José Hoffmann ascendeu de uma infância pobre e sem estudos para se tornar proprietário de uma das principais empresas de controle de pragas do estado. Nascido no interior de Praia Grande (SC), mudou-se aos 15 anos para Igrejinha, onde constituiu família e trabalhou como operário em uma fábrica de calçados, realizando serviços pesados nas horas livres.
Ao limpar a propriedade de um amigo, Hoffmann foi indicado para imunizar uma residência. Ele aprendeu a utilizar os equipamentos e recebeu outras duas indicações no primeiro dia de trabalho. Diante do valor arrecadado em um dia, decidiu abrir o negócio, em 1987.
A empresa se manteve pequena até 1995, quando o diretor participou do primeiro congresso técnico voltado para o setor. Desde então, Hoffmann e Marly, sua mulher, participaram de eventos e qualificações no Brasil e no exterior, além de associações do segmento.
O casal também retomou os estudos formais, abandonados na 2a série. Aos 26 anos, Hoffmann terminou o Ensino Fundamental e, aos 30, completou o Médio. Hoje os dois fazem faculdade e têm formação nos cursos da Dale Carnegie Training, Coaching, Master Coach, Programação Neurolinguística e outros nos Estados Unidos.
Negócios em Pauta – Como o senhor começou a trabalhar com imunização e controle de pragas?
Hoffmann – Sou filho de pequenos agricultores, e meu pai sempre foi negociante, cambista como falavam. Nasci na cidade de Praia Grande (SC). Aos 15 anos de idade, vim para a cidade de Igrejinha. Dos 15 aos 23 anos, trabalhei como operário em uma fábrica de calçados. Fazia de tudo, mas principalmente a área de acabamento. Sempre, quando tinha folga, feriado, ou horário livre, fazia o que chamavam de biscate. Hoje chamam de freelance. Fazia um aterro, puxava uma pedra, limpava um terreno, esse tipo de coisa. Até que, um dia, estava fazendo um serviço na casa de um amigo que me perguntou se eu podia fazer esse serviço de imunização na casa de um compadre dele na cidade de Taquara.
Já fazia esse trabalho?
Hoffmann – Eu disse que não sabia fazer o serviço, mas ele insistiu. Disse que eu tinha vontade, me mostrou os equipamentos e perguntou quanto eu queria. Falei um valor X, ele disse para dobrar e arrumou o serviço. Cheguei no meu supervisor para pedir um dia de dispensa e expliquei o motivo. Meu supervisor já pediu pra eu imunizar a casa dele também. Naquele dia, imunizei três. A primeira casa, a do supervisor, e mais uma indicação do dono da primeira casa. Aquilo me levou a ganhar um valor razoável em um dia. Na época, tinha 23 anos e um filho. Casei com 19. Para alguém que trabalhava em um chão de fábrica, era um dinheiro considerável.
Como esse serviço se tornou uma empresa?
Hoffmann – Naquela noite, decidi abrir a imunizadora, com o nome Hoffmann. No dia seguinte, fui até a gráfica para fazer uns cartazes, de folha A4. Eu lembro como se fosse ontem, mas faz 30 anos. O primeiro cartaz dizia: Imunizadora Hoffmann, imunização contra cupim. Tinha apenas o meu endereço. Dois, três meses depois, um amigo que era dono de supermercado sugeriu que eu fizesse uns cartões de visita e colocasse o telefone do mercado para recados. A ideia era passar uma vez por semana para anotar os recados. Naquela época não existia essa facilidade para comprar um telefone. Comecei a distribuir os cartões e, ao invés de ir uma vez por semana, passei a ir uma vez por dia por causa da demanda. Depois, duas vezes por dia. Muitas vezes, o dono desse mercado, meu amigo até hoje, corria até minha casa me avisar sobre algum recado urgente.
Quando percebeu que a empresa poderia ser grande?
Hoffmann – Foi em 1995, quando participei do primeiro evento da área. Até ali, era cara e coragem, sem treinamento nem nada. Eu buscava alguma coisa diferente com os fabricantes dos produtos, mas eles passavam poucas informações. Tentava também conversar com a concorrência, mas eles não abriam nada. Na época não tinha Google, e eu não conhecia outras formas de buscar essas informações. Me inscrevi no primeiro seminário nacional sobre pragas urbanas e saúde pública, na cidade de Passo Fundo, em 1995. Foi o pontapé inicial. No ano seguinte, participei da Expoprag, em São Paulo, e dali em diante não parei mais.
De que forma as feiras mudaram a sua percepção do negócio?
