Ao que tudo indica, a história da expansão do bairro São Cristóvão iniciou na década de 1950, junto com o crescimento da antiga fábrica da Souza Cruz, então localizada onde hoje foi aberta a av. Piraí. Foi essa, aliás, a primeira denominação para aquela localidade. Naquele tempo, Pirahy.
O início do povoamento daquela região da cidade, conforme nos conta a professora, Ana Cecília Togni, deu-se a partir da aquisição de uma área de terras, em 1953, por um grupo de emprendedores. Um deles era José Romualdo Schnorr, que adquiriu 15 hectares sem benfeitorias, com essas confrontações: ao norte, com terrenos de Bruno Born; ao sul, com a propriedade de Jacob Avelino e Brunilda Feldens; a leste, com terras de Benno Ely, e a oeste, com a estrada para Arroio do Meio.
Foi naquele mesmo período, lá por 1952, que também iniciou a expansão da Souza Cruz S. A. em Lajeado. Para tal, a empresa “forçou” a instalação de uma filial da Cia. Industrial de Papel Pirahy, com sede então no Rio de Janeiro, para produção de papel carbono, de embalagem para cigarros e de uso geral.
Conforme descreve o historiador José Schierholt, os grandes pavilhões da indústria, na época, transmitiam uma imagem de progresso e atraíam a migração de funcionários, motoristas e operários. As moradias foram construídas em torno da nova fábrica, junto de casas de comércio e do Grupo Escolar da Piraí.
Também foi aberto um loteamento e começaram a se transferir para lá famílias, empresas e serviços. Entre esses, a Malharia Schnorr Ltda, fundada em março de 1955. Historiadores acreditam ser essa a primeira indústria de confecções em artigos de malha de Lajeado. A sede ficava onde hoje está o escritório da empresa de ônibus Ereno Dörr Transportes Ltda.
O núcleo tomou o nome de bairro Piraí em função da empresa carioca. No fim daquela década de 50, as máquinas rodoviárias iniciaram a construção da BR-386, separando o bairro do restante da cidade.
Já nos anos 60, quando ainda não haviam muitas casas na região, surgiram os primeiros comércios. Entre eles, onde hoje funciona o Atacado Contini, haviam três empresas: uma fábrica de enfeites de Natal, na época vendidos para vários estados, e uma cartonagem, que depois veio a se tornar, de posse de Belmiro Pretto, a Cartel.
Ali próximo, também havia um depósito de bebidas que distribuía a cerveja Polar, um alambique e engarrafamento da cachaça Chimarrita, vendida para vários municípios da região e considerada, pelos proprietários e pelos desgustadores, “a melhor cachaça do Brasil”.

O primeiro prédio da Paróquia São Cristovão, no início da década de 1960. A estrutura ainda era de madeira
A Paróquia São Cristóvão
A primeira missa foi celebrada pelo padre Ericko, conforme anotação no livro Tombo, no dia 28 de agosto de 1960. E, como residiam no bairro muitos motoristas e já havia a sede de uma empresa de transporte urbano, a devoção a São Cristóvão já era uma tradição na comunidade e o santo foi escolhido como padroeiro e deu novo nome ao bairro.
Em dezembro de 1963, dom Alberto Etges assinou o decreto da criação da Paróquia São Cristóvão, com a nomeação de frei Lucas Corbellini, da Ordem dos Frades Menores, como o primeiro pároco. A instalação da nova paróquia e a posse de Corbellini ocorreram no festivo domingo de 5 de janeiro de 1964, com uma procissão de 126 veículos.
Uma das primeiras medidas tomadas pelo frei foi acompanhar, ainda em janeiro de 1964, o então vereador Ney Santos Arruda em uma viagem a Porto Alegre para uma visita ao governador Ildo Meneghetti. Lá obtiveram a promessa da construção, no bairro, de um ginásio e a doação de 200 mil cruzeiros às obras sociais, como registra o livro Tombo da paróquia.
Escolas estaduais
Os projetos de implantação de estabelecimentos de ensino da rede estadual foram organizados com base na realidade do bairro. Inicialmente, pensaram em um Ginásio Orientado para o Trabalho. No entanto, como não havia instalações adequadas no bairro, ou vontade política para construir um prédio novo, o ginásio se estabeleceu, provisoriamente, na Escola Estadual Fernandes Vieira.
A Escola Estadual Otília Corrêa de Lima foi inaugurada em 16 abril de 1966. Funcionava em um pavilhão. Já as classes e cadeiras foram doadas pela comunidade do bairro. Ruth Sudbrack Noschang foi a primeira diretora e, junto com o pai, instalou as primeiras placas indicativas das salas de aula. Hoje a instituição tem 202 alunos e 23 professores, e ainda funciona em turno integral.
Em 1976, foi instalada a Unidade Estadual de Ensino, pertencente à Rede Escolas Polivalentes. Foi o prefeito da época, Alípio Hüffner, quem pleiteou esse tipo de escola para o município. O primeiro ano letivo iniciou em março de 1977.
A clientela era composta por 400 alunos de 5o a 8a série do Ensino Fundamental, divididos em seis turmas no turno da tarde. Depois a unidade recebeu a denominação de Escola Estadual Érico Veríssimo por sugestão da comunidade escolar. Em janeiro de 1983, foi criada a Escola Estadual de 2º grau. Hoje ela atende 985 alunos, incluindo 90 do EJA.
