Ciclo otimista exige mudança de atitudes

Fórum de Gestão e Empreendedorismo

Ciclo otimista exige mudança de atitudes

Economia aponta cenário de recuperação, enquanto fortalecer a marca e a reputação das empresas não depende apenas de dinheiro, e sim de estratégia. A era digital abre novos flancos de negócios, especialmente e-comerce, que precisa ser pensado como produto específico de varejo

Ciclo otimista exige mudança de atitudes

Panorama econômico e as perspectivas para os próximos anos, ao lado de novas fórmulas de pensar e conduzir os negócios foram a tônica do primeiro Fórum Estadual de Gestão e Empreendedorismo, realizado no Teatro Univates.

Promovido pelo A Hora e Sincovat, o evento ocorreu na quarta-feira, 26, com a participação de cerca de 800 pessoas.

“Estamos convictos de que os resultados para região, o RS e o Brasil dependem muito mais das nossas ações do que dos nossos governantes. Temos que fazer por conta e tentar descolar os negócios da política”, disse Rui Mallmann, presidente do Sincovat, ao abrir a programação.

Diretor-geral do A Hora, Adair Weiss lembrou que os empreendedores são colocados à prova nos momentos de dificuldade.

Weiss destacou a presença do público, afirmando que nenhum dos participantes se rende ao sentimento de desesperança que toma conta do cotidiano nacional. “Levantam-se todos os dias com a humildade e a perseverança para fazer a coisa certa.”

Afirma que os empreendedores da região são exemplo de ousadia, mas lembra da importância de estar preparado e fazer uma gestão adequada para que essa característica seja benéfica.

[bloco 1]

Previsto para realizar a palestra de abertura, o governador José Ivo Sartori cancelou a participação um dia antes do evento. Em substituição, foi realizado um debate sobre gestão em tempos de dificuldade.

Em seguida, o economista-chefe do Sicredi, Alexandre Barbosa, apresentou palestra sobre os cenários econômicos e perspectivas para os próximos anos.

“O ano de 2017 marca o fim da recessão.”

Segundo Barbosa, após dois anos de crise, os sinais de retomada são evidentes, mesmo que os números ainda sejam ruins para alguns setores. Ressalta a necessidade de aprovar medidas capazes de dar sustentabilidade a um novo ciclo de crescimento.

Para Barbosa, a crise teve início na tentativa frustrada de criar uma nova matriz econômica para o país, entre os anos de 2012 e 2013. Segundo o economista, um dos excessos cometidos para alcançar esse objetivo foi a queda forçada da taxa de juros, que resultou em aumento da inflação.

“Para frear a inflação sem mexer nos juros, o governo segurou de setores como energia elétrica e transporte”, aponta. Outras medidas equivocadas na visão do economista foram a política de campeões nacionais que concedeu incentivos bilionários a poucas empresas, o uso de estatais para impulsionar o crescimento de curto prazo no PIB e a interferência no câmbio.

Juntas, afirma, as ações do governo resultaram em uma rápida deterioração das contas públicas. A equipe econômica do governo percebeu o erro ainda em 2014, mas manteve a estratégia diante do período eleitoral.

[bloco 2]

Em 2015, a União repassou a conta do déficit para a população aumentando o preço da energia elétrica e dos combustíveis. “Sem o setor público para inflar os resultados, a economia desabou.”

Diante desse cenário, o pessimismo passou a tomar conta do mercado e afugentou os investidores, sob o temor de que o país acabasse seguindo caminhos semelhantes aos de Argentina e Venezuela.

Conforme Barbosa, a retomada da confiança começou quando o país passou a adotar medidas para conter o déficit nas contas públicas, como a reforma trabalhista, a PEC do Teto dos Gastos, o aumento de tributos, além de um programa de privatizações e concessões.

Aliadas a uma melhora no cenário internacional, aponta, as ações mostraram para o mercado que o Brasil ruma, lentamente, para um caminho mais adequado. Por outro lado, ressalta serem necessárias novas ações para assegurar a sustentabilidade do avanço na economia.

Perspectivas

Mesmo com a retomada do crescimento, Barbosa ressalta que o país está longe dos patamares registrados em 2013 e início de 2014. Segundo ele, ainda é necessário aprovar as reformas tributária e da Previdência e tributária para de fato assegurar a sustentabilidade das contas públicas. “São ações inevitáveis, e vários países já passaram por isso”, ressalta. Para o economista, o risco está no cenário pós-eleições de 2018, além de fatores externos, como mudanças na política monetária dos Estados Unidos e a escalada da tensão entre o governo americano e a Coreia do Norte.

