Vegetariano com muito orgulho

Comportamento

Vegetariano com muito orgulho

Mais do que os números da balança, o acesso à informação motiva o crescimento da busca por dietas mais saudáveis, com restrição do consumo de carne

Vegetariano com muito orgulho

Há cerca de cinco anos, quando o estudante de Psicologia Leandro Marchini Peixoto, 20, tornou-se vegetariano, a oferta gastronômica desse tipo em Lajeado era quase inexistente. O jovem passou pela escassez de informações sobre o movimento, pela incompreensão de alguns médicos e vem evoluindo lado a lado com essa filosofia cada vez mais difundida. “Tenho a consciência de que a vida do animal é tão importante para ele quanto a minha é para mim.” Ele é voluntário na ONG Patas Dadas, de Porto Alegre.

Dieta defendida por ícones pops como o beatle Paul McCartney e a cantora Adele, o vegetarianismo ganha espaço nos cardápios de restaurantes e nas estatísticas. Os dados mais recentes no Brasil são referentes à pesquisa do Ibope de 2012 e indicam que 8% da população se declara vegetariana. Ignorando o provável aumento dos números, pelos menos 16 milhões de brasileiros deixaram de comer carne.

Movido pela compaixão aos animais, pela questão ambiental e pela busca por mais saúde, Peixoto deu outro passo. Há dois anos, passou a ser vegano. Eliminou todos os alimentos de origem animal – como ovos, leite e mel – da dieta, além de evitar marcas cuja produção dependem da exploração animal. “A pecuária – e a agricultura não sustentável ligada a ela – é uma das maiores causadoras do desmatamento.”

Estudante da UFRGS, o rapaz observa que a vida vegana em uma capital como Porto Alegre, onde há muitas feiras de orgânicos e produtos naturais, além de restaurantes segmentados, é mais fácil. Lá, mora com o irmão mais velho, que também é vegetariano, e um colega onívoro. A convivência é pacífica e o círculo de amigos está aberto a experimentações vegetarianas. Considera o confronto – no bom sentido: o de informações – parte do processo.

No café da manhã, uma banana com creme de amendoim, chia e granola é o suficiente até o almoço. Ao meio-dia, percorre o restaurante universitário ou a cozinha de casa em busca de grãos como lentilha, feijão e grão de bico, vegetais verdes-escuros, ricos em cálcio, e gergelim.

Ativismo

Mais do que um tipo de dieta – que exclui desde a gelatina, feita com colágeno dos animais, até corante vermelho, produzido a partir de insetos – , o veganismo, na concepção do estudante, é uma decisão política que preza também pela valorização humana. Assim como não usa produtos de couro legítimo, por exemplo, Peixoto também não consome marcas que exploram menores ou que submetem trabalhadores a condições análogas à escravidão.

Observa que o assunto referente às condições de trabalho já não tem a mesma vigilância por parte do governo brasileiro, o que muitas vezes dificulta a divulgação de informações. “O veganismo é um movimento das possibilidades. Muitas coisas não são possíveis, como ter a certeza de que alguma empresa não explora o trabalhador ou o meio ambiente. Não temos acesso à cadeia produtiva. Tento me informar na medida do possível.”

Young woman eating fresh salad in modern kitchen

“Para ter falta de nutrientes não precisa ser vegetariano e vegano”

A família da nutricionista Simone Spellmeier, de Estrela, parou de comer carne vermelha e de porco em 1997, por questões religiosas. Em 2002, mesmo ano em ingressou na faculdade de Nutrição, ela não tinha mais estômago para comer frango e aproveitou o embalo para eliminar o peixe de vez.

O vegetarianismo não teve interferência na escolha profissional nem vice-versa, mas hoje ela usa seu conhecimento para mostrar que uma alimentação sem carne pode ser completa.

Ovolactovegetariana, consome pouco leite em função da intolerância à lactose e tenta diminuir o consumo de ovos para alcançar o veganismo. Atende em sua cidade natal desde o ano passado e ficou surpresa com o número de vegetarianos na região.

