Como a revolução tecnológica exige inovação nas empresas

INDÚSTRIA 4.0

Como a revolução tecnológica exige inovação nas empresas

Organizações regionais adotam ferramentas da 4ª Revolução Industrial para otimizar processos. Centro tecnológico da Univates potencializa transformações

Como a revolução tecnológica exige inovação nas empresas

O mundo empresarial vive uma revolução. A chamada Indústria 4.0 transformou a forma como as pessoas enxergam, planejam e interagem com o mundo dos negócios. Criado na Alemanha, o conceito se refere à reorganização dos processos industriais com base em alta tecnologia e em sistemas que se comunicam automaticamente entre si de forma a otimizar toda a cadeia produtiva.

Ela se baseia na fusão entre as dinâmicas do mundo físico e do universo criado a partir do advento da internet. As mudanças envolvem conceitos de robótica, redes de comunicação, processamento de dados e uso de algorítimos sofisticados como apoio para a tomada de decisões na gestão.

Além de um grande impacto nas organizações, essa nova forma de desenvolver negócios também trás consequências para o mundo do trabalho. A digitalização exige mão de obra qualificada e com grandes níveis de produtividade, o que pode levar a redução do quadro funcional das empresas. Ao mesmo tempo, a otimização dos processos reduz o consumo e o desperdício de recursos, contribuindo para a sustentabilidade.

O momento de transição exige investimento. A mudança de tecnologia vem acompanhada de novas formas de estabelecer estratégias, processos e práticas. Apesar do risco vinculado ao custo dessa transformação, estar despreparado para as mudanças advindas da indústria 4.0 pode ser ainda mais arriscado.
Diretor de tecnologia da empresa Interact, especializada em sistemas para soluções estratégicas e inteligência corporativa. Thomas Spriesterbach veio da Alemanha para Lajeado no fim dos anos de 1990. Segundo ele, o potencial do Vale para o mercado de tecnologia já era reconhecido desde aquela época.
Conforme Spriesterbach, um dos principais conceitos necessários para compreender este momento é o da inovação. Segundo ele, a inovação precisa fazer parte do cotidiano das empresas, de forma a assegurar um melhoramento constante dos processos e produtos.

“Não é uma questão aplicada unicamente nas empresas de tecnologia da informação. A inovação faz parte do cotidiano de indústrias tradicionais, como a automobilística por exemplo”, ressalta. No caso dos automóveis, lembra que a cada ano são lançados novos modelos com dispositivos inovadores e baseados em tecnologia.

Com base nesses conceitos, a Interact se consolidou como uma das referências do setor de Tecnologia da Informação. Criada em 1999, a empresa com base em Lajeado fornece produtos e serviços em oito países da América Latina e se prepara a expansão para a América do Norte e Europa.
A empresa é um exemplo de como o Vale do Taquari pode se posicionar no centro da revolução tecnológica. Entre as vantagens da região estão a característica empreendedora e a oferta de mecanismos de inovação proporcionados pelo Centro Tecnológico da Univates, além do apoio das entidades do setor empresarial.

Desafios das Startups
As startups são a personificação da revolução tecnológica. São empresas cujo modelo de negócios é repetível, escalável e com alta capacidade de crescer e gerar valor em um ambiente de incertezas. O conceito aparentemente complicado é uma das principais apostas para o desenvolvimento por meio da tecnologia. Por isso, é objeto de uma série de eventos voltados ao empreendedorismo.

No próximo fim de semana a Univates sedia a 4ª edição do Startup Weekend, evento que incentiva desenvolvimento de empresas inovadoras. Serão 54 horas de palestras, oficinas e atividades que visam transformar ideias em negócios.
A universidade abordou o conceito em um painel, nesta quinta-feira. Três empreendedores apresentaram a história de suas startups e falaram sobre as vantagens e os desafios desse modelo empresarial.
Ezequiel da Rosa apresentou o Piipee, produto desenvolvido por ele visando reduzir a utilização de água em vasos sanitários. A ideia surgiu após perceber a quantidade de água utilizada nas descargas para eliminar a urina e pesquisar a complexidade e o custo dos sistemas já existentes.

Laboratório tecnológico da Univates auxilia empresas a transformarem modelos de produção e negócios

Laboratório tecnológico da Univates auxilia empresas a transformarem modelos de produção e negócios

“A intenção era fazer um produto simples de aplicar e de baixo custo que neutralizasse a urina sem a necessidade do uso da descarga”, ressalta. Rosa se começou a estudar e desenvolve formulações químicas até encontrar a fórmula do Piipee e bolar duas formas de aplicação: por meio de spray e de um dispenser automático.
O empresário lançou uma página na internet com o pré-lançamento do produto, mas as intenções de compras eram mínimas, até a vinculação de uma matéria sobre o Piipee em uma revista de grande circulação
“Fui dormir em um dia, e no outro minha caixa de mensagens estava cheia de pedidos, mas não tínhamos o produto”, relata. Diante de uma grande demanda, Rosa decidiu abrir a pré-venda, com a promessa de entregar as encomendas em dois meses.