[bloco 3]

Em linhas gerais, a previsão é de um crescimento ainda modesto no PIB de 2007, de 0,8%. Para 2018, a perspectivas são de 2,4% de elevação. Conforme o economista, mesmo com a perspectiva de um novo ciclo de crescimento, os empresários precisam continuar aprimorando processos e analisando deficiências, principal foco durante o período de crise.

Para o presidente do Imec, Leonardo Taufer, a explanação ajudou a perceber melhorias na economia, deixando o empresariado mais confortável com a indicação de uma retomada do consumo. “Deu para ter uma noção muito boa para pensar em como nos preparar para esse novo ciclo econômico.”

Perguntas e respostas 

Como as eleições de 2018 podem impactar a economia?

Alexandre Barbosa – O ano eleitoral mais complicado na história recente foi o de 2002, pois havia uma dúvida se o presidente eleito seguiria as regras macroeconômicas mundiais. Mas Lula cumpriu o rito da economia e não tivemos problemas até o segundo mandato de Dilma Rousseff. Mas para o próximo ano temos perigos. Não sabemos quem será presidente daqui dois meses, o que dizer lá na frente. Tem candidatos ali com condições de ganhar que nunca tiveram cargo executivo e não sabemos qual é a plataforma econômica. Os riscos existem e estamos diante das eleições que podem trazer surpresas com impactos diretos.

[bloco 4]

O que esse crescimento pequeno do PIB representa para os pequenos e médios empresários, principais atingidos pela crise?

Barbosa – Representa muito pouco. Poderíamos crescer 4% se não houvessem problemas de estrutura. O pequeno e o médio sofrem mais, pois ainda são 12 milhões de desempregados com dificuldade de consumir, e que pagarão juros altos por algum tempo. Requer muita inovação e criatividade para se manter neste momento e crescer ali na frente. Ainda é pouco, mas minha expectativa é de um cenário melhor nos próximos anos para aqueles que conseguirem sair vivos desta recessão.

Suzane Veloso apresentou medidas diante de crises de reputação

Suzane Veloso apresentou medidas diante de crises de reputação

“Admita o problema e cuide das pessoas”

Jornalista e consultora corporativa, Suzane Veloso falou sobre a reputação da marcas e a necessidade de preservar a imagem das corporações em um momento de superexposição virtual. Por que queremos comprar perfume francês, whisky escocês e relógio suíço? Porque eles têm uma reputação consolidada”, aponta. A dificuldade, afirma, é que não dá para comprar ou prometer uma reputação, justamente porque ela depende desses julgamentos externos.

“As empresas estão sendo julgadas o tempo todo por todo mundo”, reforça. Suzane afirma que a única forma de melhorar uma reputação é contando a própria história. Para isso, em primeiro lugar, é fundamental que os fatos apresentados sejam reais, até porque uma história inventada acaba sendo descoberta muito rápido.

A história para se tornar interessante, afirma, precisa também de um protagonista que supere obstáculos por meio de ações em um cenário determinado. “É a saga do herói, onde o importante não é ganhar o prêmio, e sim trazer o prêmio de volta para a corporação e assim mudar a empresa.”

Para ela, os sites corporativos podem ser um excelente recurso para se comunicar com os clientes. “Se você não contar a sua história, alguém vai contar, e dar uma versão bem diferente.”

Lembra que mesmo boas reputações consolidadas acabam morrendo se não forem alimentadas.

Citou como exemplo o caso do café brasileiro, que até a década de 1990 era considerado melhor do mundo, e hoje foi superado pelo produto proveniente da Colômbia. “Na semana passada, estava em Lisboa, fui comprar café e tinha da Colômbia, Quênia, Costa Rica, mas não brasileiro.”

Entre os aspectos que contribuem para a formação da reputação, estão o ambiente de trabalho, a cidadania e responsabilidade social, o desempenho financeiro, a governança corporativa, a capacidade de inovar, a liderança e os produtos e serviços oferecidos.

Se a construção de uma boa reputação demora tempo e depende de uma série de ações que serão julgadas por agentes externos, a má reputação não precisa de ajuda. A principal mudança entre a era analógica e a digital, afirma, é que havia mais tempo para cuidar das marcas e reverter situações adversas.

