A exposição “Intitulado Gracejos em 1º Ato” nasceu há cerca de dois anos, mas ficou ainda mais atual com o passar do tempo. Provocando a reflexão sobre a forma como a maioria da população consome arte, o artista Thales Feijó usa da metalinguagem e do jogo de palavras dos títulos para estimular a fruição.
Segundo o Feijó, o objetivo é mexer com contextos, mostrando como um objeto ganha novo sentido quando inserido em uma galeria – caminho aberto por Marcel Duchamp, com seu famoso mictório. Para isso, os nomes das obras foram elaborados com base na provocação. Portanto, os títulos também são parte fundamental da composição.
Uma ervilha em um prato, ladeado de garfo e faca, se chama “Ervilha suicida”. Outra é um livro antigo, cujo nome da obra diz ‘O título está escrito ali, é só ler’, indicando que o nome do próprio livro é o título da peça. “A exposição trabalha uma reflexão entre o título e a obra; o quanto são dependentes um do outro.”
Ele explica que a mostra também é carregada de nostalgia. Usou muitos objetos antigos de família, justamente para tentar criar uma conexão com um público que geralmente não frequenta galerias. Ele acredita que ao optar por objetos do cotidiano, como fotos, louças e móveis, é mais fácil aproximar o espectador da arte conceitual. Uma cadeira apoiada em um suporte, intitulada “Te senta”, foi trazida da casa do avô.
Ainda na onda da repercussão do cancelamento da exposição “Queermuseu”, em Porto Alegre, que gerou um amplo debate entre especialistas e leigos acerca do conceito de arte, duas das peças de Feijó ganham peso especial. Uma tela abstrata intitulada “Qualquer um faz isso” é colocada ao lado de um desenho realista que retrata o próprio Feijó, feito por um artista de rua, intitulado “Não é qualquer um que faz. Foi um cara na praça”. “Às vezes, as pessoas que dizem que qualquer um faz nem tentam se envolver com a obra, por isso, preferem algo figurativo. É uma tela que critica muito isso”, comenta.
O próprio cartaz da exposição consiste em uma peça e também em um trocadilho visual. A referência é o logo da Bienal do Mercosul – dois pontos de interrogação na vertical, um normal e um invertido, que compartilham o mesmo ponto. Feijó colocou o símbolo na horizontal e transformou o ponto em um nariz de palhaço e os sinais de interrogação em bigode.
Saiba mais
O quê: Exposição “Intitulado Gracejos em 1º Ato”
Quando: de 3 a 19 de outubro, das 8h às 22h (de segunda à sexta), das 8h ao 12h (sábado)
Onde: prédio 3 da Univates
Quanto: gratuito
Gesiele Lordes: gesiele@jornalahora.inf.br