A proximidade dos vestibulares e a preocupação com a falta de conteúdo motivam alunos de escolas estaduais em greve a pedir transferência.
Na 3ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), desde quinta-feira, foram realizadas 21 trocas. Outras 55 foram feitas direto nas escolas desde o início da greve. Nesta semana, a maioria dos alunos que optou pela troca é do 3o ano do Ensino Médio da escola Érico Veríssimo, de Lajeado.
Eles foram encaminhados para escolas de Estrela, Forquetinha e Arroio do Meio.“Houve muita procura em função da greve. Precisamos fazer uma força-tarefa para atender a todos”, diz Greicy Wenschenfelder, da CRE.
Uma das transferências foi feita pela filha de Vanderlei da Silva, 40. A estudante do 1o ano do Ensino Médio da Érico iniciará na quarta-feira no Guararapes. Ela não quis falar com a reportagem, por medo de represálias. Mas, segundo o soldador, a adolescente, de 16 anos, está confiante na mudança.
Antes aluna de uma escola municipal, ela nunca havia tido as aulas paralisadas. A primeira sensação foi de revolta. “Ficou 50 dias sem aula, perdendo conteúdo, foi um período difícil de ansiedade.” O desejo da adolescente era fazer o Enem, para acumular conhecimento, mas o prolongamento da paralisação a fez perder a esperança e o ânimo.
“Ela não entendia, e pediu muito a mudança de escola. Apesar de ter um novo conceito de estudo, e talvez estar atrasada em relação aos colegas, acredito que irá superar. É esforçada e inteligente.” O problema maior, para Silva, será o transporte.
Nos primeiros dias, o morador do bairro Universitário, em Lajeado, deve levá-la a Arroio do Meio. Depois, dependerá do transporte público. “Vai aumentar muito minha despesa. O Érico ficava no caminho de casa. Fazer o quê? Ela precisa terminar o ano. Esperamos que o governo se sensibilize com a situação, e o próximo ano possa ser melhor. Os alunos com aula e os professores com os salários em dia.”
Avaliação caso a caso
Greicy afirma que estão sendo respeitadas as características das salas de aula para abrigar os alunos.
“Não estamos entulhando estudantes. Não vamos lotar as salas. Só queremos garantir a eles o menor prejuízo possível.” As instituições estão avaliando os novos alunos antes de encaminhar o conteúdo.
Segundo a 3ª CRE, ainda restariam 136 vagas para os concluintes do Ensino Médio na região. “Claro que não temos vagas para todos. Será por ordem de chegada”, ressalta a coordenadora.
A possibilidade de transferência foi anunciada pelo governo na semana passada, e abrange, além dos 3o anos, os 9o anos do Ensino Fundamental. A escolha de troca deve partir dos pais. Os interessados precisam se dirigir à CRE e escolher uma entre as vagas disponíveis. O transporte não está inserido.
Aulas retomadas, em parte
Na escola Érico Veríssimo, alunos do 3o ano do Ensino Médio estão tendo três disciplinas. A medida foi adotada na quarta-feira para reduzir o impacto nos estudos devido à aproximação de vestibulares e do Enem. Porém, nessa sexta-feira à tarde, não ocorreram aulas por conta da falta de profissionais. Mais da metade dos docentes, cerca de 35, ainda estariam paralisados.
Mesmo assim, dez alunos, do 1o ano do Ensino Médio e 9o do Ensino Fundamental, foram à instituição na quinta-feira para fazer atividades diversas. “Abrimos as portas para que eles possam se entreter, fazer algo na escola”, disse uma professora.
“Queremos aula”
Katiele Becker, 15, era uma deles. Aluna do 1o ano, ela teme a má qualidade na recuperação do conteúdo, e escreveu um cartaz pedindo a volta dos professores. “As aulas estão fazendo muita falta para nós. Estou com medo de não conseguir atingir minhas metas no futuro por conta disso.”
No próximo ano, a moradora do bairro Moinhos D’ Água deverá migrar para uma instituição particular. Colega dela, Natally Maria Keller, 16, não sabe ainda como deverá prosseguir com os estudos. Em casa, ela lê alguns livros, mas o aprendizado não se compara ao da escola, afirma. “Se não tem alguém para explicar fica muito complicado. Queria ter aula de novo.”
Quinze pais de alunos formaram um comissão para acompanhar esse retorno parcial das aulas e avaliar alternativas à greve.
Professores aguardam proposta do governo
Na quarta-feira, o promotor Sérgio Diefenbach afirmou que marcará um encontro entre pais e professores, para debater a situação. Porém, segundo o comando de greve, o retorno dos docentes só será avaliado após o fim dos atrasos e parcelamentos salariais. Além disso, os professores aguardam do governo uma proposta de pagamento do 13º salário. Na sexta-feira, eles foram até a 3ª CRE, para debater alguns problemas ocorridos nas escolas estaduais.
Seguem em greve
• Presidente Castelo Branco (total)
• Érico Veríssimo (parcial)
• Carlos Fett Filho (parcial- anos finais)
• Manuel Bandeira (parcial)
Carolina Chaves da Silva: carolina@jornalahora.inf.br