Casos de racismo se repetem

Vale do Taquari

Casos de racismo se repetem

Pelo menos três situações de injúria racial foram registradas nesta semana. Entre elas, um haitiano foi ofendido no trabalho

Casos de racismo se repetem
Vale do Taquari

O preconceito contra pessoas negras é frequente na região. Entre domingo e quarta-feira, três casos vieram à tona. Dois deles foram levados à polícia. Os acusados responderão pelo crime de injúria racial. O outro foi relatado por pessoas que presenciaram o fato, mas preferiram não levar o caso adiante.

O último deles aconteceu na quarta-feira à tarde, por volta das 14h, quando um haitiano, funcionário do depósito de uma indústria, foi chamado de “macaco” por um colega de trabalho. Conforme a ocorrência registrada na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA), o caso foi no setor de carregamento de caixas, e diversas pessoas presenciaram.

O estrangeiro afirmou que não havia motivos para o xingamento, e se ofendeu também pelo colega não pedir desculpas. A orientação para o BO partiu da empresa, que preferiu não se pronunciar. O caso estaria sendo resolvido internamente, e o contato com a vítima não seria possível.

O outro fato, também registrado no dia 27, aconteceu em uma loja de Lajeado. Um cliente teria se negado a ser atendido por um funcionário. Quando questionado do motivo, teria indicado a cor da pele. Não foi feito registro na polícia, e o funcionário preferiu não se manifestar. Apenas disse que não gostava de tocar no assunto.

O menos recente dos três fatos aconteceu no domingo, em Poço das Antas, durante a partida entre Guarani Mirim, de Lajeado, e Assespe, de Venâncio Aires, pela categoria aspirante do Regional Aslivata. Um atleta do Guarani, de 17 anos, morador de Lajeado, teria sido chamado de “macaco” pela mãe de um dos jogadores do time adversário.

Edimilson Rosa Gomes, o “Tuto”, pai da vítima, denunciou o caso na DPPA, e representou criminalmente contra a torcedora, que responderá por injúria qualificada. Conforme publicado no A Hora de terça-feira, ele afirmou que não quer punir a equipe adversária, mas impedir que novos casos voltem a acontecer.

Injúria racial

Crime contido no Código Penal é caracterizado pela ofensa à honra de alguém, quando o acusado se vale de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem. Resulta em pena de reclusão de um a três anos e multa.

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Preconceito naturalizado

Para a historiadora e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento da Univates (PPGAD), Karen Daniela Pires, o preconceito visto em nossa região tem origem no movimento escravista, registrado em pelo menos dois municípios do Vale: Taquari e Estrela.

Ela considera que, apesar da Lei Áurea ter sido assinada há mais de cem anos, as pessoas ainda carregariam consigo os vestígios desse período, em que negros eram vistos como itens sem valor, que não tinham valor moral perante a sociedade.

Situação retomada com retrocessos vividos hoje no Brasil, com a ascensão de movimentos conservadores, e perpetuação da desigualdade social, em que os negros estão na escala mais baixa. “Vivemos mais de 300 anos de escravidão, e é algo que ainda não conseguimos ultrapassar. Ainda há uma elite econômica, e a maioria das pessoas, inclusive as negras, vivem na pobreza.”

Estima-se que hoje 2,4% da população do Vale é negra. O que, para Karen, é um um número representativo, mas que seria deixado de lado tanto pela presença do movimento escravista quanto pelo fato de essas pessoas viverem em áreas periféricas. “Estão invisíveis para muitos”, aponta.

A exaltação das etnias alemã e italiana, como responsáveis pela riqueza da região, também seria propulsoras desse preconceito. “É como se os negros não tivessem feito parte disso. E essa diferenciação acaba sendo naturalizada, fazendo parte das piadas e rodas de conversa.”

Outros casos de racismo que geraram repercussão no Vale

20 de agosto de 2017: atleta do Rudibar, de Bom Retiro do Sul, Jeferson Quaresma Correia, o “Jefu”, teria sofrido insultos racistas durante a partida contra o 7 de Setembro, em Capitão, pelo pelo Regional Aslivata. O atleta denunciou o caso como injúria qualificada consumada – racismo.

27 de abril de 2014: Ezequiel Alves, na época jogador do Internacional de Conservas, acusou uma torcedora do Nova Berlim, de Canudos do Vale, de chamá-lo de macaco durante uma partida do Campeonato Municipal de Futebol Amador de Lajeado. Ela foi denunciada por injúria racial.

Carolina Chaves da Silva: carolina@jornalahora.inf.br

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