O ninho não está mais vazio

Comportamento

O ninho não está mais vazio

Jovens pertencentes à geração Y permanecem mais tempo morando com os pais e garantem mais anos de estudos

O ninho não está mais vazio

A geração Y, apelidada por pesquisadores de canguru, mostra que é mesmo diferente das demais. Uma pesquisa realizada pelo IBGE apontou que quase 1 /4 dos jovens com idade entre 24 e 35 anos ainda mora com os pais. Entre 2002 e 2012, essa estatística aumentou em quase quatro pontos percentuais.

Para a coordenadora do estudo, Ana Lúcia Saboia, o crescimento desses índices se deve a fatores como a necessidade de se qualificar mais para conseguir entrar no mercado de trabalho. Os jovens de hoje cresceram com uma qualidade de vida superior àquela que os pais, por exemplo, e necessitam de melhores empregos para alcançar ou superar o padrão.

A assistente administrativa Janaína Wendt, 31, mora com a mãe em Lajeado. Filha única, ela conta que além de os pais nunca forçarem sua saída de casa, também nunca passou pela famosa fase na qual os jovens estão loucos por liberdade. “Aqui em casa, sempre se respeitou muito a individualidade de cada um”, elogia.

Para a mãe, Lourdes Wendt, 52, coisas simples como não ler o diário da filha garantiram a boa relação entre as duas.

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Formada em Gestão de Micro e Pequenas Empresas, Janaína pensa em casar no futuro, formar uma família e conseguir se sustentar para dar mais conforto à mãe. “Os jovens nascidos a partir da minha geração têm demorado mais para consolidar carreira e família própria. E eu não me cobro. O que o mundo for me apresentando eu vou atrás”, fala.

Cautelosa com os gastos, não cogita se endividar para comprar um imóvel próprio. Enquanto isso, mantém dois empregos para suprir os gastos do mês. “Muitos jovens compram as coisas para aparentarem pertencer a uma classe social mais alta. Vivem cercados de boletos e carnês não pagos. Eu não faço isso porque fui ensinada desde cedo a viver com o que é necessário para mim e não aos olhos dos outros”, desabafa.

Mesmo que um alto percentual da geração Y ainda more com os pais, uma pesquisa do IBGE realizada em 2012 mostrou que a taxa de inserção desses jovens no mercado de trabalho é de 91,4%. O índice de permanência nos estudos é de 14%, enquanto para quem vive sozinho é de apenas 9%.

De acordo com o professor e doutor em Sociologia, Daniel Granada, o prolongamento da moradia da geração Y na casa dos pais pode ser separado em diversos fatores

De acordo com o professor e doutor em Sociologia, Daniel Granada, o prolongamento da moradia da geração Y na casa dos pais pode ser separado em diversos fatores

Mesmo dono de um imóvel, o lajeadense João Otávio Mezacasa Wollmuth, 25, voltou a morar com os pais há cerca de um ano e meio. O jovem adquiriu o apartamento aos 22 anos, mas decidiu retornar a fim de se dedicar aos estudos e terminar a faculdade de Química Industrial. Os gastos para custear um imóvel e necessidades domésticas habituais fizeram com que se dedicasse mais ao trabalho e menos aos estudos. “Eu não consegui manter um bom padrão de vida”, explica.

Wollmuth conta que saiu de casa para levar um estilo de vida que mais se identificava, mas se viu muito atarefado ao ter que trabalhar, estudar e tomar conta do lar ao mesmo tempo. Depois de um ano e meio na nova vida, decidiu voltar a viver com os pais para se restabelecer financeira e emocionalmente. O retorno ao ninho serviu para amadurecer. “Antes de eu conquistar minha independência, ocorriam muitos conflitos em casa, mas agora amadureci e a relação com meus pais melhorou 300%”, afirma.

Mesmo com imóvel próprio, o investimento não o prende à região. “Se tiver que sair do país para me qualificar profissionalmente, não pensarei duas vezes”, diz.

Para ele, a geração Y se permite mais sentir e viver do que ter e acumular. “Eu quero novas experiências, porque as vivências são mais satisfatórias para mim do que os bens materiais”, finaliza.

Geração canguru

Seis razões para morar com os pais

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1. Os jovens pertencentes às classes média e alta podem estar prolongando a estadia na casa dos pais em função dos cursos de graduação. Assim postergam a entrada no mercado de trabalho e otimizam custos com moradia.

2. Os custos com aluguel e tudo que envolve a manutenção de uma casa aumentaram. Nas classes baixas, um filho que trabalha significa mais uma fonte de renda para a família.

3. As pessoas, geração após geração, têm constituído família cada vez mais tarde, assim como levam mais tempo para se casar. Isso influencia na permanência prolongada na casa dos pais.

4. A mudança do formato das famílias foi brusca. Antes elas eram mais extensas e era fundamental que os mais velhos saíssem de casa assim que possível. Hoje, com as famílias menores, de um ou dois filhos, a permanência na casa dos pais se torna mais viável.

5. As mudanças nas relações entre pais e filhos, na forma de se relacionarem e na sociabilidade, também ajudam a entender essas transformações. Muitos pais mantêm uma relação afetiva muito forte com os filhos e ficar em a casa mantém esse vínculo.

6. Existe também uma certa infantilização dos filhos já jovens adultos que, uma vez que são incapazes de manter o mesmo padrão de vida dos pais, em função da crise ou de não conseguirem um emprego que os remunere para manter o mesmo padrão de vida, optam por prolongar a permanência na casa dos pais até se sentirem financeiramente aptos para partir.

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