Mais de 400 crianças e adolescentes lotaram o auditório do prédio 7, da Univates, durante o III Conscurso Cultural Vida+Viva. Realizado pela Alsepro em parceria com as empresas patrocinadoras, o evento de ontem usou a arte para falar sobre o uso precoce de álcool e de outras drogas.
Protagonistas, os estudantes de 16 escolas de Lajeado, Bom Retiro do Sul e Progresso foram os responsáveis por desenvolver e apresentar os trabalhos relacionados ao tema. Mais do que competir, subiram ao palco para disseminar conhecimento. Criatividade e originalidade marcaram o dia.
Logo pela manhã, ocorreram as apresentações de dois projetos de vídeo e oito de dança. À tarde, foi a vez de cinco trabalhos teatrais e nove musicais receberem palmas e gritos de incentivo dos espectadores. A torcida era uma só.
Entre os participantes, estava a Escola Estadual de Ensino Fundamental de Bom Retiro do Sul. Dirigida por Marcia Porto Cardoso, a instituição participou pela primeira vez do concurso, na categoria dança.
Doze alunos, de várias séries, apresentaram a coreografia Estação vida mais viva, que envolveu poesia e teatro junto com a dança. Conforme a diretora, os ensaios iniciaram faz algumas semanas, mas a temática do uso precoce de álcool já era trabalhada na escola. O objetivo era então convergir para dentro da arte o aprendizado obtido ao longo do ano.
“Fizemos palestras, abordamos o tema com os pais, para que não ensinem os filhos a beber dentro de casa. Formamos parcerias e está sendo muito bom. A competição é o resultado disso, e não queremos parar.”
Outra competidora da categoria foi a Apae de Lajeado. Francine Becker é professora da instituição,mas também integrou o grupo de dança, composto ainda por 12 alunos, e a professora Magiela Dresch. Intitulada de A vida é feita de escolhas, a coreografia ensaiada desde abril foi sofisticada, mas nada difícil para os estudantes. “Um professor voluntário criou os movimentos. No início pensávamos: será que vão conseguir? Mas, como sempre, vimos que são capazes.”
O empenho os fez conquistar o primeiro lugar. Na sala de aula, o debate sobre o tema do concurso foi levado à discussão. “Nas próprias camisetas deles, há palavras que mostram o quanto a família, o amor e a educação são importantes para a conscientização dos jovens”, ressaltou Francine.
Ferramenta social
Uma das oito juradas do concurso, a professora de Educação Física da Univates Silvane Fenstenseifer, assistiu aos trabalhos pela terceira vez. Considerou a evolução do concurso, e percebeu o quanto a arte é o melhor meio para trazer esse tema aos estudantes. “Acredito muito na arte como dispositivo para trabalhar questões sociais. Aqui encontram uma maneira de se divertir, ter prazer e levar alegria falando de uma situação tão pesada.”
Para as alunas da Escola Municipal de Ensino Fundamental Vida Nova, do bairro Conventos, Amabile Scherer, 10, e Amanda Bergmann, 11, a dança foi a forma encontrada para repassar o conhecimento sobre o assunto. “Aprendemos que menores de 18 anos, como nós crianças, não podem consumir álcool, pois faz mal para nossa saúde. Além de trazer sofrimento para nós e nossa família, podendo nos afastar dos nossos amigos”, relata Amabile.
Jamile Vanderleia Martins da Silva, 13, e Adrieli Paiano, 14, transmitiram nos passos da coreografia a transformação causada pelo álcool. Alunas da escola Oscar Koefender, do bairro Das Nações, o objetivo delas era passar aos colegas a certeza dos malefícios do consumo de bebidas alcoólicas antes dos 18 anos. Além disso, mostrar o quanto a vida pode ser melhor longe das drogas. “Para ser feliz, não precisamos beber. Devemos aproveitar o que a vida tem de bom para nós, e isso está longe das bebidas. Já vi muitos amigos e parentes que, por conta da bebida, estragaram a própria vida, e hoje estão batalhando para reconstruir.”
