Em dez meses, a região teve mais de dez ações de quadrilhas especializadas em assaltos a banco. Na maioria dos casos, as tentativas ocorrem em cidades pequenas, com baixo efetivo da Brigada Militar, pela madrugada e com uso de explosivos para arrombar os caixas eletrônicos ou acessar os cofres das agências.
Em situações mais graves, a articulação ocorreu durante o dia, com uso de armamento pesado e moradores usados como reféns. Apenas nos meses de janeiro e março não houve tentativas de arrombamento em unidades bancárias no Vale do Taquari.
Em três ações, os bandidos usaram reféns. Uma delas foi em Putinga. O assalto ocorreu durante o dia, em duas agências, e assustou moradores. Clientes foram usados como escudo humano. No início do ano, a mesma estratégia foi usada em Fontoura Xavier, município próximo do Vale.
Nos ataques pela madrugada, é característico o uso de explosivos. O assalto mais recente ocorreu no início do mês em Paverama, no Banrisul. Depois dos danos causados no prédio, a estimativa é de que os serviços voltem à normalidade em 30 a 45 dias.
O governo do município e representantes da agência se reúnem na segunda-feira para tentar buscar outro local para retomar o serviço, até a conclusão da obra.
Insegurança afeta serviços
A situação amedronta a população dos municípios e começa a gerar mudanças na rotina dos moradores. O Banco do Brasil
anunciou nesta semana a suspensão das atividades em três municípios do Vale. Entre eles, Boqueirão do Leão e Progresso. No RS, cinco municípios perdem os serviços devido a problemas com segurança.
A mesma decisão foi oficializada em Paverama. A cidade teve a agência atacada no dia 18 de julho, entre 1h e 1h30min. Criminosos colocaram dinamites e explodiram os caixas eletrônicos e dois cofres.
A superintendência do Banco do Brasil decidiu encerrar as atividades no local e transferir os clientes para a agência do bairro Languiru, em Teutônia. O fim dos trabalhos ocorre a partir do dia 20 de novembro.
População considera retrocesso
A população foi comunicada na quinta-feira. Um cartaz fixado na porta da agência informa a decisão. A medida gerou descontentamento e comerciantes fizeram um protesto durante a tarde. De acordo com a presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Erenilta Corrêa Bernardo, a suspensão do serviço representa um retrocesso para a cidade.
“Depois da explosão da agência do Banrisul, na semana passada, ficamos apenas com os serviços do Banco do Brasil. Até onde sabemos, o Banrisul também não pretende reabrir. Isso é um retrocesso, sem nenhuma agência voltamos a ser uma vila.”
Mobilização
Na quinta-feira, cerca de 50 empresários fizeram um protesto em frente à agência. “Nossa ação foi pacífica. Queremos mostrar
os prejuízos que o fim das atividades pode causar”, afirma a representante da CDL.
Segundo Erenilta, além dos transtornos causados, os moradores ficarão vulneráveis no trajeto que terão de fazer para se deslocar até Teutônia. Na avaliação dela, a situação favorece que moradores deixem de consumir e investir no município e vai impactar na arrecadação.
“Esse cenário dificulta a vinda de novos investidores. Como uma empresa de maior porte poderá se instalar no município, se vai precisar se deslocar para outra cidade para ter acesso aos serviços bancários e os funcionários terão acesso ao banco.”
Articulação política
De acordo com o secretário de Indústria, Comércio, Turismo e Desenvolvimento Econômico, Marcelo Kreimeier, o município está articulado para tentar reverter a situação. Na terça-feira se reúne com a superintendência do Banco do Brasil em Porto Alegre para debater o tema. O encontro foi agendado pelo deputado estadual Edson Brum (PMDB).
“Os funcionários da agência foram comunicados no fim do dia na quarta-feira. Nós fomos informados na quinta-feira ao meio-dia. Essa decisão prejudica muito a economia local e gera transtornos aos moradores e empresários. Vamos fazer todos os esforços possíveis para alterar essa decisão.”
Os deputados Alceu Moreira (PMDB) e Sérgio Moraes (PTB) estiveram na cidade no fim da semana e, em Brasília, tentarão impedir o fechamento da agência.
Ramificação estadual
De acordo com o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), responsável pela investigação dos ataques a banco, os grupos têm ligação com facções instaladas nos vales dos Sinos e do Rio Pardo e na Região Metropolitana.
As facções facilitam a aquisição e fornecem veículos furtados, roubados e armamento oriundos de outros países. A organização está articulada em todo RS e reúne criminosos de diversas localidades.
Em maio, a operação Tríade desarticulou três organizações criminosas responsáveis por ataques em 2016 e 2017.
Com baixo efetivo, BM muda estratégia
Com baixo efetivo e com poucos recursos, a Brigada Militar não reage aos ataques. O objetivo é assegurar a integridade dos policiais e da população. Os soldados das cidades afetadas buscam reforço e tentam fazer a repressão após o início da fuga. Planos de barreira são feitas nas localidades lindeiras para tentar conter os criminosos. A orientação de não reagir é dirigida para vítimas dessas situações.
Ataques a bancos na região
Fevereiro
Progresso – Cidade foi alvo duas vezes neste ano. Um ataque ocorreu no dia 25 de fevereiro, no Banco do Brasil, e criminosos usaram explosivos e fizeram reféns.
Abril
Pouso Novo – Na madrugada de 8, criminosos explodiram agência do Banco do Brasil e fizeram um cordão humano com vítimas. Depois da ação, atiraram contra uma viatura e um posto da Brigada Militar. Quatro pessoas foram levadas como reféns durante a fuga.
Boqueirão do Leão – No dia 21, quadrilha explodiu caixas eletrônicos do Banco do Brasil.
Maio
Sério – A agência do Banrisul foi arrombada no dia 11. Criminosos abriram o cofre com maçarico e conseguiram levar o dinheiro.
Junho
Putinga – Duas agências bancárias, uma do Banrisul e outra do Sicredi, foram assaltadas no dia 7. Os bandidos usaram clientes e pedestres como cordão humano para evitar a presença da Brigada Militar. Durante as buscas, um policial foi morto de forma acidental.
Marques de Souza – Tentativa frustrada de assalto à agência do Banrisul ocorreu no dia 29. Quatro indivíduos arrombaram o local e tentaram acessar o cofre da agência.
Julho
Progresso – No dia 8, agência do Sicredi teve os terminais explodidos. Criminosos chegaram em dois veículos e efetuaram disparos contra o prédio da polícia.
Paverama – Dez dias depois, a agência do Banco do Brasil foi atacada. Criminosos colocaram dinamites e explodiram os caixas eletrônicos e dois cofres.
Agosto
Bom Retiro do Sul – No dia 19, uma agência do Sicredi foi arrombada. Moradores que passavam pelo local foram feitos reféns durante ação.
Setembro
Tabaí – No dia 20, por volta da 1h, criminosos roubaram a agência do Banrisul.
Outubro
Paverama – Criminosos explodiram a agência do Banrisul na madrugada do dia 4. O cofre e um caixa eletrônico foram abertos.
Cássia Paula Colla: cassia@jornalahora.inf.br