De lá para cá, a empresa cresce velozmente e hoje possui mais de 400 clientes em todo o país, entre eles grandes empresas como a Vale do Rio Doce e a Companhia de Energia do Ceará, e se tornou referência nacional em inovação.
O estudante de sistemas de informação da Univates, Rodrigo Oliveira falou sobre a empresa Requisittus, da qual é sócio. Segundo ele, a ideia do negócio, de criar um sistema de pesquisas de avaliação e de comportamento dos consumidores surgiu durante na primeira edição do Startup Weekend, em 2014.
Além dos estudos e da empresa própria, Oliveira ainda trabalha em outra firma do setor de informática. “Meu objetivo é logo chegar a me sustentar apenas com o negócio”, afirma. Conforme o estudante, uma das principais dificuldades é justamente conciliar a empresa, os estudos e o trabalho.

“Adiei em dois anos a entrega do TCC”, ressalta. Segundo ele, o produto está começando a entrar no mercado após anos de desenvolvimento. Conforme Oliveira, hoje o principal desafio da empresa é conquistar espaço no mercado.
“Hoje temos clientes apenas em Lajeado, mas nossa intenção é expandir o negócios no próximo ano”, ressalta. Por se tratar de um sistema on-line, destaca, é possível aplica-lo em qualquer lugar do mundo.
Proprietário do clube de assinaturas Adeus Rotina, o programador Maicon Esteves teve várias iniciativas empreendedoras antes de criar a empresa, que oferece serviço de envio de boxes com assessórios, atividades e informações eróticas para casais.

Ele apontou os erros e acertos ao longo da trajetória pelas diferentes empresas que fundou. A ideia de criar o serviço veio após ler uma noticia em site voltado para o empreendedorismo. “Vi uma matéria sobre um serviço semelhante nos Estados Unidos que foi a mais comentada do mês e decidi lançar a ideia aqui.”
Usando a lógica da internet, Esteves criou uma estratégia de marketing de custo baixo, por meio de postagens e produção de conteúdo para ser veiculado em páginas influenciadoras com grande número de seguidores.
De 2014, quando foi fundada, até hoje, a empresa já impactou mais de 15 mil pessoas e entrega kits mensais para 5 mil casais de diferentes orientações sexuais. Para Esteves, a persistência e a busca por soluções inovadoras para os problemas do cotidiano foram as responsáveis pelo sucesso do negócio.

“As pessoas estão acordando para essa necessidade”

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Para Simone Stulp, região começa a perceber a necessidade de se adaptar

“Demora tempo até para que as pessoas reconheçam essa necessidade”, alerta. Por outro lado, lembra que não faz muito tempo que o conceito começou a ser debatido na região, o que demonstra o avanço desse processo.
“As pessoas estão acordando para essa necessidade”, reforça. Segundo ela, a Univates e as demais entidades empresariais cumprem um importante papel nesse sentido. No caso da universidade, aponta, uma das funções é assegurar a formação de profissionais para o mercado de tecnologia.

“Os alunos das áreas relacionadas à temática são preparados para construir conhecimento”, alega. No caso das associações comerciais e do próprio Tecnovates, ressalta a importância de serem instigadores das discussões. “Falar para as pessoas da região sobre essa realidade fará com que cada vez mais pessoas compreendam onde o seu negócio se insere nela.”

“ Os consumidores entenderam a crise antes das empresas”

Eleita Economista do Ano de 2016 pelo Conselho de Economia do RS, Patrícia Palermo esteve em Santa Clara do Sul na terça-feira, 21. Doutora em Economia Aplicada pela UFRGS e professora universitária da ESPM/São Francisco de Assis e da Uniritter, Patrícia escreveu os livros A Crise Econômica Internacional e os Impactos no Rio Grande do Sul e O Rio Grande Tem Saída?
A economista ministrou a palestra de encerramento do programa Santa Clara Tem Valor, que visa qualificar o comércio local, aumentar a receita e fortalecer a economia do município. De acordo com o prefeito Paulo Cezar Kohlrausch, o projeto iniciou em agosto e teve grande adesão popular.

Kohlrausch apresentou dados de pesquisa sobre o comportamento dos consumidores do município. De 531 entrevistados, 98% afirmaram comprar no comércio local, mas 85% disseram também fazer compras fora da cidade. O número de consumidores que compram por meio da internet chega a 32%.
Entre os motivos para comprar fora da cidade, os principais apontamentos foram preço mais baixo, mais variedade, promoções e atendimento.


