Evolução exige qualificação continuada

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Evolução exige qualificação continuada

Formação constante eleva desempenho de pessoas e organizações

Evolução exige qualificação continuada

A Câmara de Vereadores de Estrela sediou a 9 edição do Workshop Negócios em Pauta. Com o tema “Educação Continuada – como dar-se conta de que a evolução é permanente?”, o evento teve como palestrante a diretora do Senac Lajeado, Etiene Azambuja, e foi mediado pelo diretor-geral do A Hora Adair Weiss.

Consultora organizacional da Capital Verde, Raquel Winter apresentou o tema falando sobre a relação entre a gestão e a educação continuada. Segundo ela, as empresas, de uma forma geral, ainda não conseguiram compreender os mecanismos com os quais podem desenvolver a educação corporativa.

Conforme Raquel, ainda existe um conceito de que a educação corporativa está associada a treinamentos e cursos, que são métodos, mas representam o todo. “No nosso primeiro encontro, falamos em planejamento estratégico, que já é um momento de reflexão e aprendizado.”

Raquel afirma que a educação não está relacionada apenas ao desenvolvimento das competências humanas nas suas atividades ou carreira profissional, mas sim à troca e à formação de conhecimento que ocorre em todos os momentos de uma organização.

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“Setores de inovação e desenvolvimento de produtos, assim como a análise crítica dos desempenhos, fazem parte da educação continuada”, ressalta. Para ela, o debate é fundamental para romper os paradigmas relacionados ao tema.

Mestre em Educação pela PUC-RS, a diretora do Senac iniciou a palestra falando sobre os conceitos básicos da educação continuada. Citou a definição encontrada no Google, que aponta a constante qualificação do indivíduo, seja no âmbito acadêmico, profissional ou pessoal.

“Aqui, apesar de falar em desenvolvimento individual, já se percebe a confirmação de que nunca é tarde para a aprender e que sempre tem algo a ser aprendido”, ressalta. Etiene apontou os motivos que fazem as pessoas se convencer a adotar a formação constante.

Segundo ela, o primeiro argumento é o da empregabilidade e a possibilidade de galgar posições na carreira, uma vez que os maiores salários estão relacionados à qualificação. Conforme Etiene, a América Latina é o continente onde estão as maiores diferenças salariais devido ao nível de ensino.

“A diferença de salários entre uma formação média e uma superior pode chegar a 240%”, relata. Diante das constantes mudanças no mercado, a diretora do Senac lembra que um profissional não se verá fazendo sempre a mesma coisa ou da mesma forma.

“O mundo nos mostrou que isso é impossível, pois estamos vivendo essa revolução tecnológica”, ressalta. Segundo ela, até as profissões mais tradicionais precisam lidar com as alterações causadas pela tecnologia. No caso dos advogados, exemplifica, os processos da Justiça já estão quase todos digitalizados, o que exige uma adaptação impensável anos atrás.

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Conforme a diretora do Senac, a educação continuada pode ser formal ou informal. No primeiro caso, as titulações ajudam a garantir melhores colocações no mercado, a depender da área de atuação.

“O conhecimento de um idioma estrangeiro para um cargo de gestão representa um acréscimo de até 60% ao salário”, assinala. A qualificação informal estaria relacionada a pequenas ações cotidianas, como a leitura de um jornal em uma sala de espera de consultório.

Para ela, existem diversas oportunidades de ampliar a qualificação de forma continuada e sem custo, mas que não são aproveitadas pela maioria da população. Lembra que sobram vagas em cursos gratuitos porque, muitas vezes, as pessoas preferem ficar em casa diante de aparelhos tecnológicos.

“Talvez tenhamos criado a sociedade da educação descontinuada”, provoca. No caso dos processos de gestão, ressalta que todos estão vinculados ao conhecimento contínuo, não apenas do indivíduo, mas da organização como um todo.

Conforme Etiene, quando se trata de qualificação, as empresas podem ser classificadas em três tipos. O primeiro diz respeito às organizações que não realizam formação continuada e buscam no mercado profissionais para manter o trabalho sempre no mesmo nível.

O segundo corresponde às empresas que até oferecem um espaço para a qualificação formal, mas não usufruem do conhecimento individual das pessoas de forma a criar um conhecimento organizacional. “Como esse investimento não gera resultado, acaba se tornando um custo.”

