O aumento no número de morte de bovinos preocupa produtores e médicos-veterinários. Foram 50 animais e um cavalo. Dessas baixas, dois casos deram positivo para raiva, contraída de infecção por morcego hematófago.
O laudo foi emitido pelo Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor, de Eldorado do Sul, após encaminhamento de material para análise laboratorial. Conforme a médica-veterinária Luciana Agostini, os demais animais tiveram os mesmos sintomas de raiva. “O município vai realizar a vacinação num raio de 500 metros dos casos confirmados. As doses serão repassadas pelo Estado.”
A fim de evitar a transmissão da raiva para animais domésticos, essa área definida pelo Estado compreende a vacinação de cães e gatos. “Numa das propriedades em Pedras Brancas, cachorros tiveram acesso ao bovino morto, por isso, nossa preocupação em mantê-los presos e vacinar os demais na proximidade.”
A Secretaria de Agricultura do Estado e o Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs/RS) orientam os agricultores a vacinar o rebanho. A dose pode ser adquirida nas agropecuárias por preços que variam entre R$ 12 e R$ 15 o frasco com 25 doses. A aplicação dever ser feita em duas etapas, num intervalo de 21 dias.
“A vacina somente faz efeito 21 dias após a segunda dose. São Mais de 40 dias da primeira aplicação para o gado estar imune à raiva. O mesmo vale para os animais domésticos”, reforça Luciana.
Uma equipe do Estado percorreu propriedades a fim de localizar a furna de origem dos morcegos infectados. “Se o agricultor perceber algum ponto propício para os morcegos, como cavernas e tronco de árvores, deve avisar a secretaria municipal”, alerta a médica-veterinária.
Surto de raiva
Existe uma teoria sobre o início do surto de raiva bovina em Boqueirão do Leão. Conforme a médica-veterinária, os morcegos hematófagos desenvolvem a raiva quando adoecem ou passam por momento de estresse.
“Das 14 furnas identificadas no município, dez desabaram com o período chuvoso no primeiro semestre do ano. Essa migração do habitat pode sim ter desenvolvido a raiva”. Luciana destaca ainda que a formação rochosa na região da comunidade de Pedras Brancas e água corrente favorecem o desenvolvimento dos morcegos.
Outros municípios do Vale também registraram mortes suspeitas e material foi encaminhado para análise. Gramado Xavier, Pouso Novo e Nova Bréscia estão entre os municípios com monitoramento da situação e atentos à morte de bovinos.
Raiva em humanos
Agentes de saúde e profissionais da Secretaria da Saúde trabalham num raio de 5 quilômetros do foco de raiva. O trabalho consiste em orientar sobre a vacinação preventiva dos animais, tanto os bovinos quanto os domésticos, e coleta de dados.
De acordo com a enfermeira encarregada, Elisandra Barbon, não existe vacina preventiva na unidade de saúde para humanos. “O Estado apenas liberou a dose para imunizar o médico-veterinário do município que tem contato direto com animais. Estamos atentos à situação e por isso da importância em vacinar os animais evitando a transmissão da doença.”
Elisandra reforça que o contágio dificilmente ocorre de bovino para humano, mas sim a partir de cão ou gato.
“A raiva é uma zoonose, ou seja, doença de animais que podem ser transmitidas a seres humanos. É causada pelo vírus da família rhabdoviridae e do gênero lissavirus, que se espalha pelo sistema nervoso central, causando encefalopatia e, quase sempre, a morte”, comenta o médico Omar Batista Guerrero.
João Piccoli, secretário municipal de Saúde, esteve reunido com moradores da comunidade de Pedras Brancas. “Não há motivo para pânico, no entanto, os agricultores precisam vacinar o gado e nós faremos nossa parte junto ao Governo do Estado. Essa mobilização dos agentes é justamente para fechar o cerco contra a raiva e o morcego proliferador.”
Há 28 anos
Por muitos anos não se ouvia mais falar em surto de raiva na região. Profissionais da área da saúde não contam com recursos para prevenir o contágio humano.
Há 28, na propriedade de Melo e Fátima Cristani, em Pedras Brancas, cerca de 30 bovinos morreram. Conforme estudo na época, a morte foi causada pelo vírus transmitido pelo morcego hematófago. “Naqueles tempos não haviam recursos e não se tinha a certeza da causa dos óbitos. Foi um médico-veterinário de Lajeado que descobriu a causa e começaram a vacinar os animais ainda não infectados”, conta Cristani.
A mortalidade do rebanho fez a família abandonar e migrar de cultura. “Foram tempos difíceis, um verdadeiro caos. Desde então o Estado tem monitorado furnas aqui na comunidade.”
Caso confirmado
O primeiro caso confirmado de raiva foi na propriedade de Florindo Luzzani, em Vila Nova. Segundo o filho Sidiclei, um dos bovinos utilizados para o trabalho na lavoura apresentou enrijecimento nas patas traseiras e não se recuperou mais.
Ele relata que o veterinário encontrou sinais de mordida e material foi coletado para exames. “É uma perda lamentável, estamos preocupados, então, já tratamos de vacinar os outros animais.”
Logo quando constatada a suspeita o bovino ficou isolado não havendo contato com cachorros ou qualquer outro animal. “Não há um risco naquela região da contaminação para outros seres. O isolamento restringiu o contágio, por isso, não está dentro da zona de alerta, diferente do caso em Pedras Brancas”, diz a médica-veterinária Luciana.
Felipe Netizke: regional@jornalahora.inf.br