O mundo frenético nos desafia a fazer pausas, e pensar. Quando não o fizemos, entramos no automático, corremos o risco de perder a noção das coisas, assim como ensina a parábola do velho lenhador.
Muitos já ouviram essa história. Conhecido por sempre vencer os torneios dos quais participava, certo dia, o velho lenhador foi desafiado por um jovem e forte. A competição atraiu muita gente. Todos acreditavam que, finalmente, o velho perderia a condição de campeão dos lenhadores.
No dia marcado, o jovem se lançou com enorme energia, convicto da vitória. Volta e meia olhava para o velho e o enxergava sentado.
Ao final da competição, quando mediram a produtividade dos dois, pasmem! O velho vencera novamente, e por larga margem.
Intrigado, o moço questionou o velho: “Não entendo, o senhor estava sempre sentando, e eu não parei um minuto! Como pode?”
O velho respondeu: “Engano seu. Na verdade, eu sentava para afiar meu machado.”
Essa parábola é aplicável aos dias atuais. Atribuir apenas ao conhecimento técnico, rapidez e instantaneidade o nosso sucesso pode nos levar a derrotas. A correria ininterrupta não é garantia de melhores resultados, principalmente, quando esquecemos de “afiar o machado”.
O advento tecnológico nos impõe um ritmo alucinante, é verdade. Muitas vezes, somos traídos pela cobrança imediata e das metas a qualquer custo.
Mas isso não é restrito ao trabalho. Aliás, nunca as pessoas estiveram tão ocupadas dentro de suas próprias casas, enquanto poderiam desfrutar de descanso físico e mental. Alguns até trocam o sono pela conexão permanente.
A conectividade em tempo real trouxe avanços e perdas. Recentemente, durante o Congresso Internacional de Publicidade, em Gramado, o professor da USP e ESPM, Gil Giardelli, estudioso da cultura digital, ponderou que o mundo será dominado por quem tiver flexibilidade cognitiva e empatia. “Mente, alma e corpo saudáveis serão atributos de quem fará a diferença no futuro. Duas em cada três pessoas desenvolverão doença depressiva”, alertou.
Consumir informação freneticamente não permite fazer as mesmas sinapses de quando fazemos reflexões por meio de estudos, conversas ou mesmo quando ficamos no ócio.
Giardelli avisou que a internet avançará sem fronteiras e as pessoas, se não cuidarem, serão dominadas por um comportamento robótico e perderão o hábito de pensar.
[bloco 1]
Preferimos ler 50 posts de comentários idiotas sobre um assunto banal do que um artigo de qualidade.
Outro crítico do consumo excessivo de “informação perecível” ou superficial é o CEO da Abril, Walter Longo. O não questionamento ou o comportamento robótico não contribuem para a evolução do conhecimento do indivíduo.
Quando consumimos ou, simplesmente, fazemos tudo que vem pela frente, sem questionar, sem analisar, somos como o jovem lenhador.
Isso vale para tudo. Inclusive para a forma como nos relacionamos no dia a dia, com os outros e com nós mesmos. Não tem a ver apenas com o tipo de notícias que consumimos.
Querer tudo para ontem, não prestar atenção nas experiências, ou ignorar o valor das relações humanas, tende a nos colocar numa bolha. Os resultados podem ser frustrantes.
[bloco 2]
Comunicar-se de maneira adequada, desenvolver relacionamentos interpessoais de qualidade com colegas de trabalho, fornecedores, clientes, amigos e familiares, de forma a conseguir boa vontade e cooperação, é uma maneira de se conectar com a vida real.
O comportamento do indivíduo sempre esteve atrelado a seu sucesso. E, talvez seja por isso, que as empresas demitem cada vez mais pelo comportamento e menos pelo conhecimento técnico.
Boa vontade, humildade, respeito e disciplina são atributos valiosos nos dias de hoje. Para desenvolvê-los, é necessário prestar atenção, parar e “amolar o machado” de vez em quando.
Por fim, se já não sabemos mais como é isso, então pedimos ajuda. Sempre tem um velho lenhador à nossa volta.
Bom fim de semana a todos!
O declínio da expertise
“Esse é um período perigoso. Nunca tanta gente teve acesso a tanto conhecimento e, ainda assim, foi tão resistente a aprender qualquer coisa”.
Thomas Nichols, autor do livro The Death Of Expertise