Nova pista receberá aeronaves com 10 pessoas

Vale do Taquari - Modal mais ágil

Nova pista receberá aeronaves com 10 pessoas

Após finalizadas as obras exigidas pela Anac, pagas com auxílio de ao menos 10 grandes empresários da região, governo prepara edital para concessão de oito hangares, anuncia projeto de heliponto naquela área, e inicia busca por recursos federais para mais investimentos no modal aéreo, considerado essencial para novos negócios, transporte de órgãos e táxi-aéreo

Nova pista receberá aeronaves com 10 pessoas
Vale do Taquari

A partir de terça-feira o Vale do Taquari passa a contar oficialmente com o funcionamento do aeródromo regional. Localizado em Linha São José, no interior de Estrela, o espaço passou mais de 11 anos interditado por exigência da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Mas, para contar a história deste modal, importante para o desenvolvimento da região, é preciso retornar a 1975.

Em setembro daquele ano, Estrela ainda contava com um aeroporto. Esse estava com aspecto de abandono, conforme noticiado no já extinto Jornal de Lajeado, em março de 1974, um ano e meio antes. As torres de comando estavam em ruínas, e não havia mais contato via rádio ou telefone com o local. Foi diante deste cenário que a 5ª Zona Aérea da época interditou o local.

A justificativa do governo militar foi repassada ao prefeito da época, Gabriel Mallmann, pai do atual gestor estrelense, Rafael Mallmann. Segundo o comunicado do então major-brigadeiro Leonardo Colares Teixeira, o espaço seria interditado “por estar localizado na área que foi desapropriada pelo Deprec para a construção do Entroncamento Rodo-hidro-ferroviário”.

O órgão do estado pagou barato pela área. Anos mais tarde, no segundo mandato, Gabriel iniciou tratativas para a compra da área onde, nesta terça-feira, será ‘reinaugurado” o aeródromo. Ele propôs a 11 agricultores alugarem as terras. Mas, quando viram as máquinas iniciando a terraplenagem para um aeroporto, entraram na justiça contra o executivo. Isso ocorreu em dezembro de 1983.

Em 1985, uma reunião com membros da secretaria estadual dos Transportes mudou o rumo da situação. Ao serem informados por empresários de que a pista em Linha São José era usada por “conta e risco do usuário”, iniciou-se um levante para adequar o local. Primeiro, foram comprados 5,3 hectares de área, considerada insuficiente. A câmara, então, autorizou a compra de 19,2 ha, de 17 proprietários. A escritura foi assinada em fevereiro.

Frustração, municipalização e interdição

A primeira tentativa de ampliar o espaço ocorreu em 1998, quando a Amvat pediu R$ 500 mil ao Estado para aterro, asfaltamento e galeria. Mas, para frustração dos líderes regionais, o recurso não chegou. Em 2000, a pista de 570 metros quase foi duplicada, o que permitiria a aterrissagem e decolagem de aviões de porte médio, mas o executivo foi impedido de fazer, por medida judicial.

Um ano depois, em julho de 2001, o então prefeito, Geraldo Manica, assinou, com o comando da Aeronáutica, um termo de convênio para que o governo de Estrela assumisse a administração do espaço. Termo este que foi renovado em setembro de 2017, por mais 10 anos. Cinco anos depois, com pouco controle, presença constante de animais e outros problemas, a Anac interditou o local.

Pista homologada pela Anac possui cerca de 570 metros. Objetivo é liberar a ampliação de outros 400 metros, possibilitando também o pouso e decolagem de aeronaves de médio porte, dependendo das condições do tempo e da pista

Pista homologada pela Anac possui cerca de 570 metros. Objetivo é liberar a ampliação de outros 400 metros, possibilitando também o pouso e decolagem de aeronaves de médio porte, dependendo das condições do tempo e da pista

11 anos depois, a reinauguração

Foi preciso muita persistência por parte de alguns empresários do Vale do Taquari para a reabertura do espaço. A reportagem entrou em contato com alguns deles, mas nenhum quis gravar entrevista. A maioria integra o Clube de Aviadores do Vale do Taquari, e possuem empresas em cidades como Cruzeiro do Sul, Lajeado, Estrela e Arroio do Meio.

São eles que estão custeando as obras de reforma da pista, que consistem, especialmente, na reconstrução da cerca ao redor da área destinada ao aeródromo. “Isso não significa que o aeródromo será exclusivo deles. Ele é público, e poderá ser utilizado por todos”, afirma o o chefe do Departamento de Desenvolvimento Econômico da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Econômico (Seplade) do município, Guilherme Engster

A atual gestão de Estrela também foi fundamental na reabertura do espaço. Engster e o secretário da Seplade, Paulo Finck, estavam em contato com a Anac desde o início do ano, com todo o suporte do prefeito, Rafael Mallmann. Em setembro, a agência nacional atendeu ao pedido e liberou a pista para aviões de pequeno porte.

