Residente em Arroio do Ouro, Estrela, Erno Gregory, 64, volta ao passado. Nos últimos três dias, ele e a mulher foram obrigados a ordenhar as 13 vacas com as mãos.
Serviço desgastante, feito para evitar doenças nos animais, já que todo o produto está sendo perdido. Em dois dias, 400 litros estragaram. “É brincadeira uma coisa dessas, não atendem a gente, e deixam todo mundo esperando”, reclama.
Na propriedade dele, há dois postes caídos. Um terceiro na rua de acesso à casa, nas proximidades da ERS-129. “Vieram (RGE Sul) até a rodovia, arrumaram, e aqui não puderam subir. O que mudava para eles?”
Vizinhos de Erno, Marciano Gregory, 40, e o pai, Atamasio Gregory, 67, temem a demora do retorno. Em 72 horas, 600 litros de leite foram perdidos, 150 quilos de carne estragam nos freezers e o cansaço só aumenta. Antes munidos de equipamentos automatizados, agora eles precisam tratar três mil porcos à mão. “Aqui é o fim do fim. Sempre nos deixam por último. Nos sentimos abandonados”, reclama Marciano.
Para Glaci Maria Mallmann, 55, também moradora de Arroio do Ouro, o maior problema tem sido a falta de água quente para o banho.
A família de sete pessoas, inclusive a mãe cadeirante, precisa se lavar usando uma bacia. A geladeira foi esvaziada, porque os alimentos estragaram. Além disso, o contato telefônico não existe. As baterias dos celulares acabaram e o fixo não funciona. Apenas o rádio a pilha os aproxima da cidade.
“Prometeram que até ontem (terça-feira) estaria tudo resolvido e até agora nada. Só estão enrolando.”
Cerca de 20 casas estão sem energia. A água só chega porque um gerador foi instalado junto ao poço artesiano. O mesmo não foi possível no poço que abastece Linha Figueira. A comunidade vizinha a Arroio do Ouro tem luz, mas não tem água. Os estragos levaram o município a declarar situação de emergência ontem. Mais de 260 casas sofreram danos, sendo que mais de 40 famílias precisaram do atendimento.
Outras localidades afetadas
Em Novo Paraíso e Linha Delfino, o problema é semelhante ao de Arroio do Ouro. A RGE restabeleceu a energia em apenas algumas partes, e deixou alguns moradores desassistidos. Conforme informações repassadas por moradores de Novo Paraíso, apenas estabelecimentos comerciais e uma indústria foram atendidos. Nove moradias ficaram para trás, apesar do problema constar como solucionado no sistema da concessionária. Pessoas com mais de 80 anos, acamadas, estariam sem aparelhos necessários à saúde. Um total de 250 clientes do município estavam sem energia elétrica até ontem à tarde.
Glaci perdeu alimentos e sofre com a falta de água quente e de telefones
Arroio do Meio e Cruzeiro do Sul
O mesmo ocorre no interior e centro de Cruzeiro do Sul, onde 1,3 mil ainda sofriam com o problema. As linhas Boa Esperança Alta, Primavera, Picada Augusta, Bom Fim seriam as mais prejudicadas, porque também estão sem água. Produtores de leite, aves e suínos improvisam formas para alimentar e manter os animais saudáveis. Em São Caetano, Arroio do Meio, a água para as granjas estaria sendo buscada na Corsan, no centro. A Defesa Civil estima que até hoje pela manhã a energia seja restabelecida no local, também em Palmas, Passo do Corvo, Cascalheira, Arroio Grande, bairro Aimoré e Rui Barbosa. As concessionárias informaram que as equipes prosseguem atuando em todos os municípios atingidos para restabelecer o fornecimento o mais rápido possível.
Certel restabelece energia
Por meio de comunicado oficial, a Certel informou ontem que a energia foi restabelecida às 20h de ontem. Afirma que esse foi o maior temporal na história de 61 anos da cooperativa. Ao todo, 48 municípios dos Vales do Taquari, Caí, Rio Pardo, Paranhana e da Serra Gaúcha foram atingidos. Com isso, cerca de 45 mil associados (72% do total) sofreram interrupção no fornecimento.
Entre os municípios mais prejudicados, estiveram Barão, Salvador do Sul, Carlos Barbosa, Poço das Antas, Garibaldi, Westfália, Teutônia, Boa Vista do Sul, Travesseiro, Capitão, Pouso Novo, Boqueirão do Leão, Gramado Xavier, Sério, Canudos do Vale, Forquetinha, Lajeado, Santa Clara do Sul, Marques de Souza e Progresso.
Carolina Chaves da Silva: carolina@jornalahora.inf.br