Hoffmann – Por meio das feiras, parei de fazer apenas o feijão com arroz. Conheci novos produtos, fornecedores e comecei a aprender técnicas. Mas, mais do que tudo, comecei a ver o mundo de uma forma diferente. Eu tinha uma empresa de fundo de quintal e comecei a conhecer grandes firmas com 40, 50 funcionários. Percebi que tinha como crescer muito. Em São Paulo, conheci palestrantes internacionais, dos Estados Unidos, Alemanha. A partir daí, vi que não havia limite. Hoje viajo o mundo todo buscando informações e tecnologia. Hoje temos parceria com a Universidade da Flórida, com a qual fazemos uma intensa troca de informações, e com outras instituições de âmbito mundial.
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Por que você saiu da sua terra natal rumo à Igrejinha?
Hoffmann – Fui com meus pais. A vida no interior era muito sofrida e alguns parentes que já tinham ido para lá incentivaram meus pais. Meus tios falavam que era um lugar muito bom para se viver. Para nós era muito parecido do que se falam hoje sobre ir morar nos Estados Unidos. Foi aqui que criei minha família e tive meus dois filhos. Um deles, quando fez 25 anos, foi para Santa Maria, onde tem uma das maiores empresas de controle de pragas. Ajudei ele a montar a empresa para termos uma concorrência saudável. Hoje, nosso grupo atende em todo o RS, com unidades em Igrejinha, Santa Maria, Cachoeira do Sul e Rio Grande.
Quais as características pessoais que contribuíram para o sucesso?
Hoffmann – Recentemente fiz um treinamento que falava sobre as características de uma mente milionária. Tem pessoas que acham que o dinheiro não é importante, não traz felicidade, que é sujo e a raiz de todo o mal. Sempre pensei diferente, com a crença de que sem dinheiro você não faz nada. Sempre gostei de ganhar dinheiro. Com 12 anos, eu andava aproximadamente 50 quilômetros ida e volta para encher um burro cargueiro de banana, mandioca, laranja e bergamota, que eu saía de casa para vender. A minha mulher também é de Praia Grande e também fazia a mesma coisa. O pai dela era caminhoneiro e plantava bananeiras. Ela pegava as bananas e saía para vender de bicicleta. Eu sempre quero crescer mais.
O quanto a família foi importante neste processo?
Hoffmann – Quando eu disse que ia abrir a imunizadora, minha mulher me apoiou e pegou junto. Todo início de negócio tem suas dificuldades. Nos dias que deu vontade de desistir, ela me incentivava. Trabalhou costurando sapato em casa para três ateliês enquanto eu fazia as imunizações. Dizia para nunca desistir, nem que para isso precisasse sustentar a família, porque tinha certeza que daria muito certo. Hoje eu tenho uma competição sadia com meu filho. Se eu empregar um número de pessoas, ele emprega uma a mais. Quando ele vai num congresso, eu quero ir também, e vice-versa. Somos dois empresários, dois grandes amigos, e fazemos investimentos juntos.
O senhor parou de estudar cedo e voltou para a escola depois de adulto. Por quê?
Hoffmann – Antes de ir para Igrejinha, morava numa pequena comunidade do interior de Praia Grande chamada Pedra Branca, no fundão do Mampituba. Na escola onde estudava, quando começava a escurecer, nossos professores nos mandavam embora. Eram sete passos de rio para chegar até a minha casa. Fiz a 1a série e parei de estudar na 2a. Fiz o Ensino Fundamental depois de casado, com 26 anos, junto com a minha mulher. A gente voltou a estudar para poder ajudar nossos filhos na escola. Porque os pais dos coleguinhas tinham estudo, nós não. Esse foi o motivo para concluir o Ensino Fundamental. O Médio foi porque nós começamos a gostar. Aos 30, conclui o Médio. Hoje, eu e minha mulher estamos na faculdade, porque caminhamos juntos. Queremos crescer juntos, não apenas financeiramente, mas também intelectualmente. Também fazemos muito treinamento de coach, aulas de inglês, sempre buscando aprimorar nossos conhecimentos.
Nestes 30 anos a empresa passou por momentos de crise e incertezas na economia. Como lidar com essas dificuldades?