O terceiro é composto pelas organizações ideais, nas quais o processo de qualificação é contínuo e ajuda a formar a cultura da empresa. De acordo com Etiene, esse modelo permite o constante aprendizado, ao mesmo tempo em que não apaga e valoriza o passado da companhia, sem ignorar os momentos de dificuldade.

Reorganização interna

Sócio-diretor da Rola Moça, Alexandre Dullius apontou os métodos utilizados pela empresa de confecções para assegurar a constante evolução das pessoas e, por consequência, da empresa. Segundo ele, o primeiro passo é o gestor se conscientizar dessa necessidade de treinar as pessoas e continuar a própria qualificação.

No caso da Rola Moça, ressalta o desafio de reforçar os valores históricos de uma empresa familiar, ao mesmo tempo que busca inovação e competitividade. Nos últimos anos, afirma, a organização tem focado em questões internas, em um trabalho iniciado com a reorganização do organograma de cargos.

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“É uma forma de estabelecer hierarquias, mas principalmente de dividir responsabilidades”, relata. Os cargos foram divididos em direção, gerentes, supervisores e coordenadores, e distribuídos nos setores. Cada setor foi instigado a pensar como um fornecedor e tratar os demais como clientes, de forma a criar maior apreço ao trabalho que repassado entre eles.

Dullius lembra que todo o trabalho de reformulação do organograma nasce da necessidade de reduzir o tamanho das equipes de forma a otimizar os desempenhos. A empresa realiza reuniões semanais com a equipe de funcionários, sempre intercalando os temas.

“Se numa semana falamos sobre técnica, produção e mercado, para não ficar pesado, na seguinte, trabalhamos treinamento comportamental”, exemplifica. Conforme Dullius, a empresa também contratou uma psicóloga para ajudar no processo de treinamento dos funcionários por meio da psicologia positiva.

Por conta própria, afirma, os coordenadores e supervisores se reúnem todas as semanas por 15 minutos para alinhar o entendimento entre todos os estágios da produção e trabalhar a união entre os setores.

Outra medida adotada é a implementação de roteiros de treinamento de função, de forma que toda pessoa contratada saiba o processo de produção. “Um funcionário do corte precisa entender desde a entrada do tecido até chegar na mesa de corte e sua destinação.”

De acordo com Dullius, o RH da empresa também incentiva a participação em eventos e palestras realizados por entidades como a Cacis, mas não interfere na decisão de integrar ou não essas iniciativas que também fazem parte da educação continuada.

Para o diretor, uma das grandes questões enfrentadas hoje pelos gestores é a dúvida entre contratar pessoas já prontas no mercado, mas que não têm a filosofia da empresa, ou dar oportunidade de qualificação às pessoas que já fazem parte da organização.

“Somos sabedores que nem sempre quem faz bem uma função fará bem a próxima, mas esses treinamentos e reuniões ajudam a avaliar para quem daremos as oportunidades”, pondera. Segundo ele, todos os maiores cargos da Rola Moça foram formados dentro da própria empresa.

Para Etiene Azambuja, maioria da população ignora as oportunidades, muitas vezes, gratuitas, de ampliar a qualificação profissional

Para Etiene Azambuja, maioria da população ignora as oportunidades, muitas vezes, gratuitas, de ampliar a qualificação profissional

Métricas de efetividade

Diretor da corretora da seguros Poolseg, Ervino Scheeren relatou as experiências à frente da companhia. Segundo ele, mesmo no ambiente de uma empresa de serviços, as pessoas que buscam uma educação contínua são imprescindíveis.

Scheeren comparou os trabalhadores atuais com os do início da era industrial. Lembra que os antigos artesãos eram pessoas com a necessidade de manter uma prática definida, que muitas vezes durava do início ao fim da carreira, algo impensável hoje.

Segundo o diretor, a Poolseg adota um sistema de medição da efetividade de um funcionário, que ajuda a orientar o processo de educação continuada para a melhoria do desempenho. Ressalta, porém, que o aprendizado começa com os líderes.

“Uma empresa que pretende ter um crescimento contínuo precisa de líderes com a crença na educação e na formação profissional contínua”, ressalta. Dentro da Poolseg, alega, todos os colaboradores são incentivados a cursar o Ensino Superior.

