coluna, na sexta-feira, confirmou preocupação com a falta de sintonia. Foi cauteloso e não atacou o vice.
Ratificou disposição para implantar uma nova governança na cooperativa, semelhante ao modelo adotado pelo Sistema Sicredi: uma diretoria política e um corpo executivo operacional, para evitar situações como as vividas atualmente.
A ideia é sensata e urge. O histórico de conflitos da Languiru voltou a assombrá-la. Estava adormecido até pouco tempo, com um período harmonioso entre Bayer e Kreimeier, desde 2002. Na época, à beira da falência e prestes a ser vendida, a Languiru se dividia em frangalhos e conflitos. Os dois assumiram para iniciar um ciclo vertiginoso e bem-sucedido, elevando a Languiru à terceira maior cooperativa do segmento no país, com um faturamento de R$ 1,2 bilhão.
Hoje, importantes e sábias decisões se impõem. A recente aproximação com a Dália de Encantado é um dos movimentos mais assertivos. Bayer está decidido pela formatação de parcerias com a co-irmã. Isso pode colocar um fim nas plantas fabris ociosas de ambas e abrir negócios comuns para enfrentar a concorrência multinacional. Leia-se: Lactalis inaugura em breve nova planta fabril em Teutônia.
Neste momento, a coisa mais certa a fazer é restabelecer a unidade de pensamento do corpo diretivo e operacional. As rusgas devem dar lugar ao espírito coletivo e à responsabilidade de quem representa 6,1 mil associados. Não respeitar isso é uma afronta aos estatutos e princípios do cooperativismo. Resistir ou sair da zona de conflito é uma decisão que depende da capacidade de resiliência.
Espero que os líderes da Languiru tenham sabedoria. É o que os associados e a região também esperam.
Quebra de paradigmas
A mudança de atitude depende de romper convicções. Enquanto persistir o paradigma velho, não se estabelece nenhum novo. Este será o assunto para os painelistas do Negócios em Pauta, na quarta-feira, dia 17. Entre eles, estará a presidente da Minuano Alimentos, Margareth Schacht Herrmann, companhia que sofreu profundas transformações após sua venda a um grupo chinês. O prefeito de Santa Clara do Sul e o presidente do Sescon.RS completam o trio.
Articulação nos bastidores
O calvário do Shopping Lajeado pode estar com os dias contados. A Justiça concedeu liminar para um dos sócios minoritários (paulista) intervir na administração do complexo. Atirado às céfalas, o empreendimento corria o risco de perder importantes estabelecimentos comerciais e sucumbir como negócio. As novas tentativas de restabelecer a confiança estão próximas do fim. Assim que vencida a etapa judicial, outro árduo processo começa: o da recuperação da imagem.