Incentivo aos projetos
Para cada projeto homologado, o programa deu ajuda de custo de R$ 150, a fim de viabilizar o desenvolvimento e aprimoramento da iniciativa selecionada. Além de ofertar oficinas focadas em dança, teatro, música e vídeo, com o objetivo de elevar o nível da competição.
O primeiro colocado de cada categoria recebeu R$ 1.050, um vale-cupom de R$ 150 na Livraria Nobel, troféu e certificado de classificação. Os vice-campeões levaram um prêmio de R$ 650, vale-cupom no valor de R$ 150 na Livraria Nobel, troféu e certificado de classificação. Os terceiros colocados ganharam prêmio de R$ 450, troféu e certificado de classificação. Os demais receberam certificados de participação.
Vencedores concurso cultural
Vídeo
1º lugar – Adolescência sem álcool – Escola Fernandes Vieira
2º lugar – Pense bem, pense legal, se beber álcool, você pode se dar mal – Escola São João
Categoria dança
1º lugar – A vida é feita de escolhas – Apae
2º lugar – A última balada – Escola Francisco Oscar Karnal
3º lugar – Liberte-se dessa vida de álcool e drogas e viva em paz – Escola Otilia Corrêa de Lima
Categoria teatro
1º lugar – As mãos que formam a rede de apoio – Escola São José de Conventos
2º lugar – O mágico de óx – Escola Vitus André Morschbacher
3º lugar – Viva melhor sem o álcool – Slan
Categoria música
1º lugar – Música que encanta – Slan
2º lugar – Cantar, tocar, conscientizar e amar! – Escola Básica São Francisco
3º lugar – O álcool jogo fora, a vida é bem melhor – Escola Vida Nova
Entrevista
“Por trás do concurso, há informação”
Um dos diferencias em relação às outras edições é a apresentação de todos os trabalhos ao público. Como está sendo essa maior participação das escolas hoje?
Neidemar Fachinetto – É nesses momentos que a gente acaba encontrando forças para continuar. É fantástico ver eles se apresentando. Eles produzindo, eles trabalhando, num tema que não é trivial. Porque, para a criança, a bebida é algo bom, ela vê na televisão, vê no futebol, em todos os lugares. Aquelas mulheres lindas, carros maravilhosos, aquela vida feliz, sempre acompanhada do álcool. E não vê o outro lado ruim, que traz problemas. Então é ótimo ver eles olhando para isso, se envolvendo com esses temas. São mais de 400 jovens participando ativamente hoje.
De que maneira o concurso auxilia crianças e jovens a aprender sobre esse “lado ruim”?
Fachinetto – O teatro, a dança, a música e o vídeo, para mim, são as melhores formas de levar esse aprendizado. Porque, no fim das contas, são eles que vão escolher se irão consumir, e o quanto irão consumir. Então, se nós conseguirmos criar uma juventude com boas informações, a tomada de decisão será melhor. Por trás do concurso, há informação, o conhecimento produzido de forma lúdica, de uma maneira que nem percebem o quanto estão aprendendo.
Você percebe a evolução do engajamento das escolas no concurso?
Fachinetto – Nesta edição, abrimos para a região. Progresso, Cruzeiro do Sul, Bom Retiro do Sul. Então, o crescimento está se dando, porque já não é uma ideia totalmente nova. Claro, nossa meta era atingir 40 trabalhos, conseguimos 26. Mas precisamos ver o lado positivo: a mobilização de quem aceitou a ideia. O prêmio pode ser muito mais do que eles recebem o ano inteiro do gestor da escola, e vão poder usar em projetos coletivos, na biblioteca, em algo que seja bom para todos. Isso só faz multiplicar o bem proporcionado pelo projeto. Ainda assim, queremos mais: ser um programa de impacto comunitário. Hoje chegamos a dois, três mil alunos, mas desejamos ser lembrados do bairro A ao B com a mesma intensidade. Mas isso leva tempo.
Carolina Chaves da Silva: carolina@jornalahora.inf.br