Segundo ela, uma alimentação sem carne diminui o risco de infarto, de morte por doenças cardíacas, do nível de colesterol, da pressão arterial, de verticulite, de obesidade, de pedras na vesícula, de diabetes e de câncer. A nutricionista ainda comenta que RS é um dos estados líderes em casos de câncer no intestino grosso, especialmente entre os homens. “É uma crença essa de que a pessoa ficará mais fraca sem carne. Tudo depende de como será o padrão da alimentação.”

Apesar de reconhecer que a maioria dos vegetarianos acaba buscando por um contexto mais saudável de forma geral, Simone destaca que uma dieta sem carne (assim como qualquer outra) não é benéfica quando não controla a ingestão de açúcares refinados, industrializados e gorduras. “Tem que estar tudo interligado, porque só tirar a carne pode até piorar o estado de saúde.”

Em relação aos nutrientes, a profissional afirma que a B12 é a única encontrada apenas em alimentos de origem animal. Portanto, é indicado que o paciente faça exames anualmente, para detectar se é ou não necessário suplementação. Contudo, ela observa que deficiência nutricional é frequente em toda a população. “Tem gente que consome carne, lácteos e ovos, mas não consome nada de verduras e frutas e não se tem tanta preocupação. O que quero dizer é para ter falta de nutrientes não precisa ser vegetariano e vegano.”

A própria falta de conhecimento de médicos e nutricionistas, segundo Simone, é um entrave. “Sou formada há nove anos e tinha esperança de que isso mudasse, mas continua o mesmo sistema”. Em um caso mais recente, um casal vegetariano pediu ajuda para o filho de 4 anos, que não aceitava comer carne e estava com anemia. Os pais tentavam alterar a dieta do pequeno por indicação de um médico. Ela optou por investigar mais a causa. “Os exames mostraram que era uma verminose, o que é comum em crianças que comem ou não carne.”

Quem não come carne deve estar atento a alguns grupos de alimentos essenciais: leguminosas, oleoginosas, cereais integrais e sementes, além dos vegetais de cor verde-escuro. E, a quem tem interesse em seguir o vegetarianismo, ela orienta ter calma, diminuindo o consumo de carne, primeiro a vermelha, depois as brancas e peixes, aos poucos. “O paladar demorar 21 dias para se adaptar a um novo sabor.”

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Você tem fome de quê?

O vegetarianismo tem diversas classificações. Além disso, uma relação mais consciente com a natureza e com a própria saúde dá origem a diversos tipos de dietas. Confiras algumas:

Ovolactovegetariano: não come carne, mas consome ovos, leite e laticínios.

Lactovegetariano: não come carne, mas consome leite e derivados.

Ovovegetariano: não come carne, mas consome ovos.

Vegetariano estrito: não utiliza nenhum produto de origem animal na alimentação.

Vegano: além de recusar alimentos de origem animal, também elimina o uso de componentes animais como roupas, cosméticos, produtos de limpeza, etc.

Crudivorista: vegetariano estrito que utiliza alimentos crus, ou aquecidos no máximo a 42oC. Alguns podem aceitar leite cru e carne crua também, descaracterizando o termo vegetariano estrito. A utilização de alimentos em processo de germinação é comum nessa dieta.

Frugivorista: vegetariano estrito que utiliza apenas frutos na alimentação. O conceito de “frutos”, nesse caso, segue a definição botânica, que inclui também os cereais, alguns legumes, oleaginosos.

Macrobiótico: alimentação específica, baseada em cereais integrais, com um sistema filosófico de vida bastante caracterizado. Diferentemente do vegetarianismo, apresenta indicações específicas quanto à proporção dos grupos alimentares, que seguem diversos níveis, podendo ou não incluir as carnes.

Semivegetariano: não vegetariano que consome carnes, geralmente brancas, em menos de três refeições por semana.

Onívoro: aceita qualquer tipo de alimento na dieta.

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