A forma como certas personalidades contemporâneas do Brasil avaliam a decisão do STF contra o senador, Aécio Neves, sintetiza boa parte do nosso cenário político-social. O tucano foi afastado do Senado e “condenado” a ficar em casa à noite: “Recolhimento domiciliar noturno”. Se essa punição fosse aplicada, por exemplo, ao ex-presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, a Fiesp trancaria a Paulista. Mas…
Eu votei em Aécio Neves na eleição passada. E se me perguntarem como me sinto, não titubearia em afirmar que minha vergonha deva ser maior do que a vergonha de quem apostou na candidata apoiada pela quadrilha do PT. Se eu pudesse voltar no tempo e precisasse – necessariamente – escolher entre os dois erros, teria errado de outra forma. Teria votado em Dilma Rousseff.
Erraria meu voto pois não tenho dúvidas, a partir dos elementos verificados no âmbito da Lava-Jato e delações premiadas, que o pior e mais perigoso bandido ou a mais ameaçadora quadrilha é aquela pouco ameaçada pelos órgãos da Justiça e muito acobertada por “grandes” pensadores e meios de comunicação. É mais discreta. Não erraria, por exemplo, a data de um documento fraudado.
E, diante disso, a mensagem natural levada ao público após a decisão do STF sobre Aécio foi um escracho: “Menos mal”. Ou “Melhor do que nada”.
Foi essa a reação espontânea de quem tanto prega a tolerância zero. De quem cresceu em cima do discurso anticorrupção. De quem fez – e faz – carreira batendo em partidos que não sejam o PSDB de Aécio e seus parceiros – ou comparsas. Foi essa, também, a pífia indignação diante da impunidade por parte de quem, até meados de 2015, estava nas ruas bravando “por um país livre da corrupção”.
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Aécio deve ser preso. Mas votaram contra o pedido de prisão – feito pela Procuradoria-Geral da República – os cinco ministros da 1ª Turma do STF – Marco Aurélio Mello (relator), Alexandre de Moraes, Luis Roberto Barroso, Rosa Weber e Luiz Fux. Em relação ao pedido de afastamento do mandato, só Marco Aurélio e Moraes votaram contra, garantindo – “menos mal”, segundo os paladinos – a saída momentânea do neto de Tancredo.
É pouco! Diante das provas documentadas de recebimento de dinheiro ilícito, é muito pouco. Lula, por exemplo, foi condenado à prisão em primeira instância. Nove anos e meio pelas acusações sobre o triplex do Guarujá. E vem mais. Até recibos com datas inexistentes foram apresentados pela defesa do ex-presidente, alimentando ainda mais a inevitável derrocada do ainda líder petista.
“Menos mal”? “Melhor do que nada”? Não. Esses mesmos que balançam os ombros para o escracho do STF diante das graves acusações contra Aécio acham pouco. Querem ver Lula apodrecendo na prisão. Muitos, tenho certeza, não ficariam chocados diante de uma condenação brutal, em praça pública. Um enforcamento, talvez. E não, eu não estou exagerando.
Eu não desejo a morte em praça pública de Lula e tampouco do ainda senador Aécio, é claro. A prisão lhes basta. Eu só espero um sentimento de indignação mais forte por parte de quem gasta tanto tempo cobrando a justa prisão do petista. É o mínimo que devemos fazer para evitar a fuga de bandidos.
Até porque a decisão sobre o futuro jurídico do tucano ainda está em aberto. E até porque, do outro lado, os fanáticos petistas também deixam a desejar quando o assunto é reavaliar a própria casa e evitar a impunidade.
Desarmonia na câmara de Lajeado
A mesa diretora da Câmara de Vereadores de Lajeado está em ruínas. Em tese, graças à decisão particular do presidente, Waldir Blau (PMDB), de lançar licitação para gastar até R$ 200 mil em projetos suplementares para a nova sede da câmara. Como resultado desse enrosco, pode haver mudanças na formação da chapa em 2018. Mariela Portz (PSDB), hoje secretária, pode desistir do cargo de presidente.
Leandro Vuaden quer ser prefeito
Nos bastidores estrelenses, é forte a sensação de que o árbitro de futebol vai concorrer a prefeito em 2020. Inicialmente, dizem os comentaristas, Leandro Pedro Vuaden, do PR, deve buscar a Assembleia Legislativa em 2018, disputando votos com Valmor Griebeler, do PV. Os mais irônicos dizem que o juiz pretende dar um “cartão amarelo” na situação em 2018 e um vermelho daqui a três anos.
Alvoroço exagerado em Forquetinha
Pela forma como foi divulgado, parece uma epidemia. Mas é desinformação. Em termos relativos, Forquetinha de fato apresenta índice alto de suicídios: em torno de 75 por cem mil habitantes, enquanto a média nacional é de cinco por cem mil, ou 15 vezes menos. Mas não custa lembrar que a cidade tem menos de 2,5 mil habitantes.
Pela “régua” utilizada, um caso em Forquetinha equivale a 500 casos em Porto Alegre e a cinco mil em São Paulo. Número estatístico relativo é uma coisa. Número absoluto é outra história. E os números apresentados são muito ingênuos.
O assunto é muito mais sério do que essa pesquisa sensacionalista. E se, por si só o tema já é delicado, falar de forma leviana é pior.
Tiro curto
– Em Cruzeiro do Sul, contribuintes estão desconfiados de uma construtora lajeadense, contratada sem licitação para ceder servidores em áreas distintas da construção civil. No acordo, quem assina pela empresa é um servidor concursado da prefeitura de Lajeado;
– Também em Cruzeiro do Sul, lojistas reclamam das feiras itinerantes, que devem voltar no Natal, com aval de agentes públicos do alto escalão do governo;
– Como de praxe, o único deputado da região, Enio Bacci, esteve ausente da abertura da Construmóbil, em Lajeado. Segundo a assessoria dele, em função da sessão plenária;
– Rafael Mallmann (PMDB), prefeito de Estrela e presidente da Amvat, também não esteve na abertura da feira de negócios lajeadense nessa terça-feira. Da mesma forma, o gestor de Lajeado, Marcelo Caumo (PP), não participou da Multifeira estrelense no início do mês. Malmann está na região. Já Caumo estava em Cancún, onde a mulher foi madrinha de casamento;
– O governador do RS, José Ivo Sartori (PMDB), volta a parcelar salários. E tenta amenizar a patuscada com o pagamento integral para quem recebe menos. Pura politicagem;
– Em Arroio do Meio, o estacionamento rotativo – inicialmente gratuito – será ampliado até dezembro. De acordo com a Comissão de Mobilidade Urbana, a mudança garante quatro mil veículos utilizando as 500 vagas durante o dia, levando em conta o tempo máximo de uma hora e 30 minutos;
– A câmara de Lajeado aprovou a Lei da Ficha Limpa para contratação de fornecedores pelo Executivo, com critérios distintos da legislação federal. Uma baita ideia. Já que a lei maior é branda, nada melhor do que o município dar o exemplo contra os corruptos. Boa quinta-feira a todos!
Impunidade gera negligência e irresponsabilidade, levando vidas.
Jean Michell