Hoffmann – Existem estratégias. A palavra crise não entra na empresa, trocamos por criar. Penso muito no que o Airton Senna fazia. Enquanto os outros pilotos não gostavam de correr na pista molhada, ele se especializou nisso. Se fizermos uma pesquisa sobre quantas pessoas aproveitam o feriado para fazer treinamento, a maioria não faz ou faz obrigado. No feriadão do dia 7 de setembro, estávamos em qualificação. Outra coisa é incentivar as pessoas que trabalham conosco, saber quais são os sonhos delas, saber em que situação vivem hoje e onde querem chegar. Porque se você não sabe onde quer chegar, qualquer caminho te leva. Sempre me amparo muito na família e na minha equipe. Outra coisa é fazer diferente e buscar novos mercados. Muitas pessoas só olham para o seu próprio umbigo. Nós atendemos todo o RS, enquanto algumas pessoas preferem ficar só na sua cidade, na sua região. Assim, estamos driblando a crise e crescendo mesmo na recessão.
Hoje o país começa a superar uma das maiores recessões. Como a Hoffmann se posicionou neste período?
Hoffmann – Mesmo diante da crise, estamos em um momento de verticalização, seja em termos de crescimento quanto em termos de inovação em produtos e serviços. Não estamos apenas matando barata e cupim. Hoje, na unidade de Cachoeira do Sul, temos uma desentupidora, temos banheiros químicos em Santa Maria. Também trabalhamos com limpeza e sanitização de ar-condicionado, e importamos uma tecnologia revolucionária para limpeza de colchões, com uma máquina extratora que suga fungos, ácaros, bactérias e sujeiras. Estamos em constante evolução. Conquistamos também certificações pela Bayer e o ISO 9001.
Como a empresa trabalha a qualificação dos funcionários?
Hoffmann – É praticando que mantemos uma equipe afinada. Treinar, treinar, treinar. Quanto mais eu treino, mais sorte eu tenho, mais eu sei. Eu não acredito se não treinar. Agora estamos fazendo qualificação de supervisor em espaço confinado. Quando o instrutor ensina sobre o nó de corda, tem que praticar diariamente. Se esqueceu algum detalhe, precisa pesquisar, porque na hora do aperto tem que saber como fazer.
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Como assegurar a retenção de talentos após investir na qualificação dos colaboradores?
Hoffmann – Temos um salário razoavelmente bom, se não o melhor da categoria. Oferecemos ajuda de custo, alimentação, flexibilidade de horário e uma série de vantagens. Nós conseguimos manter nossos colaboradores e temos um grande número de profissionais procurando a Hoffmann. Também incentivamos a se desafiarem. Todos os nossos colaboradores recebem comissão por venda efetuada, independente da função. Temos uma funcionária que trabalha fora do setor comercial e me disse que queria aumentar vendas. Ela apontou um percentual X como meta. Falei em quatro vezes esse total e vou ajudá-la a conseguir.
A imunização e o controle de pragas inclui manuseio de produtos químicos e procedimentos em locais arriscados. Como a Hoffmann trabalha com essas questões?
Hoffmann – A nossa política é seguir todas as normas regulamentadoras. Quando temos treinamentos regulatórios, a direção da empresa também participa. Temos também uma pessoa responsável pela qualidade, que descreve todos os processos e formas de realizar o trabalho. Somente usamos produtos com registro sanitário, não pode ser adquirido nenhum com menos de seis meses para o vencimento. Descarte das embalagens e de produtos contaminados, somente com firmas credenciadas e a documentação em dia. Na área de segurança, todos os EPIs sempre estão dentro do determinado e no prazo de validade. São questões fundamentais para assegurar o bem-estar do nosso colaborador e do nosso cliente.
Quando pensou em iniciar a empresa, imaginava que faria tanto sucesso?
Hoffmann – Se você não começa, não tem como imaginar o sucesso. Depois que eu comecei a ir aos eventos, comecei a visualizar alguma coisa, mas não a esse ponto que chegamos. Uma vez meu filho Jefferson projetou um faturamento anual que achávamos exagerado para as duas empresas juntas. Não deu dois anos, cada uma faturava aquele valor. Gostamos de desafio. Hoje temos mais de 80 funcionários no total.
Que conselho o senhor daria para pessoas que sonham em se tornar empreendedoras?
Hoffmann – O primeiro é fazer um estudo de mercado e um plano de negócios para ver se tem capacidade para atender e se há consumidor para aquele produto. Eu sou apaixonado por controle de pragas e não sei se daria certo em outro negócio. Se a pessoa não sentir paixão pela mulher, não vai cuidar dela, a mesma coisa com os filhos. Tem que cuidar bem da família e do negócio, como de tudo o que você mais gosta. E cuidar bem do dinheiro porque ele precisa ser tratado com carinho.