Redes ampliam impacto

Com o advento da internet, alerta, qualquer história, verídica ou não, corre muito rápido, podendo engrandecer ou destruir uma organização em instantes. “O apresentador do Miss Universo errou o nome e, em 30 segundos, foi escorraçado em todo o planeta.”

Como metade da população do planeta está na internet e 66% tem celular, aponta, a reputação não está mais na boca do povo, e sim na palma das mãos.

[bloco 5]

Suzane lembra que, por mais que se tenha atenção, os erros e crises acontecem. Diante disso, afirma que o melhor para uma empresa é sempre assumir a responsabilidade e agir com transparência, cuidando de todos os afetados pela situação indutora da crise.

“Admita o problema, cuide das pessoas, importe-se e peça desculpas, aprenda como o seu erro e conte uma história”, resumiu. Suzane também lembrou que todos os funcionários são responsáveis pela reputação organizacional.

Para a estudante de Administração da Univates, Jéssica Fernanda Schmidt, a palestra serviu para adquirir conhecimento sobre várias aspectos do dia a dia das empresas. Segundo ela, o principal ponto foi entender a relevância de estabelecer métodos para preservar a reputação das marcas.

Perguntas e respostas

Como contar a nossa história e saber o que é interessante?

Suzane Veloso – Você precisa procurar o ângulo do seu público, e existem vários públicos. Os trainees de uma empresa têm 20 anos de idade. Você precisa saber o que é relevante para eles e contar o que está fazendo nessa área. A tecnologia ajuda, pois toda empresa tem seu site que é uma autobiografia. Tem que ser uma página atraente e de navegação fácil, com um espaço para contar essa história. Mas você tem que monitorar isso o tempo todo, porque alguém pode estar falando de você. De qualquer forma, é preciso começar em algum lugar.

Quais os riscos do excesso de informação, e como cuidar da imagem da empresa na era digital?

Suzane – Primeiro é preciso agir corretamente. Se você não fizer nada errado, dificilmente será exposto. Nem sempre temos esse filtro. Você pode ser acusado injustamente, e hoje existem as fake news. Mas esse é o mundo contemporâneo. Nunca vivemos uma época tão complexa. No mundo analógico, até os comportamentos eram semelhantes. Hoje não existem mais critérios. O sujeito pode ser da classe D e ter um acesso à informação típico da classe A ou ter 20 anos e ser conservador como o avô. Em um único dia, as pessoas mudam de opinião e de comportamento. Você tem que conhecer o seu público e estar aberto a debater, se expor e ser criticado. É um caminho sem volta.

Para Fábio Bernardi, os novos negócios estão ligado à confiança

Para Fábio Bernardi, os novos negócios estão ligado à confiança

“A marca é a maior expressão da empresa”

Sócio e diretor criativo da agência Morya, Fábio Bernardi abordou a construção das marcas em um mundo dominado pelas mudanças comportamentais. Segundo ele, o choque com novas tecnologias trouxe reflexões intelectuais ao longo da histórias, mas nunca com tamanha velocidade.

Para Bernardi, o futuro reserva mudanças ainda mais rápidas, pois cada nova geração imprime mais velocidade ao mundo. As consequências desse cenário desafiam o mundo corporativo. Cita como exemplo a criação de serviços como o AirBnb e o Uber, que revolucionaram a indústria hoteleira e a de transportes.

“Os táxis e hotéis não vão acabar, mas precisam se reposicionar no mercado que passa por uma inversão completa de valores”, ressalta. Conforme o publicitário, nesse contexto, o dinheiro é a parte menos importante para a construção de uma marca.

De acordo com Bernardi, os novos negócios estão diretamente ligados a uma relação de confiança.

Mostrou pesquisa realizada pela universidade de Oxford, onde o Brasil aparece entre os países onde a população confia menos nas outras pessoas. “Isso explica muito da nossa dificuldade.”

Conforme Bernardi, as tecnologias estão redefinindo os valores de consumo e a própria indústria em si. Se antes o foco estava em no que eu produzo, afirma, agora o mais importante para quem e porque fazemos.

“A entrega passou a valer mais do que a venda”, aponta. Nesse contexto, ressalta, a razão de existir de uma empresa está nas pessoas, e a marca nada mais é do que a expressão de tudo o que a organização é, acredita e faz.

“Marca não é mais uma questão de tamanho, mas sim de grandeza”, definiu. Conforme Bernardi, é a consistência dos elementos que formam uma marca de sucesso e, para isso, não há necessidade de investimentos.

