Colunista de economia do jornal Zero Hora, a jornalista Marta Sfredo foi a atração da reunião-almoço da Acil ontem. Com atuação na área econômica desde 1995, a palestrante falou sobre o alcance e os limites dos sinais de retomada do crescimento no país.
Segundo ela, os indicadores evidenciam essa reação, mas ainda existem grandes desafios a serem vencidos para que o ciclo de crescimento seja sustentável. Conforme a jornalista, os três principais motivos para a melhora do cenário são a retomada da confiança dos investidores, a redução da taxa básica de juros e a queda da inflação.
“Parte disso ainda é reflexo da recessão”, aponta. Conforme Marta, diferente dos anos em que a crise alcançou seu auge, o cenário internacional também favorece. Lembra que no fim de 2014 falava-se na chamada “tempestade perfeita”, em que os problemas internos eram ampliados por um cenário internacional desfavorável.
Apesar de reforçar o otimismo das projeções, a jornalista alerta para as limitações desse crescimento. Segundo ela, para que o avanço seja sustentável, é fundamental assegurar o equilíbrio nas contas públicas, atrair investimentos internacionais e melhorar o ambiente de negócios, desburocratizando tributos e processos.
“O telhado do nosso país está cheio de buracos que precisamos consertar”, ressalta. Conforme a jornalista, é fundamental assegurar uma estabilidade jurídica tributária para que o país possa avançar em suas potencialidades.
Entre as medidas ainda necessárias, destaca três grandes reformas nacionais, a tributária, a previdenciária e a política. Ressalta que parte dos economistas se mostra muito otimista quanto ao crescimento para o próximo ano caso o país consiga avançar nesses pontos.
Reunião na Cacis
Hoje a Cacis de Estrela promove reunião-almoço com o vice-presidente do CRC/RS, Celso Luft. O evento ocorre às 11h45min, no Estrela Palace Hotel, e terá como tema a atuação do Fisco.
Luft apresentará dados da Receita por meio do cruzamento de informações fiscais, econômicas e financeiras das organizações.
Abordará também o e-Financeira, sistema que entrou em vigor em dezembro de 2015, e que busca todas as informações de pessoas físicas, que movimentaram mais de R$ 2 mil por mês, e das pessoas jurídicas com movimentação acima de R$ 6 mil mensais.
“ Lajeado tem muito a ensinar ao RS”
Como fazer com que a retomada do crescimento econômico seja sustentável?
Marta Sfredo – Se olharmos os ciclos históricos econômicos, vemos períodos curtos de crescimento intenso que não se sustentam ao longo do tempo porque não fazemos o necessário, não realizamos reformas e não tomamos decisões políticas adequadas. Esse é um risco que existe. No começo da crise, vários economistas falavam sobre as oportunidades que não deveriam ser perdidas. Só numa crise muito grande se tomam as decisões difíceis, porque não há outra alternativa. Fizemos algumas coisas, mas estamos ainda longe do ideal.
Diante da crise nas finanças do RS, o que é preciso para o Estado aproveitar os sinais de melhora na economia nacional?
Marta – Não tenho uma resposta acabada para essa pergunta, mas tenho alguns palpites. No RS, levamos a grenalização ao máximo. Se por um lado é bom que as pessoas tenham posicionamento, por outro lado, temos que aprender a construir consensos possíveis. Uma das coisas que incomoda é a demora para adotar medidas, e mais ainda a demora para as medidas serem aprovadas. É uma paralisia que sufoca, muito disso ocasionado por essa cultura de grenalização.
Como avalia a realidade de Lajeado nesse cenário?
Marta – Tive uma impressão muito boa. Acho que cidades como Lajeado têm muito a ensinar ao RS, porque têm a cultura do empreendedorismo. Porto Alegre ainda é muito dominada pela cultura do serviço público, mais demorada. Podemos aprender com Lajeado e outras cidades que estão mais protegidas da crise.
As eleições de 2018 preocupam? Como o resultado do pleito pode influenciar na retomada da economia?
Marta – Existe um perigo gigantesco. Mas prefiro acreditar em algo que muita gente tem acreditado. O mercado financeiro é muito particular, mas temos que acompanhá-lo. A bolsa de valores nos mostra que os investidores e especuladores não acreditam na hipótese de vitória de um candidato de extrema direita ou extrema esquerda. Todos os especialistas dizem que, embora as pesquisas de opinião apontem para uma polarização, é possível que consigamos encontrar uma opção que não seja para nenhum desses dois lados. Se termos juízo e tranquilidade para fazer isso, só no fim de outubro de 2018 para saber.
Thiago Maurique: thiagomaurique@jornalahora.inf.br