A palestra do designer Marcelo Rosenbaum foi uma das atrações mais esperadas da 8ª edição da Construmóbil. Cerca de 350 pessoas prestigiaram o evento. O profissional apresentou o trabalho desenvolvido com o projeto A Gente Transforma, uma proposta de resgate cultural e de transformação social.
A iniciativa envolve equipes multidisciplinares de forma colaborativa e promove a valorização dos saberes das comunidades simples e atreladas à natureza. O trabalho inicial nasceu em Várzea Queimada, uma ação que nasceu no formato de uma startup.
Durante a noite, o Espaço Café teve música ao vivo aos visitantes. Segundo o presidente da organização, Marcos Mallmann, a intenção da reta final é centralizar o foco nos negócios.
A 8ª edição da Construmóbil espera superar os 20 mil visitantes até o fim da tarde de domingo, último dia do evento. Segundo Mallmann, a expectativa é receber visitantes do Vale e de outras regiões do estado.
Mostra aproxima público de ambientes
A Mostra de Arquitetura e Design, localizada no pavilhão 3, reúne espaços criados por 18 arquitetos e apresenta diferentes espaços que interagem entre si. O local foi concebido de forma colaborativa com a coordenação da arquiteta Marta Peixoto.
A arquiteta de Arroio do Meio, Juliana Gasparotto, participa pela primeira vez da feira. Ela apresenta o espaço dos Amigos e do Churrasco. “A proposta do ambiente é preparar um lugar que possamos receber os amigos com uma mesa legal, bem posta e ter todos os equipamentos para preparar um bom churrasco.”
Refrigerador, adega, cervejeira, bancada com pia, apoio de fogão e churrasqueira são parte dos itens que compõem o espaço. “Tentei fazer um ambiente descontraído e aconchegante utilizando bastante madeira, um material que está muito presente na nossa tradição, mas também misturando com materiais atuais e contemporâneos como os armários em grafite, porcelanato e uma composição com iluminação.”
Na avaliação dela, a Mostra garante oportunidade para compreender as possibilidades e criações obtidas a partir do trabalho dos arquitetos.
Ponto para confraternização
Além de oportunidade para fechar negócios, a Construmóbil é um local para confraternizar com amigos. Uma das atrações é o Espaço Gourmet. O ponto foi criado pela gerente de criação da empresa, Andrea Zysko. De acordo com ela, o local foi concebido trazendo os aspectos que caracterizam a cerveja artesanal.
“O processo da cerveja envolve a maior mão-de-obra possível. Todos os móveis foram projetados pela equipe interna de criação e executados internamente na oficina.”Os móveis tem o mínimo de tratamento químico possível e o máximo de reaproveitamento.
A procura pelo espaço foi satisfatória. Até a noite de quinta-feira, mais de 350 litros de cerveja artesanal foram consumidos. O organizador de eventos, Rodrigo Britzke, disse que o espaço lotou na noite do terceiro dia e a expectativa é de ampla visitação neste fim de semana.
O espaço gourmet fica aberto em horário diferenciado e atende o público até a 1h deste domingo.
Entrevista
“Temos responsabilidade em cada processo”
O design Marcelo Rosenbaum apresentou a experiência do projeto A Gente Transforma. Uma iniciativa que resgata as raízes culturais, os saberes coletivos e individuais e transforma as sociedades. A proposta é desenvolvida nas regiões norte, nordeste e sudeste do país e no Peru e agrega valor ao artesanato e outras formas de manifestações da cultura dos povos.
A Hora – Como foi criado o projeto A Gente Transforma e como é desenvolvido?
Marcelo Rosenbaum – O projeto é uma abordagem de transformação social. Usamos o design como ferramenta de mudanças nos processos e nas formas de relação social. Isso ocorre de forma coletiva e colaborativa por meio de uma troca dos saberes ancestrais. Trabalhamos com três pilares: a ancestralidade, beleza e sustentabilidade. Quando você reconhece a ancestralidade, a partir da beleza, como um saber valorizado ele vira uma economia criativa. Se reconhece o conhecimento formal, mas não se valoriza os saberes das pessoas da terra, que cuidam da natureza e trazem a formação da própria vida. A proposta é valorizar aquele saber que sempre foi negado e está presente neste país profundo.
De que forma é valorizado o trabalho dessas comunidades?
Rosenbaum – Essas pessoas não tem noção do valor que seu conhecimento tem. Elas são guardiãs da cultura. A partir dos encontros, valorizamos e fazemos essas comunidades se reconhecerem. Com isso criamos sustentabilidade, tanto para eles como para a população. Essa proposta transformamos a vida dessas comunidades que estão esquecidas e as formas de consumo.
Esse modo de agir deve ganhar espaço no futuro?
Rosenbaum – Elas já são tema de debate hoje. Os mecanismos de transformação social, talvez não sejam tão sedutoras, diante de todas as desgraças. As pessoas ainda preferem ouvir tudo que está dando errado do que as boas iniciativas. Tem várias experiências em desenvolvimento e nichos de atuação. Esse é um grande movimento que não tem mais volta. Existe uma economia baseada no dinheiro e na força que ainda segura o modo tradicional de consumir e fazer as coisas. Existem grupos que não tem interesse em romper este modelo.
Existe alguma iniciativa na Região Sul? Tem planos de expandir?
Rosenbaum – Infelizmente ainda não. O A gente Transforma, é um movimento constituído em etapas. Um projeto caro que requer a participação de vários parceiros e instituições fornecendo apoio para ter continuidade.
Cássia Paula Colla: cassia@jornalahora.inf.br