O inverno atípico, com chuvas irregulares e temperaturas altas, antecipa a colheita de frutas no RS. Em algumas culturas como o pêssego, as perdas chegam a 50%. É o caso registrado na propriedade de Irto Marmentini, em Fazenda Vilanova.
Nos três hectares cultivados com as variedades pampeano, premier, vanguarda e chimarrita, a projeção era de colher em média 450 caixas. O calor fora de época e a falta de frio e de chuva prejudicaram o desenvolvimento. A brotação ocorreu dez dias antes do previstol. “As plantas nem chegaram a entrar no período de dormência. Estimo uma perda de 50% na produtividade”, calcula.
Segundo Marmentini, A quantidade ideal de frio para os pessegueiros é de 300 horas, no entanto, neste ciclo, chegou apenas a cem horas. Embora o preço tenha sido reajustado em R$ 1 em comparação com a safra passada, quando foi vendido por R$ 1,50 o quilo, o valor não cobre os prejuízos. “Sem frio, a planta não consegue descansar”, destaca.
No parreiral que ocupa sete hectares, também haverá perdas significativas, assim como no pomar de laranjas e bergamotas. “Infelizmente não temos como interferir no clima. Com certeza, o tamanho e a coloração serão diferentes”, projeta.
A estação meteorológica da Embrapa Uva e Vinho comprova a redução de horas de frio, na comparação com o ano passado. De abril a agosto, foram registradas apenas 190 horas (abaixo dos 7,2ºC) em Bento Gonçalves. No mesmo período de 2016, a estação apontou 519 horas de frio. Foram 63% a menos do que no ano anterior.
Menor tamanho e produtividade
Conforme o assistente técnico regional de Fruticultura da Emater, Derli Bonine, as frutíferas de clima temperado, como macieira, pereira, pessegueiro, ameixeira, videira, e outras, também conhecidas como frutíferas caducifólias (caem as folhas no inverno), dependem, em menor ou maior grau, de acúmulo de frio no inverno para que a brotação e a frutificação sejam adequadas. “A falta de frio fez com que a brotação fosse desparelha e insuficiente. O ciclo foi antecipado, assim como a colheita”, observa.
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Como exemplo, cita a videira, que com frio uniforme faz todas as gemas brotarem e resultar em boa produção. No entanto, neste ano, a brotação das gemas foi parcial, o que determina que o potencial produtivo seja menor. “A pouca quantidade de horas de frio pode determinar menor tamanho de frutas e deficiência na coloração”, projeta.
Preço mais elevado
De acordo com Bonine, a quantidade ideal de frio depende da espécie e da cultivar. Algumas de clima temperado, como o figueiro, têm pouca necessidade de frio. Já, a macieira, dependendo da espécie, é uma das que têm maior necessidade de frio. As cultivares gala e fuji, com maior área de produção e maior consumo no Brasil, precisam de, no mínimo, 700 horas de frio. Já as cultivares eva, condessa, princesa e julieta necessitam de 300 horas de frio, exemplifica.
Quanto ao valor pago, Bonine é cauteloso. Embora a produtividade, o tamanho e o calor possam ser afetados, o preço pode compensar as perdas. “Quando a oferta é menor, o valor pago se eleva”, destaca.
Dependendo da espécie, o tempo de exposição às intempéries meteorológicas pode ocasionar outras perdas. Por exemplo, a maçã fuji é a mais tardia, colhida nos meses de abril e maio. “Ainda temos sete meses antes do início da colheita. Tem muito risco pela frente. Por outro lado, já agora no mês de outubro, teremos colheita das cultivares precoces de pêssego. Nesse caso, o risco é bem menor”, enfatiza.
A falta de frio fez muitos produtores aplicarem produtos para quebrar a dormência e uniformizar a brotação das gemas. Um produto utilizado é a Cianamida Hidrogenada, cuja marca comercial é o Dormex. “Favorece o ciclo normal da planta”, ensina.
Estufa para amenizar perdas
As intempéries também prejudicaram a safra de morango na propriedade de Tamara Lazzari de Almeida, 33, de Boqueirão do Leão. São cultivados em torno de mil pés, a céu aberto, no sistema orgânico. “Falta de frio, excesso de chuva, calor, umidade e ataque de pragas, tudo atrapalhou. As frutas, além de apodrecer, não se desenvolvem”, comenta.
Uma das saídas para reduzir as perdas no próximo ciclo é a construção de um estufa. Com isso, a área cultivada passará para três mil morangueiros. “Conseguiremos controlar melhor as doenças, pragas e a umidade”, explica. As frutas são vendidas nas casas dos clientes ao preço de R$ 10 o quilo.
Para compensar os prejuízos, Tamara e o marido Fábio apostam no cultivo de 60 mil pés de fumo, além da criação de galinha caipira para produção de ovos. São cerca de quatro dúzias por semana.