Ao que indica o crescimento do apego aos animais e a adoção de um planejamento familiar mais rigoroso, os lares brasileiros podem ter mais bichinhos de estimação do que crianças. Segundo levantamento divulgado pelo IBGE, em 2015, o país tinha 52,2 milhões de cães domésticos, enquanto a comunidade felina foi estimada em 22 milhões.
A analista de Recursos Humanos Merelin Ketli Closs, 30, de Estrela, integra as estatísticas. Apaixonada por animais desde criança, faz quatro anos tem a Duda, uma Shih-tzu(é chamada de Maria Eduarda quando apronta).
O gosto pelos peludos é uma herança. Assim como partilham o amor, os pais de Merelin conhecem a dor do fim da vida de um bichinho. Há três anos, a família teve que se despedir do Lyon, um poodle que Merelin chamava de mano. “Eu já estava morando com o meu noivo e tínhamos a nossa filhota. Lembro como se fosse hoje, minha mãe não conseguiu me contar e passou o telefone para meu pai. Eles agora têm a ‘neta’, que mimam muito.”
Duda é vaidosa. Quando vai ao pet, a família brinca que ela vai ao “salão”. É dona de uma coleção de lacinhos e de lenços. As visitas ao veterinário são feitas em uma clínica de Venâncio Aires. Segundo Merelin, Duda já passou por várias cirurgias, como a retirada de um cisto e cirurgia dos joelhos. “Fazemos tudo para que ela tenha sempre uma vida saudável e longa.”
No aniversário, ganhou festinha e mimos, como em outras datas. “Ela adora o Papai Noel que colocamos no Natal, pois ele sempre tem presentes para ela.” É obediente: segue a única regra da casa: de usar o próprio “banheiro”, na lavanderia. A caminha fica no quarto do casal – a peluda é igualmente querida pelo noivo de Merelin, Rafael.
Duda foi adotada quando a analista se mudou de Lajeado para Estrela e ainda não conhecia ninguém na cidade. Enquanto Rafael estudava, a cachorrinha era sua companhia à noite. “Somos os pais da Duda. Nos dá tanto amor que não tem como explicar. Muitas pessoas não entendem esse amor por ela, mas, sabe, se eles tivessem a oportunidade de ter um bichinho, com certeza entenderiam.”
Equoterapia
A proximidade com animais, especificamente com cavalos, é um recurso usado pela Apae desde 2008. Cerca de 20 usuários são atendidos semanalmente.
Segundo a fisioterapeuta Juliane Walter, especialista em estimulação precoce e com formação em equoterapia, os resultados variam de acordo com os objetivos traçados para cada praticante, baseados no diagnóstico médico e, principalmente, na avaliação da equipe multidisciplinar. Destaca os efeitos motor, cognitivo, de linguagem e afetivo-social.
“Dizer que a equoterapia é mais eficaz do que outro atendimento talvez possa parecer ousado, mas, com certeza, tendo o cavalo como agente terapêutico, os progressos são alcançados com mais facilidade e agilidade”, comenta.
A neuropsicóloga e equoterapeuta Camila Mendes Vieira da Silva observa que a prática desenvolve a motricidade fina, aumenta a autoestima e a autoconfiança, e promove a sensação de bem- estar, uma vez que os pacientes são atendidos em um ambiente diferente dos tradicionais consultórios.
Ela ainda destaca que o contato com os cavalos estimula o afeto, na medida em que o paciente entende a importância do respeito com o animal, contribuindo para a capacidade de interação social. Tato, linguagem, concentração, orientação espacial e percepção visual e auditiva são aspectos que a equipe multidisciplinar consegue trabalhar, explica. “É uma forma de reabilitação biopsicossocial.”
Em relação à convivência com animais em geral, Camila comenta que há diversos estudos que indicam que pessoas solitárias têm mais tendência ao sofrimento e até a doenças do que aquelas que têm animais. Com as crianças, os bichinhos ajudam a superar a timidez e favorecem as relações sociais.
Ao mesmo tempo em que considera as relações entre seres humanos insubstituíveis, se preocupa com a frieza das mesmas e percebe que as pessoas, muitas vezes, buscam nos animais o que não encontram em seus pares. “Numa sociedade onde é cada um por si, os seres humanos estão buscando nos animais o que não estão tendo das pessoas.”
Gesiele Lordes: gesiele@jornalahora.inf.br