Mestre em Divindade pela Luther Theological Seminary (EUA), o pastor Eric Nelson dedica 21 dos seus 49 anos ao sacerdócio. Natural de Campinas (SP), atua faz nove anos em Lajeado, onde ministra na IECLB. Ele fala sobre a Reforma Protestante, que completa 500 anos no dia 31.
• Quais os legados de Lutero?
Lutero redescobriu um Deus amoroso, que ama a sua criação. Isso trouxe reflexos para a compreensão da fé das pessoas, sobre o que Deus esperava delas, e também na relação com as autoridades, sejam elas eclesiásticas ou não. As pessoas passaram a se valorizar como indivíduos com opinião e valor. Ele lutou muito pelo direito de todas as crianças estarem na escola. Estimulou a música, dentro e fora da igreja. Também levantou questionamentos sobre as funções dos governantes. Escreveu livretos orientando os príncipes de que deveriam pensar mais nas pessoas do que em si.
• A existência de tantas igrejas, como há no Brasil, é algo bom?
Lutero nunca teve a intenção de criar uma nova igreja, ele era um monge que amava a Igreja Católica. Foi a sua excomunhão que levou ao Protestantismo, que depois recebeu o nome de Luteranismo. Também não era da vontade dele que seu nome fosse usado, mas a história foi levando a isso. Entendemos que a ideia não é promover a criação de mais igrejas. Temos nos esforçado em promover o ecumenismo. Não entendemos que a criação de novas igrejas seja algo benéfico. Precisamos buscar formas de nos unir e criar um senso cristão comum.
• O ativismo político dos jovens é um obstáculo para a conversão?
Algumas pessoas têm a impressão de que o jovem pós-moderno não se interessa pela fé. Podemos dizer que a instituição igreja e o comprometimento com ela, para muitos jovens, não é atraente. Mas é notório que a espiritualidade continua viva na vida das pessoas. O envolvimento do jovem na política é importante e mostra que ele quer se envolver. Precisamos convidar o jovem para conversar sobre o sentido da vida, para que tenhamos uma experiência mais profunda do que meramente divertimento. O jovem desafia a igreja, mas a igreja pensa que o jovem tem a sua espiritualidade, que precisa ser nutrida, orientada e precisa de conhecimento.
• Se Lutero estivesse vivo, o que o senhor acha que ele diria sobre o mundo de hoje?
Creio que Lutero diria que o fanatismo não é saudável, que precisamos ouvir uns aos outros, buscar a razão das nossas crenças. O fanatismo e extremismo não combinam com aquilo que a gente percebe na pessoa de Jesus Cristo: amor, justiça, perdão, humildade. Por outro lado, precisamos nos comprometer de uma forma consciente e também aberta com aquilo em que acreditamos.
Gesiele Lordes: gesiele@jornalahora.inf.br