“A Caixa gasta o dobro do que o Itaú em mídia, mesmo assim, sua marca vale 43 vezes menos que a do Itaú”, ressalta. Segundo ele, a diferença se dá por um trabalho de marketing muito bem elaborado e seguido por um longo período.

Hoje, ressalta, o banco paulista consegue fazer uma propaganda sem citar a marca ou usar o logotipo. “Mesmo assim, todo mundo identifica a empresa”, aponta. Para isso, ressalta, o Itaú fez a difícil escolha de manter o mesmo narrador em suas propagandas pelos últimos 12 anos, e a mesma música nos últimos dez anos.

Credibilidade que protege

Para assegurar a consistência de uma marca, Bernardi acredita que as empresas devem seguir a receita simples da busca pela credibilidade. Citou como exemplo o caso da Companhia Zaffari, que teve um problema com uma bactéria em uma das suas unidades no início de setembro.

[bloco 6]

“Ao mesmo tempo em que haters criticavam a empresas, clientes usavam a internet para defender a marca, mostrando o quanto a credibilidade representa proteção mesmo no mundo digital”, ressalta. Conforme Bernardi, para sobreviver ao mundo contemporâneo, uma organização precisa gerar valor, criar identidade e entregar experiências únicas e personalizadas. Ressalta que tudo isso pode ser realizado com movimentos que não exigem recursos.

Para a empresária Fernanda Sbrussi Dietrich, a palestra reforça o quanto as empresas precisam se adequar aos novos tempos. “Precisamos ser cada vez mais inovadores, criativos e pensar diferente, pois nem tudo se resume à questão financeira.”

Perguntas e respostas

A estratégia de preço mais baixo ainda garante vantagem competitiva no mercado?

Fábio Bernardi – Não. Acho que a relação de custo e valor é subjetiva. Aquilo que é válido para um pode não ser para outro. No mundo de hoje, em qualquer área, sempre vai ter alguém para fazer mais barato e com menor prazo. Se formos balizar pelo custo, vamos sempre ter problema. É cada vez mais comum termos concorrência desleal nesse ponto. A relação com o consumidor precisa ser antes de tudo uma relação de confiança, e depois econômica.

Quando vale a pena abandonar ou mudar o posicionamento de uma marca?

Bernardi – Seria muito leviano apresentar uma resposta sobre em que momento é melhor abandonar uma marca, um posicionamento. Cuidar de um posicionamento não é difícil, e sim se permanecer na mudança. Muitas empresas fazem um trabalho enorme nesse sentido e meses depois começam a sofrer as dores desse trabalho, entram em crise e voltam para o posicionamento anterior. Importante não é ficar esperando as condições ideais para colocar esse novo posicionamento na rua, e sim acreditar que o trabalho é adequado, estratégico e coerente. Para isso, é fundamental estar bem assessorado.

Conforme Paulo Silva, faturamento do e-commerce no país deve dobrar nos próximos cinco anos

Conforme Paulo Silva, faturamento do e-commerce no país deve dobrar nos próximos cinco anos

“As lojas serão centros de relacionamentos”

Especialista em transformação digital, o CEO do Walmart.com do Brasil, Paulo Sérgio Silva, falou sobre os desafios para os negócios diante do avanço das compras on-line. Segundo ele, o mercado de varejo pela internet está em franco crescimento e deve dobrar nos próximos cinco anos.

No caso do Walmart.com, aponta, são mais de cem milhões de encomendas todos os anos. Para ele, se as empresas do Vale do Taquari têm alguma ideia ou interesse em ingressar no comércio on-line, este é o momento certo para fazer.

Conforme Silva, o Brasil é um dos países com maior possibilidades de crescimento no e-commerce, mas ressata que o ingresso no mundo on-line não deve representar uma extensão da loja física.

“Walmart.com é 100% independente das lojas físicas, porque a empresa queria ser diferente e para isso é preciso uma cabeça totalmente digital” destaca. Segundo ele, para ter sucesso no on-line, é necessário pensar no valor do propósito desse consumidor sob o ponto de vista digital.

“Se hoje isso já é difícil, daqui três anos, talvez seja impossível, pois as novas gerações nasceram na era digital”, alerta. Nesse sentido, ressalta a importância de buscar sempre compreender e oferecer a melhor experiência ao consumidor.

