Cuidar da saúde é coisa de homem

Comportamento

Cuidar da saúde é coisa de homem

Eles também precisam ir ao médico e ficar atentos ao avanço da idade e aos hábitos de vida

Cuidar da saúde é coisa de homem

Já houve tempos em que a resistência masculina a consultas médicas preventivas era maior. Porém, mesmo com o avanço de campanhas como o Novembro Azul, as autoridades ainda têm um trabalho de convencer nichos mais conservadores sobre a importância dos cuidados com a própria saúde. De acordo com a idade e a genética, isso envolve acompanhamento médico regular.

Segundo pesquisa encomendada pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) ao Datafolha, 21% dos homens que frequentam estádios de futebol acreditam que o toque retal não é “coisa de homem”. 12% citam vergonha e constrangimentos como impeditivo e 48% pensam que o machismo é responsável pela resistência ao exame.

A pesquisa ouviu torcedores na tentativa de aliar a paixão nacional a esse assunto tão importante. Foram 1.062 entrevistados com mais de 40 anos.

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O oncologista Leandro Brust observa que essa resistência já não é tão presente no Vale do Taquari, apesar de existir, especialmente no interior. Para ele, os programas de saúde da família são responsáveis por essa abertura. Contudo, alguns fatores ainda são salientes na região.

Um deles, cita, é o tabagismo. Ao mesmo tempo em que nota os rapazes mais vaidosos com o próprio corpo, percebe que a conscientização não tem sido efetiva em afastar a juventude do vício do cigarro, que tem se mostrado mais predominante do que o da bebida. Esses hábitos estão diretamente relacionados a casos de câncer no pulmão, estômago e esôfago.

Outra doença, mais recorrente em áreas rurais das regiões Norte e Nordeste do país, tem sido registrada no Vale. “Surpreendentemente, a gente observa casos de câncer de pênis na nossa região. Não é de forma tão frequente, mas chama a atenção”.

Segundo a SBU, são feitas cerca de mil amputações de pênis ao ano no país em decorrência de tumor. “Os judeus, que fazem a retirada do prepúcio, têm muito menos incidência do câncer de pênis do que os homens ocidentais”, comenta.

Uma das causas é a falta de higiene íntima. Outra, a contaminação pelo vírus HPV. A prevenção é simples: água e sabão todos os dias, especialmente após relações sexuais, e camisinha. O Ministério da Saúde orienta que os pais aconselhem os meninos desde a infância.

O especialista também acredita que a abordagem sobre os cuidados com a própria saúde deve partir de casa. Ele observa que pacientes de famílias mais conscientes toleram melhor os tratamentos. “Uma família que conversa é uma família saudável como um todo. Não pode ter medo de discutir.”

Assunto de família

Foi justamente com a ajuda dos pais que o biomédico Guilherme da Costa, 25, encarou o câncer de testículo, há cinco anos.

Após sentir fortes dores na região abdominal que se irradiaram para as costas, ele procurou um médico. Depois de alguns exames, o diagnóstico era o menos desejado por qualquer paciente e o menos esperado por alguém com apenas 20 anos: câncer de testículo. “Minha reação, como a de qualquer pessoa, acredito eu, foi de espanto, medo, angústia. Pois, quando se fala de câncer, logo se pensa em várias coisas ruins.”

Nos dias seguintes, dedicou-se a entender melhor a doença. Filho de uma enfermeira, Marlete, e de um técnico em raios X, Armino, o ambiente familiar cooperou para que ele enfrentasse o impacto da notícia.

“Eles tiverem papel muito importante em todo o processo, principalmente no início, pois assimilar tanta informação não é fácil, e eles, com um bom conhecimento na área, me ajudaram a entender sobre a doença e a encará-la de frente e sem medo.”

O tratamento incluiu uma cirurgia e quimioterapia – foram cinco sessões de cinco dias, intercaladas por três semanas. Com a ajuda dos amigos e da família, superou os efeitos adversos da quimioterapia. “Ter um amparo perto sempre me deixou mais tranquilo e seguro mesmo nos momentos mais difíceis, que não são poucos durante o tratamento.”

Passados cinco anos, Costa conseguiu se curar da doença graças ao diagnóstico precoce. Além do acompanhamento semestral, o rapaz também adotou uma vida mais saudável. A partir da reeducação alimentar, emagreceu 50 quilos.

Faz exercícios físicos quase todos os dias e mantém uma alimentação balanceada. Uma nova rotina de quem aprendeu a valorizar uma segunda chance. “O câncer nos leva a refletir várias coisas da vida, e também nos mostra a força que temos dentro de nós.”

Câncer de próstata

Mais de 13 mil brasileiros morrem por causa do câncer de próstata todos os anos – é o segundo mais frequente entre os homens. Segundo o Instituto Nacional do Câncer, é considerado um câncer de idosos, já que cerca de 3/4 dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos.

De acordo com Brust, trata-se de uma doença de evolução lenta. No início, pode causar retenção da urina e obstrução da bexiga. Já no estágio avançado, pode acusar perda de peso, afetar a coluna e facilitar fraturas ósseas. “O vozinho que tem dor na coluna lombar tem que pensar em câncer de próstata.”

O tratamento inclui ingestão de comprimidos, cirurgia, bloqueio hormonal, quimioterapia e radioterapia. “Temos muitas armas terapêuticas contra o câncer de próstata, mesmo que esteja avançado”.

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Contudo, lembra que os tratamentos podem causar impotência sexual.

A combinação desses métodos é baseada em fatores como agressividade do tumor e no nível PSA (antígeno prostático específico, proteína produzida pela próstata).

Outra condição determinante é a idade do paciente. De acordo com Brust, nos casos de câncer de próstata, principalmente nos mais idosos, é empregada a estratégia watchful waiting (esperar e observar). “Ao longo do tempo de vida, existe a possibilidade de o homem vir a morrer de outras doenças, como do coração, e não vai acontecer nada por causa do câncer de próstata. Estamos falando de dois, cinco, dez anos até que alguma coisa aconteça.”

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