Tamanho GG  também é moda

COMPORTAMENTO

Tamanho GG também é moda

Mulheres gordas ganham valorização na indústria de vestuário. Perder alguns quilos não é mais desejo unânime

Tamanho GG  também é moda

As passarelas e o mundo fashion já cultuaram descaradamente a magreza das modelos, isso é indiscutível. Garotas que mais pareciam cabides vivos desfilavam roupas feitas para vestir corpos de bonecas, não de mulheres reais.
Contudo, em tempos atuais em que discutir padrões – e consequentemente quebrá-los – parece objetivo recorrente, é possível sentir uma valorização do padrão de beleza que se aproxima de um corpo feminino mais humano. Ostentar curvas não é algo “errado”. É questão de escolha pessoal, ninguém tem nada a ver com isso. E se vestir mal não é mais desculpa.

A primeira Miss Brasil Plus Size, Cléo Fernandes, falou com exclusividade com o caderno VOCÊ. sobre o destaque das gordinhas na moda. E trouxe uma realidade um pouco diferente do que estamos acostumados a fantasiar.
Ela afirma que ser magra ainda é requisito para permanecer nas passarelas, mas a exigência por um corpo esquelético já não a impede de encontrar roupas que lhe agradam. “Nunca me faltou trabalho para mostrar peças. Ser gorda não me torna incapaz nem menos do que outra modelo ou consumidora”, tasca.

Quando conquistou o título máximo em um concurso de beleza, em 2012, a vida de Cléo ficou mais fácil e o trabalho como modelo deslanchou. “Ser a mulher mais bonita em um concurso pesando 98 quilos foi algo libertador”, relembra. O segredo da miss Plus Size é não perder tempo tentando esconder detalhes do seu corpo que possam parecer “imperfeição” aos olhos dos julgadores de plantão. voce_11

Todas as mulheres são diferentes e é justamente essa divergência que torna o feminino tão belo. “Independentemente do peso, me sinto incluída, participante. Posso vestir o que eu quiser e me sentir bem porque a autoestima está ótima”, revela Cléo.

Moda se rende ao “além do G”
Foi a partir da temporada outono/inverno 2010 que marcas norte-americanas desfizeram as amarras que as distanciavam do público GG. Desde então, elas têm mirado em corpos mais cheios – e expondo as peças para venda em araras junto com os tamanhos menores. Nada mais justo. As mulheres gordas já podem usar Alexander McQueen, Dolce & Gabbana, Fendi, Chanel, Oscar de la Renta e Valentino.
Finalmente as grifes entenderam que negligenciar corpos não tão magros é perder uma fatia interessante de mercado. Segundo pesquisa da Global Purchasing Companies, uma das agência de desenvolvimento de marcas mais respeitadas dos Estados Unidos, o nicho plus size vale US$ 27 bilhões em todo o mundo. Tomara que essa onda alcance as marcas brasileiras.

Símbolo de beleza
Cléo garante que o espírito da moda é se sentir bem, ressaltar os pontos positivos que são, muitas vezes, individuais. Saber que as gordinhas ganham espaço no universo da beleza deixa a modelo orgulhosa. Para ela, sentir essa inclusão é animador. “A cobrança por um padrão de corpo inalcançável para se vestir bem é crueldade”, define.
Controvérsias entre moda X peso pode ocorrer por duas frentes: por imposição dos outros ou por cobrança própria. Em uma sociedade machista, as mulheres são ensinadas a serem umas contra as outras, abusarem das críticas e permanecerem em regime de competição. “O feminismo está aí para mudar isso”, garante a miss gorda.

Ela revela que muitas meninas a procuram nas redes sociais para dividir angústias e ganhar algum conforto quando as opiniões alheias as machucam. “A moda sempre teve muito a ver com o preconceito contra as gordas. É justo que uma discussão atual surja daí”, define Cléo.

Não é gordinha, é gorda mesmo
Falando em redes sociais, o canal digital é realmente um dos mais usados para discutir a moda inclusiva. A percussionista e artesã Cintia Ferreira da Silva administra, desde 2013, a fanpage “Gorda não é uma palavra ruim”, que envolve cerca de três mil pessoas em debates sobre o tema em ambiente digital. Ela tem um trabalho forte contra o que chama de “gordofobia” e dá uma opinião contundente sobre o uso da palavra “gordinha”. “A palavra ‘gordinha’ infantiliza a mulher e é uma tentativa de amenizar uma situação que nem sempre é encarada como algo negativo”, defende.

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