Um protesto interrompeu o trânsito da BR 386 na manhã de ontem, 19, por cerca de 20 minutos. Organizado por moradores, empresários e trabalhadores, o ato ocorreu próximo à elevada da rodovia. Mais segurança pública e aumento do policiamento para enfrentar a criminalidade no município foram as reivindicações dos manifestantes.
Cerca de 70 pessoas integraram a mobilização. Com bandeiras brancas e cartazes, os participantes impediram o fluxo de veículos nos dois sentidos da BR-386. Irritados, alguns motoristas tentaram forçar a passagem. Conforme organizadores, a meta era bloquear a via por 30 minutos, mas o tempo foi abreviado para evitar conflitos.
“Estamos com o município desamparado. Não temos mais segurança, não vemos movimento da Brigada na cidade. É uma viatura só para atender Fazenda Vilanova e Bom Retiro do Sul”, reclama um trabalhador da construção civil que não quis se identificar. “Se não der resultado, vamos fazer novas mobilizações”, avisa.
Conforme o aposentado e produtor de leite Rodolfo Junqueira, é “uma vergonha” a falta de policiais em um município pequeno, que busca o desenvolvimento. Ele conta que foi assaltado há algumas semanas, quando estava em uma farmácia da cidade. A propriedade no interior também já teve animais roubados em crimes de abigeato. “Está na hora de as autoridades defenderem a gente dessas barbaridades”, protesta.
Morador e frentista de um posto no centro, outro manifestante relata que o estabelecimento no qual trabalha sofreu dois assaltos em menos de 15 dias. Em um dos crimes, quatro tiros foram disparados pelos bandidos. “Fica muito perigoso para gente trabalhar dessa maneira”, comenta. Segundo ele, a mobilização é importante para chamar a atenção dos poderes públicos sobre a necessidade de mais policiamento.
O prefeito José Luiz Cenci integrou o ato. “A nossa população chegou ao limite. Não há mais como resistir a essa situação”, afirma. Segundo ele, a administração municipal fez o que estava ao seu alcance, como a busca de recursos por meio de emendas parlamentares para compra de veículos e equipamentos à Brigada Militar e Polícia Civil. “Agora nós dependemos do Estado”, destaca. Ele afirma que houve redução na quantidade de brigadianos com o deslocamento de servidores ao litoral.
Dois sentidos da BR-386 foram bloqueados pelos manifestantes. Interrupção do trânsito ocorreu na manhã de ontem e durou menos de 30 minutos
“Longe do ideal”
Conforme o chefe do Comando Regional de Polícia Ostensiva do Vale do Taquari (CRPO-VT), coronel Gleider Cavalli, nenhum município da região ficou com menos de cinco policiais com as transferências da Operação Golfinho. Ele reconhece, porém, que o número de agentes não é suficiente para manter o policiamento 24 horas por dia em todas as cidades. “Está longe do ideal, mas é a nossa realidade.”
A perspectiva mais próxima para a ampliação do efetivo na região é o segundo semestre de 2018, quando o governo do Estado deve nomear parte dos aprovados no concurso em andamento da Secretaria Estadual da Segurança Pública. Segundo Cavalli, a previsão é de que a formação da primeira turma disponibilize de dois mil a 2,5 mil novos servidores para o RS.
Segundo o major Marcelo de Abreu Fernandes, comandante do 40º Batalhão da Polícia Militar, com sede em Estrela e responsável pelo policiamento em Fazenda Vilanova, os dados sobre o número de efetivo não devem ser divulgados por motivos estratégicos. Ele informa que o município conta com metade do número de brigadianos previstos à localidade, devido à falta de policiais em todo o estado. “A gente trabalha com a quantidade disponível da forma mais efetiva possível”, assegura.
Para o major, a cidade tem índices semelhantes a municípios vizinhos. “Nós temos em Fazenda Vilanova alguns picos de criminalidade em alguns períodos, o que gera maior sensação de insegurança. Mas nada que seja alarmante”, avalia. Segundo ele, a divisão da cidade por uma rodovia facilita o acesso e a saída rápida dos bandidos, o que dificulta a ação policial.
Alexandre Miorim: alexandre@jornalahora.inf.br