Em 1974, jornal noticiava pouso com empresários dos EUA e Suíca

Em 1974, jornal noticiava pouso
com empresários dos EUA e Suíca

Novos hangares e ampliação da pista

Os empresários querem ampliar a pista. Hoje, 568 metros de extensão por 18 de largura estão homologados, mas há outros 400 metros já destinados para a ampliação. Se homologada este acréscimo, será possível asfaltar e, com isso, destinar o espaço para táxi aéreo, com capacidade para aviões comerciais da linha regular, jato executivos de até 24,6 metros de comprimento.

Hoje, o espaço conta com quatro hangares. Todos foram construídos por empresários da região. Entretanto, o governo municipal já anunciou que irá lançar um processo licitatório para concessão destes espaços, além de disponibilizar espaço para a construção de outros quatro. “Os proprietários sabiam, ao construírem, que todas as benfeitorias passariam para o município”, diz Engster.

Antes de iniciar a licitação, o governo pretende encaminhar um projeto de lei para a câmara de vereadores, solicitando autorização para licitar os hangares e para posterior parceria público-privada com a associação dos aviadores do Vale do Taquari, que deverá assumir como mantenedora do espaço. “O projeto deve ir ao legislativo na próxima semana”, avisa o coordenador da Seplade.

Heliponto e novos negócios

Após finalizar as tratativas para a reabertura do local, o governo municipal inicia novos planejamentos. Um desses, confirmado por Engser, é a instalação de um heliponto na mesma área do aeródromo. Esta autorização também depende da Anac, e seria uma outra forma de ampliar as ofertas do modal aéreo na região, bem como a agilidade no transporte de órgãos para transplantes.

Em 1957, a inauguração do já extinto aeroporto de Estrela

Em 1957, a inauguração do já extinto aeroporto de Estrela

Hoje, há apenas um heliponto privado homologado pela Anac na região. Ele fica junto ao Blumen Park Premium, localizado no Conventos, em Lajeado. Até 2013, havia outro junto à antiga praça de pedágio da BR-386, no município de Marques de Souza. Mas este era utilizado apenas pelo helicóptero da antiga concessionária, Sulvias, para atendimento de vítimas de acidentes.

Paulo Pohl é o gerente da empresa Imojel, responsável pelo Blumen Park Premium. Ele antecipa que um grupo de empresários já se mobiliza para comprar um helicóptero. “É o futuro. E seria muito importante ter mais helipontos, públicos e privados. Cada vez será mais comum o uso deste transporte, principalmente em função da crise das nossas rodovias”, opina.

Com o aeródromo a pleno, e a possibilidade de um heliponto, líderes locais também estimam maior proximidade entre empresários do centro do país e a região do Vale do Taquari. Não seria novidade. Em 1974, por exemplo, o mesmo Jornal de Lajeado noticiava a chegada de uma comitiva da multinacional Cargil Agrícola à região, por meio da então pista do “aeroclube de Estrela”.

Três dos cinco empresários eram naturais dos Estados Unidos e Suíça. Os demais eram Valdiner Silveira Fagundes, Gerente Geral, e um representante da empresa em São Paulo. Desde setembro de 2017, esta rotina vem sendo retomada no aeródromo.

O comandante, Carlos Roni Matte, é piloto particular é trabalha com alguns empresários do estado. Segundo ele, a pista ampliada do aeródromo de Estrela permitirá pouso e decolagem de aeronaves de pequeno porte, com capacidade para transportar até 10 passageiros. “O fabricante do avião costuma limitar o número de assentos pelo tamanho das pistas”, resume ele.

Como exemplo de aeronaves, ele cita alguns modelos do avião Cessna, que são na maioria monomotores. Mas a empresa também disponibiliza jatos executivos. No aeródromo de Estrela, já é comum, desde a liberação, a passagem dessas aeronaves para levar empresários da região, principalmente, à cidades como Porto Alegre, Santa Cruz do Sul e Florianópolis.

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Riscos e acidentes

Não há registros oficiais de acidentes envolvendo o aeródromo. Entretanto, diversos pequenos sinistros já ocorreram na região. Certa vez, um ultraleve pilotado por um empresário da região passou sob a ponte do Rio Taquari e, no momento de ganhar altura, acabou caindo na água. O piloto quebrou apenas uma das pernas e sobreviveu.

Outro acidente ocorreu próximo a rua Carlos Spohr Filho, em Lajeado, ao lado de uma estação de energia. Piloto e um fotógrafo foram obrigados a um pouso forçado após um problema semelhante à pane seca. Também são citados derrapagens em função da grama molhada e, também, por desníveis causados pelo tráfego ilegal de veículos pesados na pista.

Mas, o último acidente registrado nas proximidades ocorreu em 29 de julho de 2017. Um avião, modelo ultraleve, pousou em uma lavoura na propriedade do agricultor Angelo Becker, na localidade de Vila Terezinha, no interior de Venâncio Aires. A aeronave era ocupada por dois tripulantes, que seguiam a rota Florianópolis-Santa Maria. Ninguém ficou ferido.

Rodrigo Martini: rodrigomartini@jornalahora.inf.br

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