Professora do 5º ano, Simara de Oliveira Kreutz, 42, já está acostumada com a ansiedade dos alunos que concluem o 4º ano. É quando eles passam de desenhistas a autores dos textos publicados pelo projeto Jovens Poetas. “No início do ano, eles já começam a perguntar se terá o livro”. Com tradição de mais de 20 anos nas redes de ensino pública e privada de Lajeado, a proposta ganha força enquanto recurso pedagógico.
Para Simara, a liberdade de poder escrever sobre qualquer tema é uma forma de estimular a criatividade dos alunos, além de permitir que eles lidem melhor com os sentimentos. Poesias sobre outros familiares são as mais frequentes, principalmente sobre a figura materna. “Aquilo que não conseguem falar, eles escrevem. São textos que realmente emocionam”, observa.
Por outro lado, muitos alunos aproveitam para desabafar sobre situações enfrentadas em casa. “Contam situações de drogas ou de brigas na família, o que acontece com o pai e a mãe.”
As crianças costumam escrever conforme a professora pede e também de forma espontânea. Se acham que algum escrito tem potencial, guardam e entregam na época de seleção do material para o livro. “Eu acho que é uma motivação para que eles leiam. O livro não deve estar na estande; deve nos acompanhar onde formos, ser um companheiro.”
A professora de cada turma faz uma pré-seleção de alguns textos, que passam pela revisão de professores de Português. A escolha final é feita em conjunto pelos docentes. Este ano, cerca de dez alunos da Campestre participam da produção do livro.
A 22ª edição da obra Jovens Poetas de Lajeado é promovida pelo Rotary Club Engenho e será lançada no dia 27, na Univates. O projeto tem patrocínio do Super Rissul e do Grupo Estilo Atual, além de apoio cultural do jornal A Hora.
Novas gerações
Na 22ª edição, o Jovens Poetas é uma atividade que une gerações. A aluna do 5º ano, Fernanda Flores dos Santos, 10, não publica neste ano, mas já tem história com o projeto. A mãe, Andréa Flores, já teve um poema publicado. “A minha mãe me deu o livro dela. Lembro que o título da poesia que ela fez é Sentada na Praça”.
Natural de Belém do Pará e morador de Lajeado faz 7 anos, Thiago Fernando Farias da Silva, 10, aluno do 5º ano, estreia no livro Jovens Poetas. O tema aborda a importância do combate à drogadição. Texto semelhante ele usou durante a participação no Proerd, destacando-se com a melhor redação.
Frequentador assíduo da biblioteca da escola, já perdeu a conta de quantos livros leu este ano. Entre os preferidos, o menino destaca a coleção Diário de um Banana. Agora finaliza Depois de Você (Jojo Moyes) e Elixir (Hilary Duff). O gosto pela leitura acompanha o prazer da escrita.
Thiago também escreve o primeiro livro. A história tem como cenário um reino, onde a fada Eleonor busca ajuda para evitar o efeito de uma maldição. “É um romance com ficção”, resume.
Liberdade para se expressar
Para os detentos do presídio de Lajeado, as poesias do Jovens Poetas representam uma forma de expressão e um meio de mostrar a realidade. Pela primeira vez, alunos do Neeja Liberdade terão obras publicadas. São seis poesias ao todo: duas de cada uma das galerias masculinas e duas do feminino.
Muitos textos refletem a expectativa que os presidiários têm em relação à vida em liberdade. “Quando eu sair da prisão, vou colocar os pés no chão”, diz um trabalho. Outros descrevem a rotina do cárcere. “Estou aprisionado, mas não estou jogado. Voltei para escola e também jogo bola. Aqui falta colchão, mas coragem para vencer, tenho de montão”, diz outro.
Segundo o diretor do Neeja, Adalberto Koch, projetos como esse fazem a comunidade enxergar o potencial dos presos. “Só nessa oportunidade conseguimos ver as capacidades e potencialidades que temos ali dentro.”
Gesiele Lordes: gesiele@jornalahora.inf.br