Há vida depois do divórcio

Comportamento

Há vida depois do divórcio

Amar a si mesmo e saber perdoar são capacidades fundamentais para superar uma separação. Por mais desgastante que seja, o término de um relacionamento não precisa ser o fim do mundo

Há vida depois do divórcio

Nem todos os divorciados podem se dar ao luxo de viajar pelo mundo em uma romântica experiência de redescoberta, como a protagonista do best-seller Comer, Rezar, Amar. Na maioria das vezes, a burocracia, as amarras emocionais e os impactos financeiros exigem organizar as coisas sem sair do lugar – ou, pelo menos, não para tão longe quanto a Índia, Itália ou Indonésia. A empresária Tânia da Silva, 43, de Teutônia, sabe bem o que é isso.

Depois de uma década de matrimônio, ela percebeu que não havia motivos para manter a relação. Os muitos momentos bons foram abafados pelos desentendimentos, até que a admiração pelo outro acabou. O caso de Tânia foge às estatísticas. Dados do IBGE indicam que no RS os casamentos duram cerca de 18 anos, enquanto no país a média é de 15 anos.

A diferença entre as personalidades dos dois também impedia que entrassem em acordo até mesmo em decisões simples, como escolher uma atividade de lazer. “Não achava mais graça em nada com ele, as conversas não eram interessantes, então, decidi que queria ser eu mesma. Queria ser feliz.”

De acordo com a psicóloga Caroline Lima Silva, os parceiros evoluem durante o casamento, nem sempre em direções complementares. A mudança de rumos pode culminar no divórcio. Casais que se uniram na adolescência ou com diferenças socieconômicas e culturais têm mais chances de interromper a relação. Filhos de pais divorciados também.

Fosse qual fosse o motivo, no caso de Tânia, o distanciamento entre os pais já estava afetando o filho, na época com 10 anos. Ela ficou com a guarda até o garoto completar 14 anos. Depois, o menor foi morar com o pai. “Senti falta dele. Queria sentir o cheiro, fazer carinho e dar beijo de boa noite – isso, sim, foi sofrido. Chorei por semanas, de saudade”, lembra.

Foi nessa época, longe do filho, que Tânia percebeu que aquela era sua nova realidade e precisaria transformar a tristeza em forças para não sucumbir. “Me reinventei, fiz minha parte e desenvolvi uma atitude positiva diante do futuro.”

Apesar de a separação ter sido uma escolha, o processo não foi fácil. Recomer a vida, desta vez sozinha, era um desafio. “Foi um turbilhão de sentimentos: raiva, medo, angústia, discriminação, preconceito.”

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Amor próprio

Logo após o divórcio, Tânia se dedicou ao filho. Apenas quatro anos depois, se envolveu como outra pessoa. Segundo a psicóloga Caroline, cada pessoa tem o seu ritmo para aceitar a situação, mas estudos mostram que demora cerca de dois anos para se aceitarem como divorciadas.

A profissional ainda observa que a intensidade do sofrimento não está relacionada ao gênero, e que a impressão de que a mulher é mais atingida é superficial. “As mulheres expressam mais suas emoções e sentimentos, comunicam mais suas ideias e desejos, e passam a ser interpretadas como mais intensas do que os homens.”

Caroline lembra que o status de quem se separa ainda é estigmatizado. Um dos maiores impactos ocorre no círculo de amigos. Segundo ela, as pesquisas indicam que a maioria dos divorciados perde amizades. “Para as mulheres, é duas vezes mais difícil fazer novos amigos”, comenta.

Quem quiser superar essa fase e retomar a vida deve apostar no amor próprio. “A auto-observação e o autoconhecimento são fundamentais para a superação da perda. Só se pode amar alguém quando se ama a si de verdade.”

Depois de viver na pele a experiência do divórcio, a psicóloga Lisandra Zanuto criou o “Separei, e agora?”, para ajudar divorciados e divorciandos e enfrentar a fase. Confira algumas dicas do ebook 5 Passos para Você Reconstruir sua Vida após a Separação, escrito pela profissional:

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– Lide com a culpa: a dor de ver os filhos separados do pai/mãe ou a frustração de não ter chegado ao “felizes para sempre” geralmente causa sensação de fracasso e culpa. O relacionamento deve ser encarado como um processo e não como um destino. E, com todo processo, pode, sim, ter fim.

– Filhos merecem uma relação saudável: muitas pessoas arrastam um relacionamento com a intenção de fazer bem para os filhos. Mas será que é saudável para as crianças presenciarem um relacionamento conturbado? O melhor que os pais podem fazer pelos filhos é conduzir o processo de separação da maneira mais tranquila possível, sem esquecer que um mau parceiro pode ser um bom pai e que uma parceira errada pode ser uma ótima mãe. As crianças não devem ser usadas como espiãs para descobrir o que o ex/ a ex está fazendo.

– Perdão: por mais que a outra pessoa tenha causado mágoa, a raiva é um sentimento que prejudica muito mais quem sente. Além de refletir na sua saúde física e mental, sentimentos negativos podem respingar em inocentes e afastar familiares e amigos. O ódio une duas pessoas da mesma forma que o amor. Aceitar que não é possível voltar no tempo e mudar o passado é o um passo importante para recomeçar.

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