“Somos pessoas  cuidando de pessoas”

Lajeado

“Somos pessoas cuidando de pessoas”

O lajeadense Samuel Johann palestrou sobre o trabalho na ONG Médicos Sem Fronteiras

“Somos pessoas  cuidando de pessoas”
Lajeado

O público lotou o auditório do prédio 7 da Univates para ouvir as experiências do lajeadense Samuel Johann, na noite de segunda-feira, 16. Ele palestrou sobre a atuação na ONG Médicos Sem Fronteira (MSF), na qual trabalha desde 2015.

Apresentou vídeos institucionais e fotografias das missões humanitárias que participou. Passou por Guiné, Moçambique, Sudão do Sul, Nigéria e Angola, e trabalhou em resposta aos surtos de ebola e de cólera, programas de HIV e tuberculose, crises nutricionais e apoio médico-humanitário a populações afetadas por conflitos.

Um dos principais aspectos da ONG é a independência. Apesar de depender de doações, a MSF não tem ligação com governos. De acordo com Johann, esse é um fator importante nos casos de conflitos armados, em que as equipes precisam comprovar isenção para manter a segurança. Neutralidade, independência e imparcialidade são os pilares da MSF.

A primeira experiência dele foi durante o surto de ebola, na África. Como muitos profissionais da saúde morreram antes que se descobrisse a gravidade e forma de contágio da doença, toda a população foi atingida, mesmo que indiretamente. “Isso enfraqueceu de maneira enorme o sistema de saúde.”

Ele lembra que ao chegarem à área de tratamento os doentes tinham que tirar as roupas e deixar objetos, para que fosse feita a descontaminação. Depois, precisavam ficar isolados. “O processo de tratamento é humilhante.” Com frequência um dos pacientes pedia que Johann não esquecesse seu nome. “A última coisa que lhes restava enquanto seres humanos era o nome.”

Segundo o lajeadense, chamar a atenção de autoridades e imprensa acerca de situações de crise é uma das bandeiras da entidade. Tornar acessível o acesso a medicamentos de qualidade é outra causa defendida. Contudo, quando estão em campo, os profissionais são orientados a se manter neutros. “Sempre estamos no território de algum governo e temos que respeitar.”

Empregado com motivação de voluntário

Johann iniciou como administrador e logístico no MSF, e hoje é responsável pela análise de contexto e segurança das equipes de terreno. Segundo ele, durante as missões, um profissional de relações internacionais fica na capital do país, abastecendo a equipe de campo com informações sobre o cenário sociopolítico.

Quem trabalha na Médicos Sem Fronteiras é remunerado. De acordo com Johann, dessa forma, os profissionais não precisam se preocupar com o fator financeiro e podem se dedicar integralmente ao trabalho. No entanto, é uma escolha muito maior do que apenas um emprego. “Você recebe um salário, mas você não está lá por causa do dinheiro. No fundo, somos pessoas cuidando de pessoas”, comenta.

A MSF admite profissionais das áreas de saúde, de RH, de logística, farmacêuticos, psicólogos e psiquiatras, administradores, antropólogos. Os candidatos devem ser fluentes em inglês ou francês – saber outros idiomas é um diferencial. É feita uma pré-entrevista por telefone e os aprovados passam para uma segunda etapa, no escritório da MSF no Rio de Janeiro.

O tempo de permanência em cada missão depende da intensidade e dos riscos de cada uma. Pode ser de três meses a dois anos, por exemplo. A permanência mais estendida ocorre em países onde os funcionários podem ter uma rotina normal.

A ONG tem escritórios em 28 países, com sede na Suíça. Mais informações podem ser obtidas em www.msf.org.br

Gesiele Lordes: gesiele@jornalahora.inf.br

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