Depois de 46 dias, a greve do magistério estadual motiva discordâncias de opiniões. As comunidades escolares das escolas Castelo Branco e Érico Veríssimo – únicas com paralisação total são exemplo disso. Enquanto na Castelo o movimento ganha apoio dos alunos, na Érico, os pais cobram a volta às aulas.
Mãe de dois alunos do 1o ano da Érico Veríssimo, Christiana Garcia afirma que, apesar de apoiarem a busca por direitos dos professores, os pais querem a volta às aulas. Para eles, o objetivo principal dos servidores foi atingido. Hoje há um total de 75 profissionais parados na escola, entre professores e funcionários. “Durante 30 dias os apoiamos, porque queriam os salários em dia. E, neste mês, até o dia 9, foi tudo normalizado, por isso, estranhamos a continuidade do movimento.”
Na terça-feira passada, ao buscar uma solução com os professores, cerca de 30 pais teriam sido impedidos de participar da reunião dos docentes e Cpers. Depois de algum tempo, os pais puderam acompanhar o encontro, porém, não entraram em acordo com os professores.
A informação foi negada pelo diretor do 8º Núcleo do sindicato, Gerson Luis Johann, e Camila Santos, uma das professoras da escola. “Participaram da reunião, de toda conversa, só pedimos para que saíssem no momento da votação dos professores, assim como fizemos”, diz Johann.
A discordância levou cerca de 15 pais ao Ministério Público, na sexta-feira, para prestarem queixa-crime contra o Estado, pedindo a garantia do direito às aulas.
“Sabemos pelo que passam (os professores), mas nossos filhos têm direito às aulas. Nossa maior preocupação é com quem está no 3o ano. Eles nem terminaram o segundo trimestre. Então não tem conteúdo para o Enem, e podem chegar ao vestibular sem o número de dias letivos suficiente”, teme Christiana.
No domingo, o grupo de pais ainda realizou Caminhada da Paz. Cerca de 70 pessoas foram do Posto Faleiro até a escola. Ontem, foi realizada uma nova reunião para tratar do assunto. Até o fechamento da edição, o encontro não havia acabado.
Pressão pelo encerramento
Para Johann, o movimento dos pais é legítimo. Mas a forma como estão trabalhando é “discutível”. “Os professores estão sendo questionados. É um movimento de pressão. Não me parece que tenha algum argumento por trás.” Camila também apoia a manifestação dos pais, mas afirma que a categoria não pretende parar a greve.
“Nós não estamos parados porque gostamos. Realmente fomos obrigado a isso. O único responsável é o governo. Marcam reunião com o comando, e não falam nada. Só vamos nos reunir quando tiver uma proposta efetiva.”
Apoio à greve
No fim da tarde de ontem, alunos, pais e professores da escola Castelo Branco voltaram às ruas. O ato foi liderado por estudantes. Uma delas, Emily de Almeida, do 2o ano do Ensino Médio.
Ao lado de colegas, criou, em setembro, o grupo A sala de aula vai para a rua. A estudante aposta no protesto como a única forma de mudar a situação vivida faz anos pelos professores. “Não é somente uma luta pelos professores, mas pelos alunos. Acredito que nosso dever é lutar junto com eles. Hoje são eles, e amanhã, depois quem será?”, questiona.
Transferências abertas
Desde ontem, alunos do 3o e 9o ano das escolas em greve podem buscar a transferência para instituições em funcionamento. Em cada CRE, uma comissão foi formada para tratar do assunto.
Segundo o Estado, o objetivo da ação é impedir que os vestibulandos tenham uma preparação inadequada e sejam afetados por outros problemas causados pelo atraso em seus certificados de conclusão. O mesmo ocorre com os alunos do 9o ano. Sem o certificado de conclusão, e ainda tendo de assistir às aulas, podem perder a matrícula no Ensino Médio.
Carolina Chaves da Silva: carolina@jornalahora.inf.br