Industrialização dribla a crise

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Industrialização dribla a crise

Famílias apostam no beneficiamento da matéria-prima e na gestão para se manter na atividade leiteira. Diversificação também auxilia a equilibrar a renda e proporciona mais rentabilidade aos produtores

Industrialização dribla a crise

Em um ano, quase 25 mil produtores de leite abandonaram a atividade no RS, segundo a Emater. O principal motivo é o valor pago pelo litro nos últimos anos, insuficiente para os produtores se manterem e até pagarem pelos custos da produção.

Alguns agricultores buscam alternativas para se manter e elevar os lucros da atividade. Uma das saídas é o beneficiamento da matéria-prima. Um exemplo disso é a família Batistti, de Progresso.

Tradicionais criadores de frangos, 30 mil cabeças por lote, apostavam na produção de leite como forma de diversificar a renda e tentar manter a filha Thaís no campo. Mas a venda in natura para a indústria estava com a rentabilidade cada vez menor.

O cenário mudou com ajuda da Emater. Pelo Fundo Estadual de Apoio aos Pequenos Empreendimentos Rurais (Feaper), foram liberados R$ 50 mil, para construção de uma queijaria. Com o dinheiro, Deoclides e a mulher Cleicia começaram a obra de 250 metros quadrados, além de adquirir alguns equipamentos, como o resfriador, e iniciaram a produção de queijos coloniais. Utilizando recursos próprios, o agricultor adquiriu pasteurizador, tanque, forma, prensa e balanças.

O sorriso de Batistti é fruto demonstra satisfação e alívio. “O começo foi difícil, mas era o único jeito de ficar na atividade e ter lucro. A renda oriunda do leite aumentou em 30%, se comparado com o resultado da venda in natura”, calcula. Por dia, são processados 700 litros de leite, transformados em 60 quilos de queijo. Cada quilo é vendido por R$ 14.

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Hoje a agroindústria é gerenciada pela filha Thaís e o genro Ezequiel. Segundo Batistti, foi a única maneira de manter os dois na propriedade. “O preço do leite in natura está muito baixo e nem valeria a pena investir. Seguiriam os passos do meu filho, hoje empregado na cidade”, comenta.

A rotina começa cedo da manhã, com a ordenha das 25 vacas da família, e termina no fim do dia, com o recebimento de matéria-prima que complementará a quantidade necessária de leite para a produção diária.

Após, ainda é feita a limpeza da agroindústria, para manter o padrão de qualidade e de higiene exigido pelo mercado. “A qualidade é fundamental para conquistar novos clientes”, finaliza.

A restrição de poder vender apenas no município, via Sistema de Inspeção Municipal (SIM), ainda se constitui em uma barreira. Mas, de acordo com o assistente técnico regional em Agroindústria Familiar da Emater/RS-Ascar, Alano Tonin, o município de Progresso já encaminhou a documentação para adesão ao Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte (Susaf), que ampliará as possibilidades. “Algo muito bom para as famílias que investem, agregam valor aos seus produtos, aumentam a qualidade de vida e ainda garantem a sucessão”, diz.

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Gestão turbina os lucros

O preço do leite despencou mais de R$ 0,50 por litro, mas a família Landmeier, de Linha Clara, em Teutônia, mantém o saldo positivo. Sérgio, 60, atribui o resultado à boa gestão aplicada em parceria com a cooperativa para a qual vende a matéria-prima. “Tudo é contabilizado. Isso nos torna mais eficientes. Sabedores do custo e do lucro, podemos programar os investimentos”, observa.

A diversificação é outra aliada e fez os três filhos permanecerem na lavoura. Além do leite, cuja produção média é de 1,9 mil litros por dia, são criados 20 mil frangos e 1,5 mil suínos no sistema de terminação. “Impossível todas, ao mesmo tempo, registrarem prejuízos. Assim conseguimos manter um equilíbrio financeiro”, confessa.

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A mulher Mercedes destaca a importância de oferecer à indústria e ao consumidor um produto saudável. Outro segredo é integrar o sistema cooperativista. De acordo com Landmeier, a garantia de compra, pagamento em dia, com bônus pela qualidade, aliada à assistência técnica, asseguram estabilidade e proporcionam conhecimento para profissionalizar a atividade. “É uma das únicas formas de meus netos ficarem na lavoura também, tendo acesso às novas tecnologias e com lucratividade”, finaliza.

Projeto restringe importação

No RS, mais de 25 mil pessoas deixaram a atividade. Um dos principais motivos é o baixo preço e a falta de mão de obra. O valor pago ao produtor em outubro chegou a R$ 0,95 o litro. Em agosto de 2016, alcançou R$ 1,64.

Um dos motivos para a queda acentuada é a importação de leite em pó e queijo uruguaio. A suspensão, imposta pelo Ministério da Agricultura na primeira quinzena de outubro, foi retirada após ser constatado que não ocorria triangulação – quando um país compra de terceiros e comercializa utilizando benefícios fiscais, no caso, por integrar o Mercosul.

Para tentar barrar a entrada de leite em pó, soro e in natura, o deputado federal Evair Melo (PV-ES) apresentou um projeto de leite. A proposta autoriza a Câmara de Comércio Exterior (Camex) a restringir a importação de produtos de origem animal e florestal, caso os produtores não observem as normas e padrões de proteção do meio ambiente, estabelecidos por lei aos produtores brasileiros. “Isso garante competitividade e equipara o custo de produção”, entende.

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