Gilmar da Costa, 36, trabalha faz quatro anos como coveiro. Evangélico, faz os sepultamentos nos cemitérios católicos dos bairros Florestal e Hidráulica. Antes agricultor e apicultor, o homem natural de Fontoura Xavier nunca havia pensado em exercer essa profissão.
• Quando iniciou o trabalho de coveiro?
No fim de 2013, meu sogro na época era o coveiro, entrei como auxiliar dele. Com o passar do tempo, ele saiu e eu assumi o posto. Tentando sempre fazer o melhor trabalho, até por ser um profissão bem diferente. No início, foi complicado, tinha medo, receio. O fato de remover restos mortais era o que mais mexia com meu psicológico. Ficava vendo e me lembrando daquelas imagens, porque ninguém imagina no que as pessoas se transformam depois da morte. E eu também nunca imaginei passar por uma situação dessas um dia. Nem imaginei ser coveiro. Nenhuma criança diz: eu quero ser coveiro quando crescer.
• Como é o dia a dia de trabalho?
Eu estou sempre de plantão. Não tenho folgas confirmadas. Às vezes, chegamos a fazer até três sepultamentos num dia. Mas houve semanas que passamos sem sepultar ninguém. Eu sempre torço para que seja o menos possível. Hoje, já é um trabalho normal. Nada de tão inusitado acontece. O máximo que presenciei foi o ex-marido deitado sobre o túmulo da mulher, mas acho que não há nada de mais.
• Como é conviver com estes momentos de perda?
São situações complexas, mas eu tento me desligar, apenas fazer o meu trabalho, mesmo sabendo que é um momento de dor para a família. Tento não me envolver, para não levar para casa, pois também tenho minha família, e minhas perdas. Levamos cerca de 40 minutos para concluir o serviço, enquanto os familiares vão se despedindo e acompanhando. Não faço muitas perguntas, faço apenas o meu trabalho. Só quero deixar o melhor para eles.
• Qual o aprendizado que obteve por meio desse trabalho?
Às vezes nos deparamos com pessoas que querem ser mais do que as outras. Mas, na hora da morte, nada as diferencia. Para mim, o símbolo da igualdade deveria ser uma caveira, porque ali somos iguais. Não há diferenças entre o preto, o branco, o gordo, magro, pobre ou rico. Quando morremos. ficamos sem nada, assim como quando nascemos. Meu pai sempre dizia que é melhor ser um bom varredor de rua do que um péssimo médico. Então, com esse trabalho, só tive a convicção disso. De que precisamos fazer o melhor todos os dias, enquanto ainda estamos aqui, depois nada mais adianta.
Carolina Chaves da Silva: carolina@jornalahora.inf.br