O título de Capital Nacional do Canto Coral ao município foi oficializado pelo governo federal nessa semana. O reconhecimento foi publicado na edição dessa sexta-feira, 22, do Diário Oficial da União, após sanção do presidente da República. O projeto de lei tramitava no Congresso desde 2013.
Mais de 50 corais atuam em Teutônia, incluindo grupos comunitários, de escolas, entidades, igrejas e famílias. Há grupos mistos, bem como exclusivos de homens ou de mulheres. Estima-se que o município tenha mais mil coralistas. Num total de cerca de 27 mil habitantes, a quantidade significa um cantor para cada 27 pessoas. Existem ao menos 15 coros com mais de 100 anos.
Tradição herdada dos imigrantes alemães, a expressão artística é mantida graças ao empenho dos adoradores do canto, com o objetivo de preservá-lo enquanto característica do município que carrega o lema de Cidade que Canta e Encanta. Com cerca de 140 anos de existência na região, são muitos os desafios para o canto coral se perpetuar.
Pela média de idade dos integrantes dos grupos, existe a estimativa informal que, de cinco a dez anos, cerca de metade dos coros deixe de existir. O reconhecimento a nível nacional é um estímulo para que a arte ganhe novos adeptos e seja apropriada pelas novas gerações.
De acordo com a presidente da Associação dos Coros de Teutônia (Acote), Rosita Schneider, o sentimento gerado com o novo título é de “muita felicidade”, junto com o “aumento da responsabilidade” para que o município se mantenha como referência na arte. “O reconhecimento veio com a tradição, e a gente tem a intenção de dar vida longa ao canto, para que continue levando muita alegria e cultura para as pessoas”, afirma.

Com quase 60 anos como coralista, Krützmann guarda lembranças de sua trajetória
Origens
Regente do coral municipal faz nove anos, o maestro Martin Altevogt explica que a tradição na região de Teutônia iniciou junto com a chegada do imigrante alemão, em 1825. “Quando chegaram, eles trouxeram na bagagem apenas a bíblia, o livro de cantos e o catecismo”, comenta. Segundo Altevogt, a principal atividade social praticada pelas comunidades eram os momentos religiosos nas igrejas, as danças folclóricas e o canto.
A tradição do canto coral está vinculada à Igreja Luterana. No período da reforma protestante, Martin Lutero provocou a reformatação dos cantos nas igrejas, que eram feitos de costas para o público e em latim. O líder reformista propôs que as músicas fossem entoadas em alemão e de frente aos fiéis, como forma de aproximar a igreja do povo. Sendo o Vale do Taquari um das regiões mais protestantes do Brasil, o costume se desenvolveu com destaque em Teutônia.
O maestro conta que, no período inicial da colonização, os coros funcionavam informalmente. A partir da realização dos bailes de corais, os grupos passaram a se organizar mais. Regentes profissionais foram contratados e, diante dos exemplos das outras localidades, novos grupos foram criados para a participação das mulheres, em conjuntos femininos e mistos.
Qualificar o legado
Altevogt explica que diversas ações são desenvolvidas para que o costume seja mantido e atraia novos adeptos. Nos últimos anos, ele cita o projeto Estudos Musicais, em 2012, que proporcionou aulas sobre teoria musical aos coralistas e regentes. Em 2014, foi implantado o Pronatec de Regência Coral, destinado à formação de novos regentes.
Neste ano, a administração municipal, em conjunto com a Associação de Coros, desenvolveu o projeto Encantando Gerações. O programa realizou atividades integrando os corais comunitários e as escolas, por meio de seminários, concertos didáticos e oficinas para regentes e estudantes. Cerca de R$ 100 mil foram repassados aos 43 grupos vinculados à Acote.
“O coral significa tudo para mim”
Regente de nove coros, Lorio Krützmann, 75 anos, tem a história da sua vida confundida com o desenvolvimento do canto coral em Teutônia. Em 2018, ele vai completar 60 anos como coralista e 40 de regência. Ao lado de sua esposa, Gerta, chegou a conduzir 22 grupos, durante dez anos.
Krützmann lembra a data em que começou a cantar no Coro de Homens da Linha Catarina, da Sociedade Recreativa Concórdia. Com 16 anos, iniciou a trajetória em 3 de maio de 1903. Ele conta também que foi regente do Coro de Homens General Canabarro por 35 anos. O grupo é considerado o mais antigo da cidade, com 149 anos.
Entre os benefícios da arte, ele cita alegria, amizade e saúde. “O coral significa tudo para mim”, resume.
Alexandre Miorim: alexandre@jornalahora.inf.br