A tradição do Dia de Finados, de limpar os túmulos e rezar pelos entes queridos, foi antecipada em alguns municípios do Vale. Dezenas de famílias aproveitaram a folga do Dia da Reforma para fazer orações e renovar as flores dos sepulcros.
Na Travessa da Paz, no bairro Florestal, onde estão instalados os cemitérios católico, luterano e municipal, o movimento foi intenso durante todo o dia.
Iracema Knebel aproveitou a manhã de sol para ir ao cemitério municipal visitar e limpar o túmulo do neto, morto há oito anos. Vento e chuva haviam quebrado um vaso sobre a lápide, mas nada que incomodasse tanto Iracema quanto o capim e a má estrutura das sepulturas. Parte delas não tem cobertura, enquanto outras estão quebradas ou sujas.

Famílias aproveitaram o tempo ensolarado no feriado pelo dia da Reforma Protestante para limpar túmulos nos cemitérios do bairro Florestal
Para ela, o município deveria cuidar mais do local, mantendo uma assistência permanente.“Deviam limpar melhor, colocar um veneno para matar esses matos.” Ela ainda teme a retirada dos restos mortais do neto, para a construção de gavetas. “Não deveriam fazer isso. Não quero que mexam aqui. Apesar de ser triste, é importante para nós ter esse momento, vir aqui, lembrar dele.”
Rafael Henrique da Silveira, 37, levou os dois filhos e a mulher ao cemitério, com o objetivo de perpetuar a tradição de cuidado com os túmulos da família. Ele tem o avô, a avó e a bisavó sepultados no cemitério, e todos os anos vai ao local para limpar e renovar as flores. “Minha vó gostava muito de limpeza, então, até usamos os mesmos produtos que ela utilizava para limpar a sepultura. Espero que quando chegar minha vez meus filhos prossigam zelando com o mesmo carinho.”
Para ele, o poder público deveria ter mais envolvimento na preservação do espaço. Uma cerca evitaria, sobretudo, vandalismos no local. “Em comparação a outros cemitérios públicos, como o de Arroio do Meio, esse aqui está muito ruim. Mas, ainda assim, melhor do que nos outros anos”, comenta.
Renda extra
Marlene Moresco Scherner, 50, aproveitou a circulação de pessoas para antecipar a venda de flores. Artesã, ela comercializa plantas artificiais, na porta do cemitério evangélico, faz três anos. A montagem dos mais de cem vasos é feita pela mãe. A idosa leva cerca de um mês e meio para confeccionar todos os arranjos. “A venda é confirmada. Tudo o que trazemos é vendido. Eu faço para ajudá-la, mas também para ter um lucro.” Além dela, outras pessoas haviam montado bancas ao longo da Travessa da Paz.
“Cada um faz sua parte”
Secretário do Trabalho, Habitação e Assistência Social (Sthas), Lorival Silveira, afirma que a limpeza no Florestal e no bairro Jardim do Cedro iniciou faz duas semanas. Quatro presos foram liberados pela Susepe para roçar e retirar entulhos dos dois espaços, que somados têm cerca de quatro mil sepulturas. Em troca, eles tiveram remissão de um dia da pena a cada três trabalhados.
“Cada um faz sua parte. As famílias precisam cuidar da sua sepultura, e nós limparmos o restante.” O secretário relata que a vontade da pasta ainda era construir floreiras para embelezar a entrada do cemitério do Florestal. Porém, devido à burocracia, o orçamento não foi liberado a tempo do Dia de Finados.
Quanto à construção das 256 gavetas, ele estima conclusão para dezembro. Ontem, funcionários de empresa contratada pela prefeitura trabalhavam no local. Eles ainda devem pavimentar a entrada, para melhorar o acesso dos visitantes.
Reparos realizados
Presidente dos cemitérios católicos de Lajeado, Vital Rezner afirma que o trabalho de limpeza no Florestal e no bairro Hidráulica começou faz quatro meses. Alguns consertos também foram feitos nas sepulturas. Ontem, ele acompanhou o movimento nos dois cemitérios. “Ainda está tranquilo, aguardamos mais para quinta-feira, nos preparamos para que tudo esteja em dia, apesar da chuva atrapalhar.” No próximo ano, a comunidade pretende construir novas gavetas.
Nos cemitérios luteranos, os preparos também iniciaram faz cerca de 15 dias. Além de ajardinamento no bairro Florestal, a equipe de quatro pessoas pintou o muro do cemitério no centro, fez a limpeza e organização nos arredores das 900 sepulturas. Amanhã, às 9h, a comunidade realiza culto no cemitério do Florestal.
Carolina Chaves da Silva: carolina@jornalahora.inf.br