Depois de sete anos como deputado federal, o humorista Tiririca fez ontem o seu primeiro e último discurso na tribuna da Câmara. Ainda que faltem elementos para sustentar e legitimar seu discurso, Tiririca traduziu o sentimento do povo brasileiro em relação ao Congresso, do qual o palhaço faz parte.
Segundo pesquisa do Datafolha, publicada na semana passada, seis entre dez brasileiros reprovam os parlamentares que deveriam representá-los. É a pior marca desde que o instituto começou a medir a avaliação de deputados e senadores.
A rejeição recorde dos deputados demonstra o grau de insatisfação e frustração da sociedade em relação a seus representantes. Tiririca foi sensato ao chamar de “sem-vergonha” a maioria dos colegas e classificá-los de oportunistas. A falta de credibilidade provém justamente das manobras e do modo corrosivo e predador com o qual gastam o dinheiro público. Transformam a Câmara federal em permanente balcão de negócios, que só não é maior por causa da Lava-Jato.
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Graças a maior operação de combate à corrupção no país, estão na cadeia os últimos dois presidentes da Câmara. Seus três antecessores também foram delatados e respondem a inquéritos no Supremo. O atual presidente, Rodrigo Maia, reforça o time dos investigados. Estão na mesma situação o presidente do Senado, Eunício Oliveira, e outros cinco peemedebistas que ocuparam sua cadeira.
Tiririca é um palhaço, e seu modo de atuação no Congresso em nada se assemelha com o grau de responsabilidade, competência e ética que deveria nortear o trabalho dos deputados. Ainda assim, seu único pronunciamento durante a vida parlamentar não poderia ser mais oportuno e real, senão vejamos uma parte: “a gente é bem pago, a gente tira livre R$ 23 mil para a gente. A gente tem apartamento, direito a carro. Sem falar na carteirada que muitos de vocês (deputados) dão. Ando de cabeça erguida, mas já vi deputado se escondendo porque, para o povo, isso aqui é uma vergonha.”
Vale lembrar que os 513 deputados e 81 senadores não vieram de outro planeta. Foram eleitos pelos mesmos brasileiros que agora reclamam. Em muitos casos, em troca de favores, promessas de emprego ou dinheiro vivo. A oportunidade para o cidadão mudar o cenário está na eleição do próximo ano. Reclamar e apostar nos mesmos é insistir no erro.
Editorial
Tiririca e o pior Congresso
Depois de sete anos como deputado federal, o humorista Tiririca fez ontem o seu primeiro e último discurso na tribuna da Câmara. Ainda que faltem elementos para sustentar e legitimar seu discurso, Tiririca traduziu o sentimento do povo brasileiro em…