Os problemas causados pelo temporal de domingo afetavam ainda ontem os moradores da região. A falta de energia elétrica persistia em pelo menos 11 municípios e amplia os prejuízos de comércios, indústrias e produtores rurais.
Em Cruzeiro do Sul, quatro escolas atenderam cerca de 250 alunos no escuro. O município era o que mais tinha clientes sem energia ontem – 1,7 mil no total.
As escolas municipais de Ensino Fundamental 25 de julho e 22 de novembro, de localidades com o mesmo nome, trabalham em turnos. Porém a São Felipe, de Linha Sítio, e a Trenzinho Alegre, no centro, prestam atendimento integral e pelo menos três refeições aos estudantes.
A maior preocupação é com a qualidade e a preservação dos alimentos. A nutricionista da prefeitura, Catia Dullius, orientou as escolas para sair do cardápio estipulado, caso necessário, a fim de garantir a segurança alimentar dos alunos.
Situada na rua Visconde do Rio Branco, uma das principais vias da cidade, a escola tinha vizinhos com luz e improvisou uma conexão por cabos de transmissão, valendo-se da energia da Evangélica. Mais de 50 metros de extensão foram utilizados para manter os dois freezers e duas geladeiras ligados.
“Foi a solução que encontramos, porque temos muita carne, frutas, verduras, e não podíamos deixar estragar”, ressalta a diretora Tais Zarth. Desde segunda-feira, ela teria contatado a RGE várias vezes, mas não obteve retorno. “Até o fim da tarde escurece a maior parte da escola. Depois das 17h30min, colocamos todos eles numa sala só, onde tem mais claridade, até os pais chegarem.”
Faturamento perdido
Proprietária de uma padaria na rua General Neto, nas proximidades da creche, Fernanda Schuh Lopes estava estarrecida. Em 69 anos, o estabelecimento nunca ficou tanto tempo sem energia elétrica. Fornecedora de tortas, pães, bolachas e cucas para mercados da cidade, deixou de produzir ontem. O balcão, antes cheio de doces e 20 tipos de salgados, ficou vazio.
“Precisei comprar pão pronto para vender, porque minhas máquinas não funcionam. Nem levá-las para outro local posso porque são industriais. Vou perder todo o faturamento destes dois dias”, lamenta.
Minutos antes da reportagem chegar ao local, funcionários de uma empresa terceirizada da RGE Sul informaram a Fernanda que o centro seria o último local a ser atendido, por ter 50 clientes afetados, enquanto no interior 600 aguardariam o restabelecimento da luz.
Transtornos da produção à entrega
Uma indústria de produtos de limpeza, na rua Dom Pedro II, atrasava as entregas. Sem possibilidade de tirar notas, deveria remanejar um computador para outro local, a fim de não postergar ainda mais o serviço. Dentro da empresa, funcionários apenas limpavam e organizam, já que a produção também precisou ser interrompida. Bombas de água, matéria-prima e misturadores não estavam funcionando. “Para nós não vai ser tanto prejuízo, mais transtornos. Mesmo assim, é ruim, porque tudo para”, reclama o gestor de Marketing, Diego Macedo.
Perdas no campo
Morador de Nova Paris, interior de Canudos do Vale, Claudenir André Bergmann, o “Peto”, tem 13 vacas de leite, com produção média diária de 180 litros. Sem luz desde domingo, buscava soluções para minimizar as perdas, que vão desde o leite estragado até inflamação nos úberes das vacas por falta de ordenha.
“Já perdemos mais de 200 litros de leite. Estou levando o leite até outro produtor onde tem energia. Três vacas já estão com mastite, buscamos orientação de veterinário. O tratamento vai elevar ainda mais nosso custo de produção”, observa.
Para agilizar a ordenha, a alternativa foi adquirir um motor a gasolina. Investimento que supera R$ 1 mil.
Outros sete produtores da localidade enfrentam o mesmo problemas. “É a primeira vez que me lembro de tantos dias sem energia. Alegam diversos estragos na região devido à queda de árvores sobre as redes. Muitos moradores também estão sem água.”
Onde faltava energia e água
Até o fim da tarde de ontem, 3,5 mil continuavam sem energia elétrica no Vale. Na área abrangida pela RGE Sul, 95 clientes de Lajeado, 99 de Encantado, 480 de Bom Retiro do Sul, 1,7 mil de Cruzeiro do Sul e 220 de Estrela aguardavam o restabelecimento. Um total de 2.584.
Já nas cidades atendidas pela Certel Energia, cerca de mil esperavam o retorno em Canudos do Vale, Forquetinha, Marques de Souza, Boqueirão do Leão, Progresso e Sério. A falta de água ainda afetava moradores do interior, e dos bairros Jardim do Cedro e Montanha, de Lajeado.
A Certel informa que tem 140 profissionais em atuação. O diretor operacional, Ernani Mallmann, projeta o restabelecimento total em todos os pontos até hoje.
Carolina Chaves da Silva: carolina@jornalahora.inf.br | Colaboração: Felipe Neitzke