A violência é a tônica dos primeiros dia do ano em Encantado. Em dez dias, duas perseguições policiais deixaram bandidos mortos e presos e espalham medo entre a população. Na semana passada, três criminosos morreram e um foi preso durante confronto com a BM em Linha Chiquinha.
Nessa terça-feira à noite, três homens foram detidos após uma tentativa de homicídio em Muçum. Na fuga, invadiram uma residência, roubaram um carro e celulares, antes de serem pegos pela Brigada Militar, na comunidade de São Roque, Encantado.
Roseli Conceição, 43 tomava chimarrão com a filha, Débora Amaral, 24, e mais duas crianças, quando foi avisada por um vizinho sobre a presença de três homens armados subindo a estrada vicinal de São Roque. “Quando fui olhar pela porta, eles já desceram gritando que era um assalto.”
As duas ainda tentaram correr para casa e fechar a porta da frente, mas quando perceberam já estavam cercadas pelos criminosos, que deram um tiro de advertência. “Estavam com pistolas e pelo menos uma arma longa.”
Aparentando nervosismo, o trio exigiu dinheiro, celulares e a chave do carro de Débora, um Uno Mille verde. “Não tinha nenhum dinheiro na casa, então eles pegaram os nossos celulares e começaram a xingar quando dissemos que a chave estava na casa dos fundos, onde mora minha filha.”
Um dos criminosos acompanhou Débora até a casa enquanto os outros dois vigiavam Roseli e as crianças. Depois de pegar a chave, mandaram a família se trancar no banheiro e tentaram sair com o carro, que não pegou.
“Como não tinha tranca, logo saímos do banheiro e vimos eles empurrando o carro em direção à estrada”, afirma. Ao perceber a dificuldade para fazer o carro ligar, a família fugiu para dentro do mato, com medo de que a quadrilha voltasse.
“Gritei para o meu cunhado, que estava pescando no rio, mas logo vi a poeira do carro pela estrada e voltamos para casa”, disse. Em seguida, relata, uma viatura da Brigada Militar passou. Roseli e Débora pararam os policiais e avisaram sobre o roubo do veículo.
Nesse momento, o cunhado de Roseli subia pela estrada, também com um Uno verde, e acabou parado pela guarnição. “Nós tivemos que correr até eles para avisar que não era esse carro. Liberaram meu cunhado e voltamos para casa.”
Quase ao mesmo tempo, às margens da ERS-332, a proprietária de um bar atendia clientes quando um homem chegou cambaleando, caiu e pediu ajuda. “Ele dizia ter sido baleado por engano e pediu para ligar para o Samu.”
Depois do contato com o serviço de emergência, conta, ele pediu um telefone para falar com a mãe. Em seguida, uma viatura da polícia chegou ao local e chamou o ferido pelo nome. O homem era Luis Fernando Lopes Dias, 29.
Natural de Sapucaia do Sul e conhecido das autoridades policiais, Dias faz parte da mesma quadrilha que invadiu a casa de Roseli e Débora em São Roque. Mais cedo, eles tentaram assassinar um morador de Muçum.
Os quatro homens em um automóvel Prisma invadiram a casa de Noeli Antônio da Silva, 45, no bairro São José, em Muçum. Dizendo ser da Polícia Civil e portando um distintivo, atiraram contra a vítima, que teria revidado, acertando Dias e dois pneus do carro.
A quadrilha fugiu em direção ao interior de Encantado. Abandonaram o veículo ao se depararem com uma viatura do Pelotão Rodoviário da Brigada Militar. Houve troca de tiros e os bandidos fugiram para o mato.
Dias se jogou no Arroio Jacaré e buscou abrigo num bar, enquanto os outros três subiram a estrada de São Roque. O trio roubou o Uno da família, abandonou o veículo em Linha Divertida e continuou a fuga a pé, mas foi encontrado por policiais no galpão de uma propriedade.
Lúcio Paulo Alexandre da Silva, 24, e Cristian Zauza, 31, foram presos. O terceiro homem fugiu em direção ao mato e não foi mais encontrado. Com eles, foram apreendidas duas pistolas 9mm, uma espingarda calibre 20, dois coletes balísticos, um distintivo da Polícia Civil e munições. A vítima do atentado em Muçum foi transferida para o hospital de Canoas.

Perseguição à quadrilha teve participação de policiais militares de Muçum, Encantado, Coqueiro Baixo, Arroio do Meio, Arvorezinha, Vespasiano Corrêa, do Pelotão de Operações Especiais (POE) de Lajeado e do Pelotão Rodoviário de Encantado
Medo na comunidade
A ação dos bandidos trouxe pânico para os moradores de São Roque. Para Roseli e Débora, a comunidade que parecia tranquila quando chegaram, 11 anos atrás, não é mais segura. “Nunca pensei que isso aconteceria aqui. Agora dormimos com medo”, disse Débora.
Para a dona do bar, uma das principais preocupações é com relação ao grande número de fotos compartilhadas por aplicativos de celular. “As pessoas não podem ficar divulgando, porque não aparecem apenas os bandidos, mas as pessoas que estavam ao redor também. Assim, eles podem nos identificar.”
Morador de São Roque desde 1955, Artur Pedro Gianezini, 82, estava em casa quando viu os homens armados passarem pela estrada. “Um deles me viu e fez sinal para ficar quieto.”
O idoso se trancou na residência e ficou ouvindo a movimentação de veículos da polícia. Segundo ele, a comunidade sempre foi pacata, com índice de violência próximo a zero. “Sempre deixei a casa aberta e nunca me roubaram nada.”
Para Soraia Gianezini, 44, a preocupação aumenta diante do ocorrido na semana passada, quando três criminosos foram mortos pela BM em comunidade próxima. “Ficamos com medo, pois os criminosos podem aparecer em qualquer lugar hoje em dia.”
Primeiro caso
Na quarta-feira da semana passada, 3, três criminosos foram mortos e um foi preso pela Brigada Militar em um cerco na localidade de Linha Chiquinha. O fato aconteceu após denúncia de que o grupo estava a bordo de um automóvel Fox efetuando disparos para o alto no bairro Navegantes.
Os policiais encontraram o veículo na ERS-130, onde aconteceu o primeiro confronto. A viatura da BM foi atingida com tiros, mas nenhum soldado ficou ferido e os criminosos escaparam. Nas proximidades do trevo do Peteba, na mesma rodovia, houve um segundo confronto. Os bandidos fugiram em direção a Linha Chiquinha, onde abandonaram o veículo e se embrenharam no mato.
O terceiro tiroteio foi próximo a um paredão, quase na divisa com Muçum, e deixou três criminosos mortos. O quarto integrante do grupo tentou pular de uma altura de cerca de 30 metros, mas ficou preso em árvores e acabou pedindo socorro a um helicóptero da BM.
Thiago Maurique: thiagomaurique@jornalahora.inf.br | Colaboração: Gisele Feraboli