“Sem abelhas, não haverá alimento”

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“Sem abelhas, não haverá alimento”

Hugo Schmidt destaca a importância de preservar e ampliar a criação de abelhas para manter a produção de alimentos estável. Atividade cresce na região e aos poucos o hobby se transforma em negócio. Desafio é legalizar produção e aumentar a oferta de mel. Seminário discute desafios e perspectivas da meliponicultura.

“Sem abelhas, não haverá alimento”

Quando a última abelha morrer, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência. Sem abelhas, não há polinização ou reprodução da flora. Sem flora, não há animais e, sem eles, a raça humana não sobreviverá.

O alerta, feito pelo físico alemão Albert Einstein no século passado, causa cada vez mais preocupação.

Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), 70% das culturas agrícolas dependem de agentes polinizadores, como abelhas. Por ano, o Brasil perde de 15% a 30% das colmeias de apis mellifera, espécie de abelha com ferrão utilizada na produção de mel.

Hugo Schmidt, 70, preside a Associação dos Meliponicultores do Vale do Alto Taquari (Amevat). Empresário do ramo de construção civil, dedica-se à criação e defesa das abelhas sem ferrão faz oito anos. “Precisamos conservar esse patrimônio e conscientizar as pessoas da importância desses insetos para o nosso futuro”, afirma.

Quais as principais dificuldades encontradas pelos produtores?

Hugo Schmidt – Em vários momentos, os meliponicultores se encontram em dificuldades, às vezes de cunho natural, mas principalmente provocados por predadores. O número 1 é o próprio homem, por meio do uso indiscriminado, incontrolável e sem fiscalização dos agrotóxicos legais e clandestinos. Em alguns dias após a aplicação, um enxame pode enfraquecer ou até mesmo morrer, o que ocorre com relativa frequência.

A atividade cresceu nos últimos anos?

Schmidt – No Vale do Alto Taquari, estima-se que 10% das residências tenham alguma espécie de abelha sem ferrão em casa ou na propriedade, por hobby ou por bonito, sem nunca terem colhido mel. Na nossa associação, existem mais de 20 espécies em caixas padronizadas. Na última década, a atividade cresceu e foi organizada graças aos acompanhamentos da Emater e da Amevat. Temos meliponicultores com dezenas de colmeias. A grande maioria produz para consumo próprio, para amigos, vizinhos e, se tiver excedente, para venda.

Qual a importância dessas abelhas para a agricultura e a natureza?

Schmidt – A abelha apis e as sem ferrão, também conhecidas como nativas ou indígenas, são os insetos mais importantes na polinização da natureza, consequentemente na produção de frutos. Sem abelha, se reduz a polinização a próximo de zero. Produtores de hortifrutigranjeiros tratam de ter algumas colmeias em suas produções para otimizar esse processo e assim aumentar suas colheitas e melhorar a qualidade dos frutos.

Como fazer os produtos chegar aos consumidores?

Schmidt – Os consumidores do mel da abelha nativa normalmente são os próprios produtores, uma vez que a produção é pouca e ainda não temos legislação para o mercado. Quem conhece vai em busca do produto. O mel da abelha jataí, o mais comum no Alto Taquari e no estado, é consumido mais entre os familiares do produtor e, quando negociado, varia de R$ 60 a mais de R$ 100.

Quais os benefícios para a saúde?

Schmidt – São inúmeros e imensuráveis devido aos valores nutricionais e medicinais desse mel. Há meliponicultores que negociam boa parte da produção, in natura, para equipes medicinais ou para produtos genéricos. A abelha nativa visita quase a totalidade das flores ou plantas da natureza e talvez esteja ali o segredo para o alto valor nutricional e medicinal.

Considerações finais

Schmidt – No dia 27 de outubro, teremos o 8º Seminário Regional de Meliponicultura, no CTG Querência do Arroio do Meio, em Arroio do Meio. Será uma ótima oportunidade para aumentar os conhecimentos sobre o inseto mais importante da natureza, pelo qual é impossível não se apaixonar. Teremos palestras técnicas, exposição de enxames, modelos de caixas, venda e degustação, distribuição de estacas e plantas. Ainda abordaremos questões referentes à alimentação e cuidados na hora de criar. Sustentabilidade e polinização são temas em alta, o que nos dá uma esperança, positivismo e paira no ar um espírito consciencioso de dias melhores para recolocarmos abelhas na natureza. Cerca de 90% das matas nativas e da flora natural dependem da abelha nativa para manutenção da espécie pela polinização. Sem abelha, não haverá alimento.

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