Encantado com as radionovelas que ouvia ao lado da mãe, aos 9 anos, Waldir Sudbrack decidiu que trabalharia em rádio. “Eu vou trabalhar aí nessa caixinha”, dizia, em uma época em que os rádios tinham o formato quadrado e qualquer outra profissão tinha mais prestígio.
Mesmo sem a aprovação da mãe, aos 15 anos, bateu na porta da única rádio de Carazinho, sua cidade natal, à procura de um emprego. Incomodado com aquele garoto persistente que o procurava todos os meses, finalmente o proprietário cedeu. Gritou para um funcionário: “Vê alguma coisa para esse menino fazer”. De lá para cá, se passaram 62 anos. A ingestão de três litros d’água por dia garante que ele continue ativo na ‘caixa falante’.
No estúdio montado em um cômodo do apartamento, no centro de Estrela, ele grava dois programas, nas terças e quintas-feiras. Um é o Meditação, no qual reproduz mensagens de reflexão, autoajuda ou descontração, em dois ou três minutos. Esse está no ar faz 50 anos e é veiculado por dez rádios gaúchas, em dias úteis. O outro é a sua principal marca no mundo radiofônico: As Bandas Estão Voltando.
O resgate de bandas foi uma ideia que Sudbrack teve em 1997, quando trabalhava na Rádio Felicidade FM, de Novo Hamburgo. Pouco depois, se mudou para Santa Catarina e passou a se dedicar à produção independente. Faz mais de 15 anos, tem dois patrocinadores fixos, anunciados durante a gravação. Sem cobrar nada das emissoras, entrega um programa com 55 minutos, o que permite que a rádio ainda insira os próprios patrocinadores.
As Bandas Estão Voltando é rodado em 50 estações do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Geralmente, aos sábados ou domingos, e algumas têm repeteco. Inicialmente, a proposta incluía apenas bandinhas alemãs. Hoje, já tem um som mais diversificado, com sucessos de bandas como Brilha Som, Os Atuais, Corpo e Alma, Terceira Dimensão e Danúbio Azul. “O público foi pedindo essas bandas consideradas modernas”, justifica.
Na Trilha dos Imigrantes
Além do infinito repertório que é a internet, Sudbrack conta com seus mais de 1,2 mil CDs. Dentro do programa, o bloco Na Trilha dos Imigrantes é o destaque. É quando ele fala sobre as etnias e culturas que ajudaram a formar o país. Um dos assuntos que mais repercutiu foi sobre as ferrovias.
Hoje o tema é a história de Madre Paulina, imigrante italiana que foi a primeira santa do Brasil.
Em março, As Bandas Estão Voltando completa 21 anos. Neste período, Sudbrack já recebeu mais de 1,5 milhão de cartas, sem contar os diversos contatos feitos por ouvintes via redes sociais e e-mails. Todas as correspondências chegam diretamente em sua casa.
Primeiro gerente da Rádio Imperial
Sudbrack ajudou a fundar a Rádio Imperial, de Nova Petrópolis, em 1989. Foi o primeiro gerente e o responsável pelo “estouro” que a estreia foi na época. “Foi a primeira rádio FM que tocava bandinha e música sertaneja. Fazia programação de AM. Era rádio para o povo.”
Nos anos 1960, saiu de Carazinho com destino a Estrela, onde foi gerente da Rádio Alto Taquari, cargo ocupado por quase duas décadas. Em seguida, foi transferido para Passo Fundo, para assumir a AM que levava o nome da cidade. Todas as rádios pertenciam ao grupo Emissoras Reunidas, que foi vendido quando ele completou 33 anos de casa. A troca de proprietários culminou em sua demissão.
Mais tarde, ajudou a fundar a Rádio Felicidade FM, em Gramado, como diretor de programação, antes de assumir a gerência da Felicidade FM de Novo Hamburgo.
Voltou a morar em Estrela depois de sofrer um acidente de carro em SC. Sua mulher, Rosemarie Becker, com quem era casado desde os 19 anos, morreu na colisão. Tiveram três filhas. Uma morreu em decorrência do diabetes. Ele tem quatro netos.
Gesiele Lordes: gesiele@jornalahora.inf.br