Em 1978, o Senai chega ao bairro
Em 2018, o Centro de Educação Profissional Senai Lajeado completará 40 anos. A unidade instalada no bairro São Cristóvão foi a primeira do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial no Vale do Taquari. Surgiu para formar profissionais na área de gemas e jóias. Com o tempo, o ensino dessas especialidades migrou para Soledade e Guaporé, respectivamente.
Na época, o educandário técnico foi denonimado de Escola de Gemologia Senai. Lajeado era chamada de “Cidade Joia”. Hoje os cerca de 500 alunos têm aulas nas áreas de mecânica, mecânica automotiva, madeira e mobiliário, informática e eletroeletrônica, com suporte financeiro do governo municipal.
O famoso Salão Prediger
Ana Cecília Togni faz questão de relembrar o antigo Salão Prediger, local de importantes reuniões, debates e, claro, festas comunitárias. De propriedade de Helmuth Prediger, o sediava celebrações de casamentos, reuniões-dançantes nos domingos à tarde e bailes à noite, além de ser o local onde ensaiavam orquestras e corais.
Anexo ao salão de festas, além da moradia da família Prediger, explica a escritora, havia um armazém de secos e molhados administrado por “dona” Maria Sidônia, mulher do “professor” Prediger. Junto ao estabelecimento comercial, também funcionava um estúdio fotográfico. Além disso, o salão, por algum tempo, serviu de sala de cinema, pois havia uma pessoa de origem francesa que realizava sessões de filmes.
Outra utilização do local, conforme descreve Ana Cecília, foi para cultos de uma igreja evangélica. Além de todas essas atividades, era no salão que ocorriam as reuniões para tratar de assuntos da comunidade. Por esse motivo, ali foram criados o Esporte Clube Americano, em 1958, e a Paróquia São Cristóvão, em 1963.

Foto aérea sem data precisa. Ao fundo, o então bairro Pirahy, ainda sem a divisão imposta pela BR-386, construída anos depois
A empresa Ereno Dörr
A empresa Ereno Dörr faz parte do desenvolvimento do bairro. A história começa no ainda bairro Pirahy, quando Alfredo Ereno Dörr inicia as atividades em 2 de janeiro de 1960, após comprar, da Empresa Piraí, um ônibus para transporte urbano na cidade. Em 1962, veio morar com a família em Lajeado e adquiriu mais um veículo.
Em dezembro de 1969, a razão social passou a ser A. Ereno Dörr & Cia.Ltda. Na época, conforme descrições dos próprios sócios da empresa, foram adquiridos dois ônibus usados, e também os direitos sobre a linha entre Cruzeiro do Sul e Lajeado.
Foi comprada, ainda, uma empresa de Forquetinha, e assim A. Ereno Dörr passou a atender o interior de Lajeado, que na época compreendia as localidades de Forquetinha, Chapadão, Arroio Alegre, Conventos e Nova Santa Cruz.
A criação da Apae
Em 1971, um ano antes da fundação do Esporte Clube Coroas, um grupo de líderes do município criou a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Lajeado. Eles sentiram a necessidade de oferecer atendimento especial para pessoas com deficiência que, até então, eram desassistidas na região.
O grupo, conforme constam registros em atas e relatos dos fundadores, era formado por pessoas com influência na sociedade local, como médicos, professores, empresários, integrantes do clube de serviço Rotary Lajeado e pais de deficientes. Desde o início, ficou estabelecido que a associação atuaria em três áreas: educação, reabilitação e integração social.
Três anos após a fundação, em 1974, o governo municipal doou uma área de terrenos com um prédio existente para a antiga Escola Beato Champagnhat, situado no mesmo local onde existe até hoje a organização. A partir disso, iniciaram as ampliações da estrutura física, que hoje é de quase dois mil metros quadrados e a prestação de serviços por cerca de 50 colaboradores.
História do Gustavo Adolfo inicia em 1960
O Colégio Sinodal Gustavo Adolfo é um departamento da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Lajeado, ligada à mantenedora Isaec e integra a Rede Sinodal de Educação. A história iniciou em 1960, quando foram adquiridos os terrenos para posterior construção do Centro Social Gustavo Adolfo.
A instituição foi inaugurada em 5 de novembro de 1967. O nome homenageia Gustavo Adolfo, antigo rei da Suécia e fundador da Obra Gustavo Adolfo para beneficiar crianças necessitadas e de onde veio o dinheiro para a construção do prédio lajeadense.
O empreendimento foi construído com o intuito de atender crianças em creche, e oriundas da classe operária do bairro. Essas recebiam atendimento médico e odontológico gratuitamente, extensivo para crianças de escolas próximas, onde também eram sediados cursos para jovens agricultores, visando à formação de líderes rurais.
Com o crescimento do bairro, nos idos dos anos 80, foi necessário, conforme a direção, criar uma escola de educação básica para atender toda a comunidade escolar. Iniciou com a 1ª série e, de forma gradativa, completou todo o curso. Hoje, com Educação Infantil e Ensino Médio, é referência em ensino e atende mais de 600 estudantes.
Rodrigo Martini: rodrigomartini@jornalahora.inf.br