O potencial brasileiro atrai a atenção dos grandes conglomerados do comércio eletrônico, como a Amazon. Para se ter uma ideia da relevância da concorrente norte-americana, o palestrante lembra que no ano passado a empresa faturou US$ 1 bilhão em compras de brasileiros que receberam as encomendas em hotéis dos Estados Unidos.

De acordo com Silva, a abrangência do comércio eletrônico faz com que todas as empresas queiram surfar nessa onda. O desafio, aponta, é que descobrir como será esse comércio nos próximos 20 anos da internet.

“Eu conheço o mercado faz duas décadas e não tivemos mudanças nem nas interfaces nem nas formas de atuação dos negócios”, alerta. Além das mesmas estruturas, ressalta, o corpo de profissionais da área segue inalterado.Conforme Silva, o grande desafio é estabelecer um modelo de negócios sustentável diante dos novos comportamentos dos consumidores. Segundo o palestrante, a mudança provocada pela internet requer também uma nova forma de trabalhar a matriz industrial.

Estratégia para os pequenos

Uma das mudanças no mercado de e-commerce nacional é o chamado market place. Por meio dessa modalidade, pequenas empresas denominadas sellers utilizam as plataformas de grades redes como o Walmart para vender seus produtos sem a necessidade de grandes investimentos em tecnologia da informação.

Alega que essa modalidade mostra um pouco de como será o comércio do futuro. Segundo ele, as lojas físicas não vão acabar, mas terão outro papel, o de serem grandes praças de convivência entre as pessoas e as marcas.

[bloco 7]

Para Silva, todos os interessados em abrir uma loja devem pensar em criar um novo conceito. Segundo ele, em alguns casos, não é preciso nem mesmo ter um estoque, e sim criar um ambiente de relacionamento com o consumidor.

Colaboradora da Cooperativa Sicredi, Liviane Bald acredita que o painel pode trazer boas ideias para os empreendedores da região seguirem inovando e se atualizando para acompanhar o mercado. Segundo ela, eventos como o fórum ajudam o Vale do Taquari a continuar sendo destaque em empreendedorismo.

Perguntas e respostas

Como fazer com que a corporação compreenda o e-commerce como algo necessário e não algo que atralha os demais canais estabelecidos?

Paulo Sérgio Silva – Quem demorar demais talvez tenha mais problemas para sobreviver. Nós somos uma das maior empresas do mundo em faturamento e meu concorrente que fatura 1/6 do que o Walmart vale duas vezes o valor da minha companhia. Provavelmente em anos anteriores alguém deve ter pensado em abandonar a estratégia digital. Não existe mais comércio eletrônico, e sim comércio. As pessoas podem estar na loja e comprando pelo celular. Hoje as pessoas não fazem mais distinção, desde que recebam os produtos em casa.

Cancelada às vésperas do evento, palestra de José Ivo Sartori foi substituída por debate

Cancelada às vésperas do evento, palestra de José Ivo Sartori foi substituída por debate

Como o comércio eletrônico interfere na oferta de empregos nas lojas físicas?

Silva – As 30 profissões dos próximos cinco anos sequer foram inventadas. Quando se fala em colaboradores, temos que pensar que certamente algumas posições deixarão de existir porque o mundo está mudando. Para deixar um legado social para os trabalhadores, o poder público tem que começar a criar polos de tecnologia para formar cabeças voltadas para o ambiente digital. Mesmo ser contador na era digital é diferente. O que devemos deixar é a formação de novos talentos capazes de se adaptar às mudanças rápidas do mundo contemporâneo.

Gestão diante dos imprevistos

Em substituição à palestra do governador José Ivo Sartori, foi realizado um debate sobre gestão em tempos de dificuldades. Mediado pelo diretor-geral do A Hora, Adair Weiss, o painel teve participação dos presidentes da Girando Sol, Gilmar Bourscheid, do Sescon-RS, Diogo Chamum, da Dália Alimentos, Gilberto Piccinini, do reitor da Univates, Ney Lazzari e do prefeito de Lajeado, Marcelo Caumo.

1

Como enfrentar os imprevistos no dia a dia de uma empresa?