Para Scheeren, é preciso separar os conceitos de formação profissional dos de qualificação. Segundo ele, a qualificação deve ocorrer diariamente, e corresponde ao aprendizado dos processos para desempenhar determinada função, como a operação de uma máquina, por exemplo.

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“No caso de uma corretora, as seguradoras enviam circulares com novos produtos e procedimentos que todos precisam saber”, afirma. Diante da necessidade de unificar todas as informações, a Poolseg realiza reuniões frequentes com toda a equipe, nas quais são compartilhadas as novidades.

“Dessa forma, nossa qualificação é melhorada diariamente”, afirma. Para Scheeren, além de dispender horas com a formação profissional, é preciso estabelecer métricas de desempenho capazes de apontar as melhores orientações para cada profissional alcançar as metas definidas pela empresa.

Preocupação acadêmica

Mediador do painel, Adair Weiss falou sobre a constante reclamação dos empresários em relação à qualidade dos profissionais que ingressam no mercado após concluírem o Ensino Superior.

Professora nos cursos de Administração e Gestão de Recursos Humanos e coordenadora do Núcleo de Educação Continuada da Univates, Bernadete Cerutti enumerou fatores que contribuem para isso.

Segundo ela, é preciso perceber que a carreira de uma pessoa não é definida pela empresa, mas sim pelo indivíduo. Dessa forma, aponta, é o próprio profissional que precisa ter a iniciativa de se preparar para um mercado competitivo.

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Relatou a experiência vivida na disciplina de Estágio Supervisionado em Administração de Empresas, cuja proposta é o planejamento da carreira. No princípio, aponta, os alunos pensaram se tratar de uma cadeira desinteressante. “Ao final, todos deram depoimentos dizendo que gostariam ter cursado a disciplina no início do curso.”

Conforme Bernadete, a própria introdução do tema na grade curricular se deu devido à percepção de que os muitos alunos se formavam em Administração ainda desfocados, uma vez que a graduação habilita para diferentes áreas de atuação.

Professora da Univates, Bernadete Cerutti falou sobre a preparação dos jovens na academia

Professora da Univates, Bernadete Cerutti falou sobre a preparação dos jovens na academia

Raquel Winter lembra que, muitas vezes, os alunos saem da faculdade com vontade de aplicar o conhecimento nas empresas, mas não encontram espaço para isso nas organizações. Ressalta o excesso de tecnicismo no meio empresarial como fator capaz de frear o ímpeto dos jovens e a própria capacidade de inovação.

Para Bernadete, algumas práticas só serão aprendidas fora da academia, mas toda atividade prática se torna melhor a partir da fundamentação teórica oferecida no ambiente acadêmico. Por outro lado, ressalta, como em toda a sociedade, alguns alunos são mais preguiçosos e não têm interesse em evoluir na carreira.

“Algumas pessoas querem passar a vida inteira fazendo a mesma coisa e recebendo o mesmo salário, e são felizes assim”, pondera. No lado das empresas, ressalta a necessidade de os empresários abrirem as portas para os alunos.

Lembra que os estudantes encontram dificuldade para realizar trabalhos práticos porque as organizações se recusam a mostrar dados ou mesmo receber as pessoas. “Parabenizo as empresas que não têm medo de se abrir.”

Segundo ela, a elaboração de um trabalho de conclusão de curso dentro de uma organização representa uma consultoria gratuita para a empresa. Conforme Bernardete, os empresários também precisam evoluir para aproveitar as diferentes qualificações oferecidas, muitas vezes, de graça, por entidades como as do Sistema S.

[bloco 6]

Presidente da Cacis, Pedro Barth ressalta que parte dos estudantes enxerga nos concursos públicos a zona de conforto necessária para evitar a evolução contínua. Segundo ele, enquanto nos Estados Unidos a carreira pública aparece como última opção para os jovens, no Brasil, é o principal objetivo devido aos altos salários, estabilidade e outras regalias.

“Enquanto pagarmos melhor no setor público do que no produtivo, ficaremos na retaguarda”, acredita. Segundo ele, em uma época de conhecimento e inteligência digital, as pessoas que não buscarem o aperfeiçoamento constante ficarão para trás.

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