O produtor José Arnado Sulzbach contabiliza prejuízos devido à queda no preço pago pelo leite. Aos 79 anos, 50 deles dedicados à atividade, o morador de Novo Paraíso, em Estrela, alega nunca ter passado por uma crise tão grande.
Sulzbach é um dos milhares de produtores da região que sofrem com a falta de políticas públicas voltadas para o setor. Amanhã, 24, ele será um dos cerca de cinco mil agricultores que integrarão dois protestos promovidos pela Fetag em frentes às unidades da Lactalis de Teutônia e Palmeira das Missões.
As manifestações ocorrem a partir das 9h. De acordo com a presidente do STR de Teutônia e Westfália, Liane Brackmann, a intenção é reunir cerca de 1,8 mil produtores de 15 regionais no evento do Vale do Taquari.
Desde o início da crise do setor, destaca Liane, sindicatos e entidades como o Codevat e o IGL realizaram protestos e audiências públicas para pressionar o governo em busca de uma solução. Em outubro, após uma manifestação na ponte que liga a cidade de Jaguarão a Rio Branco, no Uruguai, a União chegou a suspender as importações, mas voltou atrás três semanas depois.
“Além desse problema da importação, tivemos no ano passado o pedido do Sindilat pelo aumento da produção, o que aumentou ainda mais os estoques”, ressalta. Diante desse cenário, mais de 30 mil agricultores gaúchos abandonaram a atividade desde o fim de 2016.
De acordo com o presidente do IGL, Carlos Joel da Silva, apesar de todas as ações alertando sobre a situação dos produtores, quase nada foi resolvido pelos governos estadual e federal. “As importações foram retomadas e o anúncio de compras governamentais para enxugar o mercado não se efetivou.”
Conforme Silva, para resolver os problemas da produção, são necessárias as aquisições governamentais. No caso das importações, sugere a criação de cotas para o Uruguai ou a retirada do leite da pauta do Mercosul.
“Não é possível manter a atividade com o produtor recebendo abaixo do custo de produção”, sentencia.
José Sulzbach concorda. “Temos pelos menos três vizinhos que estão abandonando porque não têm como se sustentar.”
Ele lembra com nostalgia do período entre os anos 90 e início do ano 2000, quando o valor pago pelo leite resultava em qualidade de vida para o agricultor. Caso a situação não seja revertida, alega, será mais um a desistir da atividade para a qual se dedicou durante a maior parte da vida.
Investimento perdido
O casal Lígia e Pedro Weber tem no leite a única fonte de renda. De acordo com ele, ao longo dos últimos anos, os produtores da região fizeram grande investimentos em genética, equipamentos e manejo dos animais para se adaptarem às exigências do mercado. Hoje, alega, esses investimentos não compensam o valor pago pelo litro do produto.
“Foram mais de R$ 500 mil ao longo dos últimos anos e ainda estamos investindo, porque senão vamos ficar para trás”, aponta. Se em anos anteriores ele recebia quase R$ 1,70 pelo litro de leite, hoje alega receber em torno de R$ 1,15, incluídos bônus por produtividade e boas práticas.
“Para valer a pena, o preço pago deveria ser de R$ 1,40”, acredita. Conforme Weber, além do baixo valor, as dificuldades da atividade também explicam o alto índice de desistência. Lembra que em 30 anos de casamento jamais tirou férias ou deixou de trabalhar.
“Trabalhamos na chuva e no sol, não temos folga no sábado ou no domingo, nem direito ao 13º e seguridade social”, ressalta. Para ele, as dificuldades seriam amenizadas caso o produtor fosse valorizado.
Thiago Maurique: thiagomaurique@jornalahora.inf.br