Nos últimos cinco meses, o nível de endividamento das famílias teve altas consecutivas no país. Dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), feita em todas as capitas e Distrito Federal com 18 mil consumidores, apontam que 62,2% estavam nessa situação em novembro. Ao mesmo tempo, a inadimplência está em 25,8%. Maior do que no mesmo período do ano passado, mas 0,7% menor em relação a setembro.
Informações que, juntas, revelam o quanto os brasileiros estão mais consumistas, e ao mesmo tempo estão sendo melhores pagadores. Porém, para ter esse maior poder aquisitivo, a maioria usa o cartão de crédito. Mais de 76% revelaram que essa facilidade é o motivo do endividamento. Enquanto 16,7% optaram pelos carnês, 10,4% se beneficiaram dos financiamentos bancários para comprar mais.
Algo considerado bom pelos comerciantes, mas ruim pelos economistas. “Os comerciantes dão mais crédito quando consideram que o risco de inadimplência está mais baixo. Então, isso aponta uma melhora no quadro geral. Se eu tenho dívidas e consigo quitar elas não tem problema”, considera a diretora da CDL Lajeado, Soraide Graf.
Presidente da entidade, Heinz Rockenbach também considera os números positivos. A baixa no nível de inadimplência e o aumento das compras, para ele, se devem ao recebimento do 13º salário. “Chegado o fim do ano é comum as pessoas quererem seu crédito de novo, para voltar a comprar. Para nós sempre é bom se pagam ou gastam mais.” O comércio jamais deixará de incentivar o consumo, ressalta Rockenbach, por isso, concede facilidades.
O risco do consumo
Porém, ele admite que, nestas horas, não se pensa no futuro. O consumo desenfreado é quase certeza de nova alta na inadimplência, aponta o economista Eloni José Salvi. Em setembro, 26,5% das famílias estavam sem condições de pagar as dívidas. “O endividamento, na maioria das vezes, está ligado ao desejo de antecipar o consumo de algum produto ou serviço antes de ter a renda necessária para isso.”
Em alguns casos, o endividamento é fruto de algum fato inesperado, como acidentes e problemas de saúde. Porém, não é isso que ocorre com os brasileiros. A falta da gestão das finanças, com anotação de todas as rendas e gastos, e análise dos mesmos, é um dos principais motivos do descontrole sobre o endividamento.
“Ouço com frequência pessoas se dizerem surpreendidas pelo valor da fatura do cartão de crédito. Só há surpresa quando não se anota os valores que foram gastos, verificando o quanto já foi comprado antes de fazer a próxima compra.” Não ter essa facilidade em mãos ajudaria a cortar gastos, pois dificulta as compras a prazo, aponta.
Carolina Chaves da Silva: carolina@jornalahora.inf.br