 

ENTREVISTA

Quais sas projeções para a economia em 2018 diante dos resultados deste ano?
Patricia Palermo – O 2017 foi marcado por três fatores, basicamente. O primeiro é uma incerteza política muito grande. Não se sabia o que iria acontecer com o governo Temer. Sabia-se que seria um ano de crescimento fraco, lento e frágil, justamente pela dependência do cenário político. Mas tivemos um fenômeno novo, de desinflação da economia. Os subiram menos, o que devolveu parte do poder de compra das pessoas. Infelizmente tivemos o escândalo da JBS em maio, quando o Brasil iniciava o processo de recuperação. Ao longo do ano, vimos que o governo, embora fragilizado, aumentou suas chances de terminar o mandato. Por mais que isso seja negativo do ponto de vista moral, pelas coisas que aconteceram, por outro lado diminui a incerteza de uma troca de governo antes do processo eleitoral. A partir disso, a economia ficou descolada da política. O mercado entendeu que o governo não tem mais risco de cair.

Economista Patrícia Palermo palestrou em Santa Clara do Sul

Economista Patrícia Palermo palestrou em Santa Clara do Sul

Como será esse processo de recuperação? É possível projetar avanços?
Patrícia – O processo de retomada é longo porque passamos por oito semestres seguidos de queda no PIB. Com isso, não apenas as empresas fragilizadas sentiram. Com dois anos de recessão, mesmo as companhias mais sólidas passaram por um processo de deterioração financeira. Além disso, vivenciamos um processo em que o PIB caiu mais que o emprego. Então as empresas podem crescer sem necessariamente contratar pessoas. Nos ciclos de crescimento econômico, geralmente haviam mais contratações que geravam mais renda e faziam a roda da economia girar. Agora, as empresas podem produzir mais, sem necessariamente contratar, o que retarda o processo de retomada. Até esse ritmo ganhar mais força, o trabalho formal não vai melhorar na medida que gostaríamos.

Com o empresário pequeno precisa se preparar para o próximo ano?
Patrícia – O processo de desinflação permitiu que as taxas de juros caíssem de forma a se manterem baixa. Então, para 2018, teremos um ano bem melhor do que 2017. A expectativa é de crescimento de 2,5%, e tem gente que fala em 3%. O pequeno empresário de Santa Clara do Sul precisa saber o que está acontecendo para tomar algumas decisões, como a de formação do estoque. Se você sabe que o ano será melhor, isso faz com que você faz suas compras para atender uma demanda que aumentará.

A crise mudou a forma de consumo?
Patrícia – A concorrência se acirrou. Teve uma época em que as empresas não vendiam, elas eram compradas. Foi um tempo de expansão da classe média, geração de muitos empregos formais, muitas pessoas passaram a ter acesso ao crédito e estavam felizes por comprar. Como as empresas sabiam que as pessoas bateriam na porta para gastar, ficaram desleixadas, pois vendiam de qualquer forma. Os consumidores entenderam a crise antes das empresas. Perceberam que seu dinheiro passou a valer mais, portanto, começaram a exigir produtos melhores e melhor atendimento. A inversão foi muito rápida.

Como a revolução tecnológica afeta as relações comerciais?
Patrícia – Tem toda uma geração que cresce e quer participar desse processo de comprar, comentar e consumir da mesma forma como faz no universo on-line. As empresas não estão preparadas para isso. Muitos têm um bom atendimento, mas não se apresentam nas redes sociais. Outros se apresentam nas redes, mas não entregam o que prometem. Esse alinhamento entre o off-line e o on-line ficou esquecido. Hoje temos a ferramenta da comunicação em rede. Antigamente se você era mal atendido comentava com o marido, o pai e a mãe e ficava nisso. Hoje você posta na internet e gera milhares de compartilhamentos. Você tem pequenas gestões de crise todos os dias em coisas pequenas que ocorrem no seu comércio.

Como se preparar para essa nova realidade?
Patrícia – Precisamos compreender que meu concorrente não é apenas aquele do outro lado da rua. Pesquisas mostram que 32% dos consumidores de Santa Clara do Sul fazem compras pela internet. Estamos dizendo que os concorrentes podem estar do outro lado do mundo. A pergunta é, como nos tornamos atrativos diante disso? Montando uma estratégia para vender. Precisamos pensar se não estou vendendo por causa da crise ou porque não estou oferecendo para os meus clientes algo que as pessoas não querem comprar. Não posso vender apenas o que eu gosto. Outra coisa é perceber que meu cliente não precisa ser apenas de Santa Clara do Sul. No momento em que abro um notebook, aquilo pode ser uma vitrina para o mundo. Para isso ocorrer tenho que absorver conhecimento e treinar as pessoas. Temos que propiciar experiências para as pessoas. É preciso refletir todos os dias se o que deu certo até agora dará certo daqui para frente. O pai de 50 anos tem que sentar para conversar com o filho de 20, porque o jovem tem muito mais compreensão sobre o consumidor de amanhã. E esse processo tem que ocorrer de forma contínua.

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