Gilmar Bourscheid – Na Girando Sol, passamos por algumas adversidades de 2014 para cá. Vinhamos em um grande crescimento e construímos uma nova planta, com 22 mil metros quadrados, e a economia começou a andar para trás. Nós refizemos nosso planejamento, procuramos pessoas competentes e inteligentes para nos assessorar a fazer um bom fluxo de caixa, uma revisão dos nossos estoques e pensamos em maneiras de nos aproximar ainda mais dos nossos clientes, pois são eles que pagam nossas contas. Junto com isso, começamos a fazer um trabalho de corpo a corpo. Nós decidimos ficar juntos com nossos clientes, apoiando suas ideias de inovação, para que eles encontrem um modelo capaz de retomar os negócios. Também fizemos mudanças internas na indústria, adequamos nossa contabilidade de forma a ter uma consistência de informação do negócio para tomar decisões com base em informações, indicadores e números precisos. Acreditamos que a eficiência e o bem-estar do cliente vão alavancar o nosso negócio.

2

Como a Dália projeta seu crescimento sendo uma cooperativa que trabalha com muitos pequenos negócios que foram afetados pela crise?

Gilberto Piccinini – Vivemos uma crise política no país com impacto na economia. Ao longo dos anos, aprendemos que precisamos nos preocupar com a crise nos momentos de euforia. Estar preparado é deixar uma margem de reserva para momentos de dificuldade. Mas a cooperativa tem uma abrangência de 128 municípios e tem o desafio de crescer no mercado de alimentos e ao mesmo tempo concorrer com os grandes conglomerados nacionais e internacionais do setor. As oportunidades existem, independente de crise. Para cada notícia ruim, precisamos de duas novidades positivas. Nós readequamos o planejamento, com foco na adequação de custos e inovação. Não adianta falar em inovação, tem que agir. Estamos fazendo o maior investimento da história da cooperativa em avicultura, mas com inovação. Essa estratégia de inovar em todos os negócios da cooperativa repassamos para os produtores. Fácil não é, mas sabemos que as experiências de uma crise servem para fazer os ajustes necessários.

DSC_0295

Como podemos melhorar nosso processo educacional e como nós, empresários, podemos aproveitar melhor a universidade?

Ney Lazzari – Vivemos um período de grande avanço tecnológico. Tudo o que ouvíamos falar há dez, 15 anos está acontecendo agora. A área de saúde mudou totalmente, assim como os planos do setor. Dizem que os planos de saúde são insustentáveis em função do custo da tecnologia. Os contadores e a contabilidade como conhecemos estão com os anos contados. A função do contador será outra, muito menos braçal e muito mais intelectual. Nós estamos formando gente para esse mundo em que algumas profissões não vão existir mais. Tudo está mudando, mas a sala de aula não muda no mesmo ritmo, e na Univates não é diferente. Estamos em uma discussão intensa sobre currículo e sobre o que fazer com isso tudo. Não há uma resposta pronta.

4

Isso que a universidade faz, de pensar e analisar o futuro, ocorre nas nossas empresas?

Diogo Chamun – Quanto mais se planeja, menos se erra. Quanto maior o tempo gasto no planejamento, menor o gasto na execução. Isso não ocorre na maioria dos casos, mas deveria. Precisamos evoluir muito e não tem outro caminho. Neste momento de crise que vivemos, apesar de vislumbrarmos uma tímida melhora na economia, talvez demore uma década para alcançarmos os patamares de três anos atrás. Tem que enfrentar esse buraco com criatividade, na busca de novas receitas, alternativas, e de gestão. Para aumentar a receita, temos que trabalhar com criatividade, buscando parcerias estratégicas. Também precisamos reduzir custos. Se tivermos processos fragmentados com re-trabalho, nosso custo aumenta. O conservadorismo perdeu a vez. É preciso trabalhar a gestão, em processos aliados à tecnologia.

C3OF3939

Como gerir o Executivo de forma a promover gestão no poder público?

Marcelo Caumo – O poder público é a mais vulnerável das instituições porque pode dar uma guinada de pensamento a cada quatro anos. Defendemos a importância do planejamento a longo prazo, por isso, o projeto Lajeado 2040, no qual a prefeitura é apenas mediadora. O projeto brota da sociedade e a universidade tem sido grande parceira. Essa gestão não compete à prefeitura, queremos que seja feita pela comunidade, pela universidade e demais instituições. A prefeitura coloca à disposição da comunidade o seu banco de dados, com todas as informações. Nós estamos trabalhando para deixar o nosso território preparado para aproveitar as oportunidades, e a tecnologia é o ramo mais tentador, porque acaba influenciando em todas as cadeias produtivas de todos os municípios. Estamos preparando nosso território para isso, mas todos os municípios precisam estar preparados para quando surgirem as oportunidades.

Thiago Maurique: thiagomaurique@jornalahora.inf.br

Acompanhe
nossas
redes sociais