“O homem de responsabilidade política não mente: inventa a verdade.”
José Cavalcanti, citado em Folclore Político 2, livro de Sebastião Nery
O inacreditável presidente Michel, sem temer a realidade do dia a dia, presenteou brasileiros e brasileiras com esta pérola: “Está mais barato viver no Brasil”. Como o vossa excelência é mestre na mistura de alhos com bugalhos para confundir a opinião pública, visitei o sítio do IBGE para conferir a suspeita boa-nova. E não deu outra. A autoridade ateve-se a um dado positivo – alimentação – como se fosse o todo. Meia verdade. Com base no IPCA, vestuário aumentou 2,55%, habitação 6,68%, enquanto combustível e energia saltaram 14,41%. O pesado saco natalino ainda aninhou encarecidos planos de saúde, energia elétrica, educação etc. etc.
BURACO NEGRO. Depois de comparar o dito com o que faltou dizer, vem a pergunta: “Por que distorcer os fatos e comemorar a insuficiência?” A explicação só cabe na semântica dos privilegiados de Brasília, que pouco servem e vivem de se servir de 207 milhões de vulgos. Nova Bréscia reivindica o título, mas a capital nacional da mentira é aquele deserto de escrúpulos cravado no coração do Planalto Central. De especialistas em corromper ética e caráter, produtores de tramoias travestidas em métodos para administrar a coisa pública. No espaço rarefeito onde flana o inexplicável Gilmar Mendes, Michel Temer e seus pares elaboram ficções – da prometida ponte para o futuro, vingou o esforço único pelo poder – blindados por Romero Jucá, mestre em sangria, e Carlos Marun, o truculento. Enquanto a Lava-Jato escorre para o ralo sob risos contidos. Essa corte de selenitas da Praça dos 3 Poderes dissemina exemplos funestos para palácios estaduais e prefeitura municipais da federação de mentirinha. Protegida por cartões corporativos, “tá’ nem aí” para o endividamento crescente da plebe.
Com a devida licença metafórica da astronomia, Brasília é um buraco negro. Tudo engole e destrói. Ou com a permissão da teoria de Stephen Hawking, é um fenômeno capaz de criar o universo paralelo que premia espertos e seus alienígenas.
RECADO. De Noel Rosa para malandragem política nacional: “Caros. Em 1935, desentendi-me com Wilson Batista pela apologia ao malandro contida no samba Lenço no Pescoço, criado por ele. Compus, então, Rapaz Folgado. Por fim, encerrei a polêmica assim: “Quem é você que não sabe o que diz?/Meu Deus do Céu, que palpite infeliz!…”.
O recado é fictício, mas a obra dos versos acima chama-se Palpite Infeliz e chegou até aqui como defesa da retidão contrária ao comportamento maroto da época. É a trilha para o cidadão do Brasil real, que trabalha, não usa navalha e tem família e tralha e tal. Pessoa comum, muito longe de ser um exemplo infeliz.
TEMPO. Culturas estabelecem-se sobre convenções. À medida que são entendidas, consolidam as sociedades preponderantes. Entender o tempo é fundamental para compreender a natureza e sincronizar atividades essenciais à evolução. Então, o homem mede o tempo e escreve a história; projeta o amanhã e avança ao futuro. Neste domingo, comemora o encerramento de 2017 do calendário gregoriano. Mais importante ainda é respeitar os 5778 anos completados pelos judeus, a perseverança dos 4715 dos chineses e admirar os 1938 dos hindus. Merecer a riqueza da diversidade para ser mais humano.
Boas festas!
“Mas o malandro pra valer/
– Não espalha/Aposentou a
navalha/ Tem mulher e filho e
tralha e tal/ Dizem as más
línguas que ele até trabalha…”
Homenagem ao Malandro, música de Chico Buarque